Recém-formada em publicidade, Maria* (*nome fictício) foi contratada em uma renomada empresa do ramo com apenas 23 anos. Certa de que sua carreira daria espaço para sua criatividade, a jovem acreditava que a oportunidade seria um divisor de águas em sua vida profissional, até que sua rotina de trabalho mudou drasticamente em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19.
Muitos de seus colegas foram demitidos para cortar custos e a pressão sobre seu trabalho aumentou. Trabalhar em casa, prazos apertados, reuniões virtuais intermináveis e a urgência de criar campanhas que repercutam em um público isolado tornaram-se a nova realidade.
Em meio ao caos, a agência exigia resultados, Maria se sentiu obrigada a se comprometer ainda mais com medo de perder a chance que sonhava. “Acordei preocupado e sempre ia dormir muito tarde. Nem tinha tempo de pensar se estava cansado, recebia ligações intermináveis quase a qualquer hora do dia. para não estragar tudo”, disse a jovem que não sabia, mas já apresentava os primeiros sintomas de algo que a acompanharia por muito tempo: a Síndrome de Burnout.
Declarada doença ocupacional desde 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Síndrome de Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico que pode decorrer de situações estressantes de trabalho que exigem muita competitividade ou responsabilidade.
De acordo com uma pesquisa da Harvard Business Review (2022), 50% dos trabalhadores da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) relataram que suas experiências de trabalho estão afetando sua saúde mental, e 75% disseram que desejam ver mais apoio de suas organizações em relação à saúde mental.
O relatório do Pew Research Center, publicado no mesmo ano, reforça este resultado. O estudo destacou que a faixa etária enfrenta pressões significativas relacionadas às expectativas de desempenho, segurança financeira e questões sociais, fatores que podem contribuir para o esgotamento.
On-line
Para Renata Figueiredo, psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, o fato da Geração Z ter nascido conectada e sempre imersa em dispositivos digitais dificulta separar o tempo de trabalho do tempo de descanso, principalmente quando se trabalha remotamente. “Isso gera cansaço e a sensação de estar sempre disponível. Além disso, esta geração cresceu num ambiente de critérios académicos e profissionais muito elevados, enfrentando uma pressão constante pelo sucesso, inovação e produtividade”, afirmou.
“Ao ingressar no mercado de trabalho, a Geração Z se depara com um cenário de incerteza, marcado por empregos precários, alta competitividade e demandas constantes de adaptação e atualização. gera frustração e esgotamento emocional”, complementou o especialista.
O trabalho que antes era emocionante tornou-se um fardo e Maria só percebeu que precisava de uma pausa quando já era tarde demais. A jovem procurou ajuda médica após travar completamente ao conduzir, a síndrome que apresentava sinais nos últimos meses atingiu o seu estágio máximo.
“Foi um momento estranho quando você percebe que não pode fazer nada. Eu poderia ter batido o carro porque simplesmente não conseguia prestar atenção em nada ao meu redor. muita coisa e eu fiquei desesperada queria sumir, queria sumir”, relatou a jovem.
Apoiada pelos pais e amigos, a publicitária procurou ajuda profissional e iniciou atendimento especializado com psicólogos e psiquiatras. Maria foi afastada do trabalho e assim que melhorou pediu demissão para não voltar aos velhos hábitos desgastantes.
Luzes vermelhas
A psicóloga Denise Milk explica que os sintomas iniciais do Burnout muitas vezes são ignorados e que podem ser emocionais ou até físicos e é preciso estar atento aos sinais de alerta. “Os principais sintomas referem-se à queda de produtividade, mal-estar, cansaço que não passa, distanciamento emocional e isolamento. Em alguns casos, também aparecerão sintomas físicos como dores de cabeça, dores nas costas, ansiedade. de pessoa para pessoa, mas esses sintomas tendem a ser os mais comuns”, destacou.
Denise explica ainda que quando a síndrome já está instalada é necessário apoio e atendimento especializado. Segundo a especialista, o tratamento é longo, mas é fundamental uma rede de apoio formada por amigos e familiares. “Tratar o burnout leva tempo e traz muito sofrimento à vítima. Cabe à empresa, à comunidade, à família, às pessoas ao seu redor oferecer apoio para que a pessoa possa se recuperar gradativamente”, aconselhou.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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