Nestes dias movimentados, a Praça dos Três Poderes foi abalada pela pirotecnia de um serralheiro catarinense, que culminou em morte trágica. Mas não foram os únicos sons que se ouviram, nem tudo o que se ouviu soou como fogos de artifício. As vozes recentes começaram com o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Herman Benjamin, em entrevista à Folha de S.Paulo. O ministro disse que Judiciário não é carreira para quem quer ser famoso, tem que ser reservado, apenas se expressar nos autos. Querer ser polêmico, próximo da classe política, é incompatível com o Judiciário. É comum que a má conduta de alguém repercuta na instituição. E concluiu que quem não pode ser reservado não deve ser juiz, mas sim procurar outra profissão.
Depois vieram os presidentes das OABs de Minas e do Rio Grande do Sul denunciando a falta de um amplo direito à defesa. O mineiro Sérgio Leonardo, à frente do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso, na Conferência Nacional de Advocacia, afirmou que ministros não recebem advogados, que recebem apenas cópias parciais de processos, e que advogados repudiar essas atitudes.
Em Porto Alegre, o presidente da OAB-RS, Cláudio Lamachia, criticou o Supremo Tribunal Federal, que se afastou da Constituição que deveria defender. No Congresso, deputados e senadores exigem a omissão do Superior Tribunal Militar (STM) em relação aos militares da ativa presos, e o presidente do STM, tenente-brigadeiro Joseli Camelo, responde com argumento jocoso, que se forem condenados em justiça civil, a justiça militar realizará um processo ético.
Aí você ouve a voz pesada de um ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, único juiz de carreira do tribunal, Luiz Fux, repetindo seu discurso de posse presidencial em 2020. Ele reiterou aos seus pares que o STF é o Judiciário e não o Legislativo e, muito menos, político. Que as questões políticas deveriam ser tratadas nos plenários da Câmara e do Senado, e não no Supremo, que se esgota ao se envolver em assuntos que são do Congresso.
E em audiência sobre a necessidade de comprovação de voto e transparência na apuração, o vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro do Supremo Kássio Nunes Marques — que presidirá as eleições de 2026 — afirmou que a comprovação de voto e Os métodos de apuração eleitoral devem ser decididos no local apropriado, que é o Legislativo —e não no STF.
Essas vozes repetem a voz daqueles que querem o cumprimento da Constituição, o devido processo legal, o amplo direito à defesa com juiz natural, a liberdade de expressão e a proibição de qualquer tipo de censura, a transparência — como diz a Constituição. Não podemos esquecer a gravíssima omissão do Senado.
A teoria dos Três Poderes prevê que existe, entre eles, um sistema de freios e contrapesos, e o Senado é o contrapeso institucional aos excessos do Supremo Tribunal Federal. Até as pedras portuguesas que pavimentam a Praça dos Três Poderes perceberam isso —exceto os responsáveis.
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