Entre janeiro e maio deste ano, o Brasil importou 28,3 mil toneladas de lixo. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A prática de importação de resíduos é vista por especialistas como prejudicial não só à natureza, mas também à economia do país e aos catadores que abastecem a indústria de reciclagem.
A explicação para importar é porque é mais barato comprar resíduos do exterior em vez de reciclar resíduos de dentro do próprio país. Entre vidro, papel, alumínio e plástico, os resíduos sólidos importados provêm principalmente dos Estados Unidos e de países da América Latina.
Mesmo sendo signatária da Convenção de Basileia, que regulamenta o comércio internacional de resíduos, de 2021 a 2024 foram importadas 249 mil toneladas de papel, 12 milhões de toneladas de plástico e 21 mil toneladas de vidro, segundo dados da Universidade de São Paulo. Paulo. O relatório da USP aponta ainda que o Brasil gera mais de 80 milhões de toneladas de resíduos por ano, mas recicla apenas 4% desse total.
Além disso, segundo dados do MDIC, as empresas brasileiras gastaram US$ 2,5 milhões com 11,5 mil toneladas de papel, US$ 862 mil com 2,2 mil toneladas de plástico, US$ 117,4 milhões com 6,7 mil toneladas de alumínio e US$ 1,2 milhão com 7,9 mil toneladas. de vidro.
Entre 2019 e 2022, as importações de resíduos atingiram o maior número, devido à alíquota zero implementada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na tentativa de desestimular as importações, o atual governo aumentou a alíquota para 18%. No país, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é o órgão competente para definir critérios de descarte, mas a última Instrução Normativa do órgão sobre o assunto é de 2013.
Impacto
Patrícia Iglesias, professora e superintendente de gestão ambiental da USP, explica que os resíduos importados são utilizados como matéria-prima secundária para produzir peças com material reciclado. Ela afirma que a forma como esses resíduos chegam ao Brasil é mais um problema relacionado às importações.
“Esses resíduos chegam de navio ao Brasil. Então, os impactos vão desde emissões de carbono, riscos de acidentes, contaminação tóxica, até a falta de rastreabilidade dos resíduos”, alerta.
No dia 28 de novembro, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 3.944/24, de autoria do deputado federal Célio Silveira (MDB-GO), que proíbe a importação de resíduos sólidos. O projeto altera a Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O assunto precisa passar pelo Senado.
Embora o número de importações tenha diminuído 28% desde o ano passado, o deputado reafirma a importância e a urgência do assunto para os catadores de lixo. Segundo Célio Silveira, os recicladores perdem espaço para as importações, pois as grandes empresas deixam de comprar das cooperativas de catadores para trazê-los mais baratos de outros países.
“Não há razão para importar lixo. Além do impacto ambiental que ele causa ao agredir o meio ambiente, há o impacto social. Temos cooperativas de reciclagem que são muito prejudicadas com essa importação. Coloquei o projeto em pauta”, explicou.
Para Roberto Laureano, presidente da Associação Nacional de Catadores (Ancat), o trabalho dos catadores é desvalorizado e perde espaço para grandes quantidades de resíduos importados. “Nosso material, que seria reciclado, é desvalorizado pelo mercado e acaba indo para aterros e lixões”, lamenta.
Municípios
O mais recente levantamento de Informações Básicas Municipais (Munic) 2023, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicado em 29 de novembro, mostra que 31,9% dos municípios —correspondendo a 1.776 dos 5.568 municípios existentes— ainda utilizam aterros sanitários como forma de armazenamento de resíduos sólidos. Outros 28,6% possuem aterros sanitários e 18,7% aterros controlados.
A pior situação está na Região Norte, onde 73,8% dos municípios possuem pelo menos um aterro sanitário. Os melhores índices estão no Sul — apenas 5,7% dos municípios possuem aterros sanitários.
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, todos os municípios com mais de 50.001 habitantes deveriam ter acabado com os aterros até agosto de 2023. Porém, daqueles com população maior do que a indicada pela política, “21,5% ainda tinham aterros como disposição final”. unidade de resíduos sólidos” — observa a pesquisa.
A pesquisa do IBGE estima que 39,5% dos municípios não possuem coleta seletiva de lixo —um total de 2.204 dos 5.568. Outros 43,3% (2.411) nem sequer implementaram legislação que contenha uma estratégia ecológica.
Na Região Norte, apenas 33,5% dos municípios possuem coleta seletiva. No extremo oposto, 81,9% dos municípios separam os resíduos.
*Estagiários sob supervisão de Fabio Grecchi
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