O documento entregue a Lula segue as três prioridades de discussão determinadas pela presidência brasileira no G20: combate à fome, à pobreza e às desigualdades; sustentabilidade, alterações climáticas e transição energética justa; e reforma da governação global. O combate à fome é um dos principais temas levantados pelo Brasil nesta edição do G20, com a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada na segunda-feira.
“Eu disse que só conseguiríamos acabar com a fome quando transformássemos isso em uma questão política. Enquanto for apenas uma questão social, não será tratada com respeito. Precisamos de assumir responsabilidades e é isso que tentarei fazer ao entregar este documento aos países que aí estão. Os países que estão lá representam 80% do PIB mundial, o comércio, quase 2/3 da população mundial. Então, podemos fazer a diferença”, defendeu o presidente.
Criação do G20 Social
Durante seu discurso, Lula lembrou o período em que esteve preso, entre 2018 e 2019, e que isso o levou a querer fazer algo para mudar as “males sociais”.
“Quando saí da Polícia Federal, a primeira coisa que fiz foi procurar o Papa Francisco e o Conselho Mundial de Igrejas porque queria escrever um documento sobre a indignação e os males da sociedade. Num país temos um número enorme de pessoas que são tratadas como invisíveis, pessoas que o governo não quer ver, que aparecem nas estatísticas, todo mundo sabe que existem, mas são ignoradas no orçamento da prefeitura, do estado, os países. Por isso coloquei os três temas na agenda (do G20)”, explicou o presidente.
Lula lembrou ainda que participou da primeira reunião do G20 e que, ao longo dos anos, o encontro se consolidou como de extrema relevância internacional, mas sem participação social.
“Há 16 anos, desde a primeira Cimeira, o G20 consolidou-se como o principal fórum de cooperação económica global e como um importante espaço de concentração política. Mas a economia e a política mundiais não são compostas apenas por especialistas e burocratas, fazem parte do quotidiano de cada um de nós, ampliando ou estreitando as nossas oportunidades”, refletiu.
“Eu só poderia inventar o Fórum Social do G20 aqui no Brasil. Eu não poderia sugerir que outro presidente faria isso durante seu mandato. Fiquei pensando o que iríamos fazer para que a sociedade, em todos os países do mundo, pudesse assumir o trabalho de reforçar que as coisas realmente acontecessem para as pessoas, com as pessoas ajudando a decidir”, acrescentou.
Lula lembrou ainda que o Brasil sediará, no próximo ano, outros dois grandes eventos internacionais, o encontro do Brics, que ainda não tem local definido, e a COP-30, que será realizada em Belém, no Pará. “Todo mundo está falando da Amazônia, agora é hora da Amazônia dizer ao mundo o que queremos”, disse.
Presidência da África do Sul
Ao final deste G20, o Brasil entrega a presidência do grupo à África do Sul. Portanto, o país participou de grande parte das atividades desta edição. O país já se comprometeu a dar continuidade ao G20 Social.
“Tenho certeza que o presidente realizará um fórum social do G20 na África do Sul e espero estar presente para participar do G20 Social e do oficial. Este é um momento histórico para mim e para o G20. Ao longo deste ano, o grupo ganhou um terceiro pilar, que se somou aos pilares político e financeiro, o pilar social, construído por vocês. De forma inédita, os grupos de engajamento puderam interagir com chanceleres, ministros da Fazenda e presidentes de bancos das maiores economias do planeta”, defendeu Lula.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, estava agendado para assistir à cerimónia de encerramento, mas não pôde comparecer. O Ministro das Relações Internacionais, Ronald Lamola, representou o país.
“Estamos cientes das recomendações dadas pelas autoridades para a presidência do G20, incluindo os movimentos sociais. Observamos com interesse o apelo para trazer crianças e adolescentes para o G20. A crença em garantir a participação da sociedade civil é crucial. Um G20 inclusivo já não é uma opção, é uma necessidade. Parabenizamos o Brasil pela inclusão no G20 de favelas e outros grupos marginalizados que enfrentam fome e pobreza. Esta iniciativa ilumina aqueles que muitas vezes ficam para trás, para que a sua luta seja reconhecida. O verdadeiro progresso só acontece quando reunimos todos os membros da nossa comunidade”, disse Ramola, que também chamou a atenção para questões de financiamento.
“Queremos reverter o desequilíbrio em que o Sul global recebe apenas 3% do apoio financeiro para as alterações climáticas e o desenvolvimento. Acreditamos que o objectivo do milénio deve continuar a ser um padrão para os países em desenvolvimento e central para a rede do G20. Por esta razão, a África do Sul quer usar a sua presidência para criar um futuro a ser adoptado pelos líderes mundiais”, acrescentou o representante sul-africano, que terminou o discurso gritando por “Palestina livre”.
Também esteve presente o vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2011 e representante da sociedade civil internacional, Tawakkol Karman.
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