Quem costuma assistir a previsão do tempo em alguns dos principais telejornais brasileiros já percebeu: o mapa do Brasil ficou diferente. Ao longo da costa brasileira, a faixa de mar do país não se limita mais aos históricos 360 km, que ainda aparecem em alguns livros didáticos desatualizados. Em determinados trechos, como no entorno do arquipélago de São Pedro e São Paulo — a mil quilômetros de Natal —, o limite da área marítima sob responsabilidade do país já está mais próximo da África do que da própria costa brasileira.
Há duas décadas, a Marinha nomeou sob responsabilidade do Brasil esse novo e ampliado mundo de água salgada, que guarda muitas riquezas ainda desconhecidas pelos cientistas, de Amazônia Azul. O Dia Nacional da Amazônia Azul, comemorado em 16 de novembro, foi definido por lei em 2015, por ser a data de entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, da qual o Brasil é signatário. Quem passou pelo Congresso Nacional nas noites de sexta e sábado viu o prédio iluminado por canhões de luz azul.
A metáfora da Amazônia Azul é a inversão de outro, o “oceano verde”, como acaba sendo definida a Floresta Amazônica. Em 2004, o governo apresentou às Nações Unidas a primeira proposta de expansão do território marítimo brasileiro, baseada em pesquisas lideradas pela Marinha. Na época, o então comandante da Força, almirante de esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, publicou artigo no qual incorporou, pela primeira vez, o termo Amazônia Azul.
“Existe uma outra Amazônia, cuja existência ainda é tão ignorada pela maioria dos brasileiros. Seria, por todos os motivos, conveniente que cuidássemos dela antes de percebermos as ameaças a ela”, escreveu o comandante.
Passados 20 anos, os limites ampliados do mar sob responsabilidade do país ainda estão em análise pela Comissão da ONU sobre os Limites da Plataforma Continental, assim como as solicitações de mais de 160 países. A demanda brasileira dividiu a Amazônia Azul em três regiões. O Sul, apresentado à comissão em 2015, já tem parecer favorável. A região da Margem Equatorial, onde foram descobertas grandes jazidas de petróleo, a aproximadamente 500km da foz do Rio Amazonas, foi levada à comissão em 2017 e deverá ter seu processo concluído em 2025. A terceira é a Margem Leste, apresentada formalmente em 2018, cuja análise deverá começar no próximo ano.
Estamos falando de uma área que corresponde a dois terços do território continental, ou 5,7 milhões de km². Essa extensa faixa marítima, que facilmente poderia abrigar todos os países da Europa Ocidental dentro de seus limites, já consta da última revisão do Atlas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As pesquisas realizadas nas últimas duas décadas demonstraram que este espaço marítimo alberga uma enorme biodiversidade, com mais de 1.300 espécies de peixes, crustáceos e moluscos, além de mais de 120 espécies de corais. Sem falar nos grandes mamíferos marinhos (como baleias e golfinhos), aves e quelônios (tartarugas).
O I Diagnóstico Marinho-Costeiro Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos mostrou que, em 2025, a economia do mar gerou cerca de R$ 1,1 trilhão, ou 20% do Produto Interno Bruto da época. Desde então, nada menos que 95% do petróleo do país foi extraído da plataforma offshore, assim como metade da proteína consumida pelos brasileiros vem do mar. Até a internet precisa do mar: 98% dos dados que circulam na grande rede global chegam ao Brasil por meio de cabos submarinos, e não de satélites.
Para os militares, a incorporação de uma área tão extensa ao território brasileiro aumentou exponencialmente a necessidade de recursos materiais e humanos para monitorar e manter as pesquisas na Amazônia Azul.
“As fronteiras do Brasil com seus vizinhos são fisicamente demarcadas e estavam sendo efetivamente ocupadas por pelotões de fronteira e obras de infraestrutura, mas o que define os limites da Amazônia Azul são os navios que as patrulham ou realizam ações de presença”, alertou o almirante Carvalho, no relatório de 2004. artigo.
Muitas foram as ocasiões em que os militares precisaram ser acionados para interceptar embarcações não autorizadas a navegar pelos mares brasileiros. Em abril do ano passado, por exemplo, a Marinha “teve que dissuadir um navio alemão que pesquisava, sem autorização, em águas brasileiras, em local identificado como rico em cobalto, níquel, platina, manganês e terras raras. para a Elevação do Rio Grande (que compõe a Amazônia Azul), a embarcação europeia recuou, segundo a Marinha, em nota.
Em agosto de 2019, manchas de óleo de origem desconhecida cobriram centenas de praias do litoral nordestino, num tipo de ocorrência nunca antes vista. Investigações da Marinha e da Polícia Federal apontaram um navio de bandeira grega como responsável pelo crime ambiental. A embarcação navegou por águas internacionais com o equipamento de rastreamento desligado.
Por causa de incidentes como esses — e por causa das riquezas que o mar guarda, principalmente minerais —, a Marinha faz forte lobby por mais recursos para proteger e pesquisar a Amazônia Azul. Em abril deste ano, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, o atual comandante da Marinha, almirante Sampaio Olsen, listou diversas ameaças à soberania brasileira no mar, que incluem o monitoramento ilegal de cabos submarinos e a pesquisa de recursos minerais e pesqueiros. por embarcações estrangeiras sem autorização do governo brasileiro. “São novos conceitos de ameaças”, disse Olsen aos deputados e ao ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, que também participou na audiência.
“Ouço muito que o Brasil é um país pacífico, com fronteiras totalmente estabelecidas. Isso não é verdade”, alertou Olsen, antes de mostrar aos parlamentares gráficos indicando que a Marinha operou, este ano, com combustível e munições abaixo do limite. mínimo necessário. “A Marinha adotou uma redução de efetivo (staff) para tornar o Orçamento mais eficiente”, explicou o comandante.
Em tempos de ajuste fiscal para fechar as contas de 2024, a equipa económica do governo já se reuniu com os comandantes das Forças Armadas e com o ministro da Defesa para definir cortes no orçamento militar. A decisão sobre o tamanho do reajuste ainda não foi tomada, mas poderá afetar projetos considerados prioritários pela Marinha para aumentar a segurança no mar territorial brasileiro, como o programa de submarinos, que inclui uma unidade de propulsão nuclear.
ra soluções financeiras
blue cartao
empresa de crédito consignado
download picpay
brx br
whatsapp bleu
cartão consignado pan como funciona
simulador crédito consignado
como funciona o cartão consignado pan
ajuda picpay.com