Porto Alegre e Capão da Canoa (RS) — Apesar do desejo do povo gaúcho de voltar à vida normal o mais rápido possível, seu desejo esbarra na realidade deixada pela destruição das enchentes. As toneladas de entulhos e resíduos, bens permanentemente inutilizáveis e imóveis com estruturas danificadas, espalhados pelos locais onde as águas baixaram, somam-se à infraestrutura de serviços públicos que voltam a funcionar, ainda que de forma precária. Ainda assim, a tristeza de ter perdido tudo dá lugar à resignação de reconstruir tudo (ou quase tudo) do zero.
Ontem, 22 escolas da rede municipal de ensino de Porto Alegre retomaram as atividades e mais 16 reabrem hoje. “Cerca de 50% dos nossos alunos retornarão às aulas normalmente. A retomada das aulas é fundamental para o aprendizado dos alunos e, da mesma forma, para o retorno ao cotidiano da cidade”, afirmou o secretário municipal de Educação, José Paulo da Rosa.
Segundo a prefeitura da capital, 99 unidades públicas e 219 parcerias foram afetadas pelas enchentes. Destas, 14 redes públicas e 12 redes públicas ainda estão total ou parcialmente inundadas.
Mas, apesar do esforço para voltar à normalidade, estima-se que 180 mil residências no Rio Grande do Sul ainda estejam sem energia elétrica, segundo dados das distribuidoras CEE Equatorial e RGE. A região mais afetada é a Região Metropolitana de Porto Alegre. O desafio, segundo as empresas, é reconectar a rede em um tempo razoável para que a vida caminhe rumo à normalidade.
Mas para isso, os técnicos têm de viajar por estradas precárias e inseguras. Segundo o último relatório da Defesa Civil, são 78 trechos com fechamentos totais e parciais em 47 rodovias.
Mas a religação da rede elétrica não depende da vontade das distribuidoras. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Militar deverão dar sinal verde, pois muitas galerias subterrâneas estão inundadas.
Na região metropolitana de Porto Alegre, a estimativa é de aproximadamente 40 mil residências sem água, segundo a Corsan, responsável pelo abastecimento de água no estado. Na capital gaúcha, das 24 estações elevatórias de águas pluviais espalhadas pela cidade, apenas nove funcionam — conforme garante a Secretaria Municipal de Águas e Esgotos (DMAE). A previsão é de que dois sejam reabertos hoje e mais um até quinta-feira.
No entanto, a restauração da infraestrutura poderá ser afetada pelas chuvas nos próximos dias — que, segundo a meteorologia, devem recomeçar amanhã. O nível do Guaíba pode voltar a subir: ontem passou de 4,24m para 4,32m em poucas horas, mas depois caiu novamente.
Aviso à prefeitura
O DMAE alertou o prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), sobre a iminência de enchentes. O documento foi divulgado ontem pelo deputado estadual Matheus Gomes (PSol). Segundo ele, após as enchentes de novembro de 2023, diversas bombas do sistema de drenagem da cidade precisaram de manutenção.
O documento, assinado por engenheiros da própria prefeitura, alerta o prefeito sobre o risco de alagamentos na cidade. “Há urgência na resolução dessa demanda para evitar o risco de alagamentos na área central de Porto Alegre, entre a Usina do Gasologista e a rodoviária”, diz o documento divulgado pelo parlamentar. O alerta apontou que o risco de inundações nos bairros de Porto Alegre seria causado pelo não funcionamento do sistema de drenagem da cidade.
E em todo o Rio Grande do Sul há 19 pessoas com diagnóstico de leptospirose e outras 304 com suspeita de infecção. A informação foi divulgada ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, que também confirmou a morte de um homem de 67 anos pela doença. O caso foi registrado na última sexta-feira no município de Travesseiro, no Vale do Taquari, onde outras três pessoas recebem atendimento médico pelo mesmo motivo.
Segundo a Defesa Civil do estado, as enchentes deixaram 157 mortos e 85 desaparecidos. Há 76.188 pessoas em abrigos, de um total de 581.633 desabrigados.
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