Padre Júlio Lancellotti realizou, na manhã deste domingo, 10, uma bênção especial à família de Ryan da Silva Andrade Santos, menino de 4 anos que morreu após ser atingido por bala perdida durante confronto entre militares Policiais e suspeitos, na noite desta terça-feira, 5, no Morro São Bento, em Santos, litoral de São Paulo.
A celebração aconteceu na Capela Universitária São Judas, no bairro da Mooca, em São Paulo, com transmissão ao vivo em diversos canais de mídia. A missa contou com a presença da mãe e dos irmãos de Ryan, além de ativistas de direitos humanos indignados com a atuação da PM no velório do menino, na última quinta-feira, dia 7. Na época, a presença de policiais militares foi vista como intimidação por familiares e criticada pelo Ouvidor de Polícia, Cláudio Aparecido da Silva, também presente na cerimônia religiosa.
O padre homenageou Ryan no início da bênção. “Por incrível que pareça, o pai de Ryan também foi morto pela Polícia Militar no início deste ano”, lembrou. “Uma coisa chocante, e estamos a viver uma violência descontrolada, uma violência estatal, uma violência daqueles que têm de proteger vidas, especialmente dos mais pobres, daqueles que foram abandonados pelo sistema socioeconómico-político em que vivemos”, acrescentou.
Lancellotti também citou a morte de Estella Oliveira, uma menina de 3 anos baleada na cabeça no mês passado, no Rio de Janeiro. “É uma violência institucionalizada contra os pobres, contra aqueles que não podem ser protegidos. A bala perdida sempre atinge os pobres e os negros, sempre atinge as pessoas periféricas. radar para onde ela deve ir”, continuou ele.
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O padre também registrou a presença de irmãos e amigos de Ryan. “Eles estavam brincando. Essas crianças vão carregar esse sofrimento por toda a vida. Ninguém vai conseguir explicar ou justificar, porque quem deveria protegê-las as matou. E ninguém mata por engano”, afirmou.
“Quem justifica a violência em nome de Deus está usurpando e usando o nome de Deus em vão. Não podemos legitimar esse conceito de segurança que é usado para justificar a violência. (…) Deus não criou Ryan para morrer tão cedo. do medo nos leva ao individualismo, à indiferença, a colocar a arma como mais importante que o brinquedo”, disse o padre em outro momento.
Na capela, havia um cartaz pendurado com a frase “chega de mortes policiais!”. Ao final da cerimônia, que durou cerca de 1h30 e foi repleta de muita emoção, Claudio Aparecido foi ao microfone para se solidarizar com a família de Ryan. “Não podemos mais conviver com tanta violência no Brasil”, disse ele, antes que balões brancos fossem espalhados pelo local e crianças exibissem cartazes pedindo justiça para o menino.
Investigação busca esclarecer origem do tiroteio
Na quarta-feira, 6, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que a morte de Ryan ocorreu após policiais reagirem ao serem atacados por um grupo de cerca de 10 suspeitos. Os agentes faziam patrulhamento em uma área de tráfico de drogas quando foram recebidos com tiros. A Polícia Civil abriu inquérito e determinou a perícia nas armas apreendidas no local para esclarecer a origem do tiro que matou a criança.
Outros dois adolescentes foram atingidos durante troca de tiros entre policiais e suspeitos. Um deles morreu. A ação também deixou uma jovem de 24 anos, vítima de bala perdida, com ferimento de raspão.
Na quarta-feira, entidades como a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto Sou da Paz, além de parlamentares, divulgaram comunicado exigindo a investigação do caso.
“É inaceitável que a gestão da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, bem como o comando da Polícia Militar de São Paulo, considerem a morte, especialmente de crianças, como um resultado aceitável da atuação das forças policiais “, diz trecho da nota, assinada por 13 entidades ou pessoas.
O texto divulgado pelas entidades nesta quarta-feira relembra outros casos ocorridos neste ano: “Em abril, em Paraisópolis (zona sul de São Paulo), uma criança de 7 anos ficou ferida no olho e perdeu a visão após ser atingida por um tiro durante uma operação da PM enquanto ia à escola Um mês antes, em março, Edneia Fernandes Silva, mãe de seis filhos, foi morta com um tiro na cabeça em uma praça de Santos, durante uma intervenção da PM no so. -chamada Operação Verão”.
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