Em meio à polêmica sobre o uso do fenol em procedimentos estéticos e à possibilidade de complicações graves, a comunidade médica defende os resultados do produto químico. O Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Dermatologia e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica protocolaram pedido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pedindo o fim da suspensão do uso do fenol no país.
A venda do produto está proibida desde junho deste ano, após a morte de um homem de 25 anos que sofreu parada respiratória durante procedimento de peeling em uma clínica de estética em São Paulo. A Anvisa afirma que a proibição é necessária, pois o caso ainda está em fase de investigação, e que está analisando as evidências sobre os perigos e benefícios do produto.
O fenol, um produto químico cáustico, é frequentemente usado por dermatologistas em peelings químicos profundos para tratar rugas, manchas e cicatrizes. Contudo, devido à sua toxicidade e riscos associados, a sua utilização sempre foi alvo de cautela por parte dos profissionais de saúde.
Para o Correspondênciaa empresária Tatiana Rodrigues Silva, de 47 anos, fala sobre a experiência traumática que teve ao realizar o procedimento de peeling com o produto em 2017. “Sinto que preciso alertar algumas pessoas sobre fazer procedimentos na pele sem antes saber o que vai acontecer. ser feito e os produtos a serem utilizados”, alerta.
Segundo Tatiana, ela confiou em uma pessoa que não conhecia bem para realizar o procedimento, o que resultou em uma série de complicações. “Tive uma reação alérgica gravíssima. Hoje, preciso usar óculos por causa do inchaço nos olhos, e uso aparelho nos dentes, pois eram frágeis na época”, conta.
A empresária revelou ainda que, devido aos fortes medicamentos que precisou tomar durante um ano, acabou perdendo um rim que já estava atrofiado desde o nascimento. Apesar de tudo, ela preferiu não processar o responsável pelo procedimento.
A mestre de cerimônias Elke Pimentel, 45 anos, usou fenol apenas na região dos olhos. Segundo ela, o processo de cicatrização foi o mais doloroso. “No dia em que foi aplicado inchou muito, meu olho estava vazando água, estava irritado e tinha uma crosta ao redor do olho. É um pouco desconfortável porque é uma ferida exposta. A pele onde o fenol gruda fica em carne viva”, ele diz. Mesmo com a recuperação complicada, ela afirma que faria o procedimento novamente.
Segundo a Anvisa, até o momento não existe nenhum produto à base de fenol especificamente regulamentado para uso em peelings. “A proibição aplica-se exclusivamente ao uso estético e não interfere em outras aplicações médicas ou laboratoriais devidamente regulamentadas”, informa a entidade. Existem alguns produtos que contêm fenol e ainda têm uso permitido em laboratórios analíticos e de análises clínicas, desde que devidamente registrados.
Controlar
Mesmo diante de polêmicas, muitos profissionais de saúde defendem o uso controlado da substância em procedimentos estéticos, desde que sujeito à devida regulamentação e segurança. A conselheira federal do CFM, Dra. Yáscara Pinto, destaca os benefícios do peeling de fenol.
“O fenol é um dos métodos mais eficazes no tratamento do envelhecimento cutâneo e de cicatrizes profundas, apesar dos riscos associados. Portanto, deve ser realizado rigorosamente por médicos habilitados, utilizando protocolos reconhecidos e em local com estrutura necessária para procedimentos invasivos com segurança” , ele afirma.
Ela afirmou que as entidades estão em diálogo com a Anvisa para encontrar formas seguras de regular o fenol para uso médico. “Apesar das vantagens do peeling de fenol, ele deve ser utilizado de forma segura, criteriosa e com acompanhamento médico devido à toxicidade do componente ativo e possíveis complicações pós-peeling”, reforça.
A agência reguladora ainda não deu prazo para a conclusão das investigações envolvendo o fenol. A expectativa é que o debate sobre a regulamentação do peeling com a substância continue entre profissionais de saúde, associações e entidades reguladoras.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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