A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) confirmou ontem a morte de um bebê de 9 meses por coqueluche, em Teixeira de Freitas, no sul do estado. A menina, que morreu no dia 12 de novembro, é o primeiro caso fatal registrado na Bahia após cinco anos sem ocorrências letais da doença.
Ela não havia recebido nenhuma vacina no calendário infantil e também foi diagnosticada com covid-19, Rotavírus e Adenovírus. Segundo a Sesab, foram confirmados 18 casos de coqueluche na Bahia em 2024. Destes, 14 são em mulheres, com idade entre 1 mês e 32 anos, com 46% das notificações envolvendo bebês menores de 1 ano. Em setembro, uma criança de dois meses também foi diagnosticada com a doença em Teixeira de Freitas, o que suscitou preocupação nas autoridades locais.
Em resposta, a Secretaria intensificou as campanhas de vacinação e conscientização no município. A orientação à população é procurar atendimento médico caso haja tosse persistente ou contato com pessoas com sintomas suspeitos.
A tosse convulsa, ou coqueluche, é uma doença respiratória altamente contagiosa causada pela bactéria Bordetella pertussis, caracterizada por crises graves de tosse que podem causar complicações graves, especialmente em bebês e crianças pequenas. A principal forma de prevenção é a vacinação, disponível gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), por meio da vacina pentavalente, que faz parte do calendário nacional de imunização. Além da vacina, é importante procurar atendimento médico ao notar sintomas como tosse persistente e dificuldade para respirar, garantindo diagnóstico e tratamento adequados.
Crise de vacinação
Nos últimos dez anos, a cobertura vacinal no Brasil caiu drasticamente, aumentando a vulnerabilidade da população — especialmente das crianças — a doenças anteriormente erradicadas, como o sarampo e a poliomielite, que podem causar consequências graves ou até levar à morte. Embora a taxa ideal de vacinação esteja acima de 90%, as taxas gerais de imunização estão abaixo desse patamar desde 2012, chegando a apenas 50,4% em 2016. Em 2021, o percentual era de 60,7%, segundo dados do Datasus, ligado ao Ministério da Saúde. .
A desinformação, especialmente nas redes sociais, também prejudica outras campanhas de vacinação. Segundo pesquisa divulgada ontem, a imunização contra a dengue, embora disponível, tem enfrentado resistência devido à disseminação de informações falsas. O estudo mostra que 88% dos brasileiros confiam na vacina contra dengue, mas 12% ainda têm dúvidas. Entre os mais céticos predominam os homens com mais de 55 anos. Apesar da elevada confiança geral, 41% dos inquiridos afirmaram ter recebido notícias falsas sobre vacinas nas redes sociais e quase 30% relataram ter parado de se vacinar ou ter aconselhado outras pessoas a não fazê-lo devido à incerteza sobre a segurança e eficácia das vacinas.
A médica infectologista Lorena Faro explica que a proteção das vacinas não é só para as crianças, mas para a sociedade como um todo: “Quando um número significativo de crianças é vacinado, cria-se a chamada ‘imunidade coletiva’ ou ‘imunidade de rebanho’. ‘”, explica o especialista. Isto evita a propagação de doenças infecciosas, pois há menos pessoas suscetíveis ao vírus ou bactéria que causa essas doenças. “Com isso, as pessoas que não podem ser vacinadas, como bebés muito pequenos, crianças com doenças autoimunes ou idosos, também ficam protegidas”, destaca, destacando também a importância da imunização para prevenir surtos epidémicos e reduzir custos para o sistema de saúde . “Vacinar as crianças é uma responsabilidade social. Ao proteger as crianças, protegemos também aqueles que as rodeiam, criando um ambiente mais seguro para todos”, conclui.
Campanha contra
Ricardo César de Abreu, médico intensivista pediátrico, também explica que é importante vacinar, mesmo quando as doenças já são consideradas erradicadas ou controladas, como foi o caso da coqueluche. Segundo ele, o avanço do movimento antivacinas, motivado por razões ideológicas, tem gerado preocupação. “A gravidade disto é o regresso de doenças que já tinham sido erradicadas, como o sarampo e a poliomielite. Estas doenças desapareceram precisamente graças às vacinas”, enfatizou, destacando a importância da manutenção da imunização.
O especialista explica ainda que, em tempos de movimentos antivacinas, a abordagem com os pais deve ser cuidadosa e sem julgamentos precipitados. “Num primeiro momento é importante ouvir a opinião dos pais sobre o processo de vacinação e, aos poucos, esclarecer dúvidas e possíveis receios, reforçando sempre que vacinar é um ato de cuidado com a criança”, afirma Ricardo.
Ela também destaca a importância de compreender que, no mundo da informação, os pais estão expostos a muitas narrativas falsas, inclusive políticas. “Antes de ‘obrigar’ um pai a vacinar, cabe ao profissional explicar, mil vezes se necessário, sobre a segurança do procedimento e os riscos envolvidos”, afirma, sugerindo o uso de exemplos, dados de órgãos oficiais e ainda recomendou a leitura de artigos especializados para convencer as pessoas sobre a importância da vacina.
*Estagiário sob supervisão de Edla Lula
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