Estudo traz à tona a dura realidade enfrentada por mulheres negras vítimas de violência doméstica no Brasil. Segundo dados, 85% das mulheres negras que sofreram violência doméstica e não têm renda suficiente para viver de forma independente continuam convivendo com seus agressores.
A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra, divulgada ontem, Dia Nacional da Consciência Negra, comprova o quanto a dependência econômica pode ser fator de aprisionamento em relacionamentos abusivos. Realizada pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, a pesquisa mostra que uma em cada três mulheres negras em situação de insuficiência financeira já sofreu algum tipo de agressão. Para 24% deles, o episódio ocorreu nos últimos 12 meses.
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Além disso, 27% das vítimas afirmaram não ter nenhuma fonte de renda, enquanto 39% tinham renda insuficiente para sustentar a si e aos seus dependentes, totalizando 66% de mulheres sem autonomia financeira.
Segundo a diretora da Secretaria de Transparência e do Instituto DataSenado, a pesquisa DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência e o Nexo, revela a dura e persistente desigualdade econômica enfrentada por milhares de mulheres negras brasileiras. “Esta vulnerabilidade financeira não só limita a sua autonomia, mas também os mantém reféns de relações abusivas, em que a dependência económica se torna mais uma ferramenta de controlo e violência”, comentou.
Educação
Outro fato que chamou a atenção foi a relação entre a educação e a busca por respaldo jurídico. As mulheres negras com ensino superior completo registram menos reclamações e pedidos de medidas protetivas do que aquelas com menor escolaridade. Enquanto 49% das vítimas analfabetas e 44% das que tinham ensino fundamental incompleto foram às delegacias, apenas 34% das mulheres negras com ensino superior fizeram o mesmo.
Esta discrepância sugere que, embora o ensino superior ofereça ferramentas para reconhecer situações de violência, também pode estar associado a outras barreiras, como a vergonha ou a descrença na eficácia do sistema de proteção.
O estudo considerou como negras as mulheres que se autodeclararam negras ou pardas. Para a especialista, os dados exigem ações de combate à violência de género e às desigualdades estruturais que afetam as mulheres negras, com políticas públicas que promovam a autonomia financeira e o acesso a recursos jurídicos e sociais.
Realidade
A população brasileira é composta por 45 milhões de mulheres negras (dados do IBGE para mulheres negras com 16 anos ou mais, pretas ou pardas) com 16 anos ou mais. Segundo a pesquisa, 6% são analfabetos e 25% têm ensino fundamental incompleto. 7% possuem ensino fundamental completo, 9% possuem ensino médio incompleto, 34% possuem ensino médio completo, 5% possuem ensino superior incompleto e 14% das mulheres pretas e pardas no Brasil possuem ensino superior completo.
A falta de educação formal afeta diretamente a renda dessas mulheres: 66% vivem com até dois salários mínimos, embora metade delas (50%) esteja no mercado de trabalho. Além disso, 66% das mulheres negras no Brasil disseram não ter renda (32%) ou ter renda insuficiente (34%) para sustentar a si mesmas e às pessoas que delas dependem.
Apenas 33% das mulheres negras disseram que poderiam se sustentar. Quando questionados o mesmo às mulheres brancas, o percentual sobe para 42%. E também 28% das mulheres autodeclaradas brancas afirmaram não ter renda, e 29% tinham renda individual insuficiente.
A analista do Observatório da Mulher Contra a Violência, Milene Tomoike, destaca que conviver com um agressor é uma realidade alarmante para muitas mulheres negras. Segundo ela, esta situação é agravada pela vulnerabilidade económica que impede a quebra do ciclo de abusos.
“Essa situação se torna ainda mais delicada para aquelas que são mães de crianças menores de 18 anos, cujo convívio com o autor da violência expõe tanto elas quanto seus filhos a riscos contínuos. “, afirmou.
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