A confirmação de uma segunda morte por leptospirose no Rio Grande do Sul —em Venâncio Aires, já que a primeira ocorreu no município de Travesseiro— deixou em alerta as autoridades sanitárias federais e estaduais. Isso porque, além dos dois óbitos, há 33 registros de infecção pela bactéria e outros 23 casos estão em investigação. A lama podre que se acumula em locais onde a água recuou e a grande quantidade de detritos que se acumula em vários pontos do estado são habitats ideais para a propagação da doença.
A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul tem recomendado que as pessoas não retornem diretamente para suas casas nem reutilizem utensílios que tenham entrado em contato com as águas das enchentes. No primeiro caso, a recomendação é que, na limpeza do imóvel, não haja contato com lama e detritos — daí a recomendação de cobrir o corpo com roupas que não permitam a exposição da pele, principalmente dos pés e das mãos.
Colecionadores
No segundo, é porque as autoridades têm verificado que a população mais carenciada tem procurado utensílios que possam reaproveitar nas pilhas de lixo — como roupas, cobertores e colchões — bem como alimentos inúteis, deitados fora nos mercados. que estão sendo limpos após as enchentes. da enchente diminuiu. Nestes casos, tudo deve ser totalmente descartado.
“A doença tem alta incidência em determinadas áreas, além do risco de letalidade, que pode chegar a 40% nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às condições precárias da infraestrutura sanitária e à alta infestação de roedores infectados. promover a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos”, alerta a secretaria.
A leptospirose se soma a uma lista de doenças que as autoridades sanitárias vêm monitorando, como tifo, disenteria, gripe, pneumonia e outras doenças respiratórias, além da dengue — já que o mosquito transmissor tende a se reproduzir em águas sujas, principalmente agora que os dias alternam entre altas temperaturas do meio da manhã ao final da tarde e madrugadas geladas.
A chefe da vigilância epidemiológica do Rio Grande do Sul, Roberta Vanacor, chama a atenção para o fato de que a população deve ficar atenta aos sintomas da doença — como febre, dor de cabeça, dores musculares (principalmente nas pernas), falta de apetite e náusea ou vômito. Ela ressalta que o tratamento contra a leptospirose é eficiente e que as mortes ocorrem em decorrência da não adoção das medidas médicas necessárias.
Alexander Alberto Toni, especialista na bactéria leptospira, alerta para a letalidade da doença, que foi de 8,2% no ano passado e deve disparar este ano. O período entre a incubação da doença — ou seja, o intervalo de tempo entre a transmissão, a infecção no sistema sanguíneo humano — e a presença dos sintomas pode variar de um a 30 dias. Normalmente, ocorre sete a 14 dias após a exposição à lama ou água infectada.
Colapso
A saúde está sendo a área do serviço público mais afetada nos municípios que abrigam moradores de rua das enchentes que assolam o Rio Grande do Sul. Cidades do litoral norte do estado, que têm recebido muitas pessoas, chamam a atenção para a falta de medicamentos e insumos para atender quem procura ajuda.
“Foi um público inesperado neste momento, é uma emergência, uma calamidade e tivemos que nos adaptar. Somos solidários, acolheremos a todos. Mas levamos para a Secretaria de Saúde do estado a necessidade que temos de maior utilização dos serviços”, alertou o presidente da Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte), João Marcos Bassani.
Os secretários de alguns municípios da região temem que a situação entre em colapso rapidamente. “Estamos recebendo muita gente. Eles vieram para a casa de amigos e, com isso, a procura pelos serviços de saúde cresceu. Estamos atendendo cerca de 400 pessoas por dia nas farmácias municipais, quando o número normal é de 250”, relata. Patrícia Ramos, secretária de Saúde de Imbé, que já recebeu cerca de 5 mil pessoas por conta das enchentes.
Tal cenário não é novidade. Em conversa com o Correio na semana passada, o secretário de Saúde de Capão da Canoa, Tiarlin Abling, “implorou ao estado” que fornecesse mais medicamentos. Ele afirma que a 18ª Coordenadoria Estadual de Saúde enviou uma “pequena carga” de insumos hospitalares, o que evitou o colapso da cidade. Mas ele classifica a situação como “ruim”.
*Estagiário sob supervisão de Fabio Grecchi
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