Estudo sobre Favelas e Comunidades Urbanas, baseado em dados do Censo 2022, revela um cenário crescente e preocupante: atualmente, 8,1% da população brasileira reside em áreas consideradas favelas, representando um aumento significativo em relação a 2010, quando 6% da população vivia nessas condições. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa mostra que a Rocinha, localizada na zona sul do Rio de Janeiro, se destaca como a favela mais populosa do país, com 72.021 habitantes e 30.371 domicílios. Logo atrás está Sol Nascente, no Distrito Federal, com 70.908 moradores e 21.889 domicílios. Em terceiro lugar, Paraisópolis, em São Paulo (SP), abriga 58.527 pessoas. O aumento da população nessas comunidades também se reflete na expansão do número total de favelas e comunidades urbanas identificadas pelo Censo. Em 2010, foram cadastradas 6.329 dessas áreas; Em 2022, esse número praticamente dobrou, chegando a 12.348. Juntas, essas comunidades abrigam hoje mais de 16,3 milhões de brasileiros.
A pesquisa do IBGE também aponta desigualdades regionais e características demográficas específicas nas favelas brasileiras. Entre as 20 maiores comunidades do país, oito estão na Região Norte, sete em Manaus (AM), indicando alta concentração na Amazônia, onde cerca de 34,7% da população amazonense vive em áreas de favela — a maior proporção entre as estados brasileiros. Em seguida, o Amapá tem 24,4% da população vivendo em favelas, e o Pará, 18,8%.
Outro dado importante é o perfil etário. A população da favela é mais jovem que a média nacional, com idade média de 30 anos, em comparação com 35 anos no país. Além disso, a taxa de envelhecimento é consideravelmente mais baixa nestas comunidades. Enquanto o Brasil tem 80 idosos para cada 100 crianças, nas favelas essa proporção é de 45 idosos para cada 100 crianças.
Em relação à diversidade racial, os dados mostram maior representatividade de pardos (56,8%) e pretos (16,1%) nas favelas em comparação ao total nacional, onde esses grupos representam, respectivamente, 45,3% e 10,2% da população. A proporção de brancos nas favelas (26,6%) é muito inferior à taxa nacional de 43,5%.
O economista e sociólogo Vinicius do Carmo lista três fatores para entender por que isso ocorre, mas todos os três derivam de um: a história da escravidão no Brasil. “Primeiro, o Brasil tem uma longa história de desigualdade racial. A população negra continua enfrentando discriminação e barreiras à educação, ao emprego e à moradia digna. Isso alimenta e resulta em uma maior concentração de pessoas negras em áreas vulneráveis, como as favelas”, descreve .
“Em segundo lugar, a juventude é uma faixa etária que muitas vezes enfrenta desafios significativos em termos de emprego e acesso aos serviços. Com barreiras de entrada no mercado formal, a formação de famílias jovens acaba tendo como alternativas a vida em favelas e comunidades urbanas”, aponta saiu Vinícius do Carmo. “E, por fim, as favelas e as comunidades urbanas também são espaços onde se desenvolvem identidades culturais e sociais específicas. Viver em comunidades predominantemente negras e jovens pode reforçar os laços sociais, mas também perpetuar ciclos de pobreza e exclusão”, aponta.
Infraestrutura
Outro ponto abordado pela pesquisa são as condições de infraestrutura e acesso a serviços essenciais. O levantamento indica a presença de 958.251 estabelecimentos nas favelas, sendo 7.896 de ensino, 2.792 de saúde e impressionantes 50.934 estabelecimentos religiosos.
As disparidades no acesso aos serviços básicos reforçam a importância das políticas públicas que visam a melhoria das condições de vida destas populações, que convivem diariamente com desafios económicos, sociais e de segurança.
Entre outras conclusões, o estudo do IBGE argumenta que a expansão das favelas e a presença crescente de jovens nesses territórios refletem a necessidade urgente de soluções que vão além da regularização fundiária. As favelas, historicamente marginalizadas, abrigam uma parcela crescente da população urbana e exigem políticas que integrem essas regiões à dinâmica das cidades, promovendo mais oportunidades e acesso a direitos básicos.
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