Conceição do Pará (MG) — Ao longo das estreitas estradas da comunidade Casquilho de Cima, em Conceição do Pará, no Centro-Oeste de Minas Gerais, fitas e placas de isolamento sinalizam situação de emergência. A ameaça de novos deslizamentos na Mina Turmalina, operada pela mineradora canadense Jaguar, mantém moradores e autoridades em alerta. Após o desabamento de uma pilha de resíduos que destruiu parte da aldeia, a segurança das estruturas continua a ser monitorizada de perto.
No total, 134 pessoas foram obrigadas a sair de casa às pressas na manhã de sábado (12/07), muitas sem tempo para pegar mais do que a roupa do corpo. Desde então, o local está isolado e o acesso dos moradores é restrito. Mais de 120 metros de lixo avançaram sobre a comunidade, soterrando cinco casas e ameaçando outras 119, que foram interditadas pela Defesa Civil do município. Outros dois estabelecimentos, um curral e um armazém onde funcionava uma fábrica de calçados, também foram totalmente destruídos. Apesar da gravidade, não houve vítimas ou feridos.
Acompanhe o canal Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Durante visita à comunidade, o repórter não teve acesso à área afetada, mas relatos de moradores detalham o caos. Casas com paredes quase tocando o terreno baldio correm risco iminente, enquanto objetos pessoais e eletrodomésticos permanecem dentro das casas fechadas. “É assustador entrar na casa da minha cunhada. E eles não deixam nada tirar. Você vai perder tudo se houver outro deslizamento”, disse um morador, que preferiu manter o anonimato.
Com a voz embargada, uma das moradoras que viu sua casa ser engolida pelo lixo descreveu seu desespero ao ver sua história reduzida a escombros. “Tudo o que demorei para construir se perdeu em segundos. Toda a minha vida está lá. Fiquei sem perspectiva”, diz o morador, que também preferiu não se identificar. Ela conta que tinha acabado de sair para o trabalho quando foi alertada pelos vizinhos sobre o deslizamento. Ele correu de volta para salvar o que pudesse. “Peguei meus três cachorros e fui embora. Horas depois, minha casa foi enterrada”, disse ele.
Na madrugada deste domingo (12/08), os barulhos causados pelo desabamento de casas ecoaram pela comunidade e assustaram moradores como Sandra de Paula, 42 anos. “Já chorei muito. Ouvimos um barulho alto, era a casa do vizinho desabando. Parece que está caindo aos poucos”, relata novamente com os olhos marejados. No dia do acidente, ela estava em casa dormindo, quando o marido, Gerônimo Cristóvão Lemos, 42, apareceu gritando para ela e o filho, 11, saírem de casa. “Eu não pude acreditar. Depois que vi que estava realmente desabando, saímos correndo só com a roupa do corpo”, conta ela.
A casa onde Gerônimo cresceu e onde o casal criou o filho foi fechada, mas permanece de pé. O pai estava na padaria quando o desastre começou. Quando ele voltou, ele viu o caos se instalar. “Pegamos o que tínhamos e partimos”, diz ele. A família agora está hospedada em um hotel, mas a casa que construíram ao longo dos anos ficou para trás. Sandra solicitou apoio psicológico para o filho, que chora sem parar desde o deslizamento. “Ele está tremendo, assustado. Não importa o quanto falemos, não adianta.”
Há anos, os moradores convivem com os impactos da atividade minerária: explosões frequentes que provocam rachaduras nas casas, poeira constante e perda de acesso à água potável diretamente do rio. “Antes tínhamos água limpa do rio. Nadei lá quando era criança. Hoje temos que pagar água e, pior, quando tínhamos cisterna não faltava água, agora falta direto”, diz Gerônimo. A comunidade, formada por gerações de famílias, já enfrentava há uma semana a escassez de água. “Hoje conseguimos voltar para pegar algumas roupas, mas está tudo sujo, porque ficamos sem água”, conta o freelancer, lamentando também a perda de dias de trabalho.
O sentimento de descaso permeia os relatos de muitos moradores. Maria Ângela da Silva, 56 anos, é dona de casa e mãe de Gilmar, 31, que tem autismo grave. A rotina já desafiadora tornou-se insustentável. “Querem que eu vá para um abrigo, mas ele não se adapta. Ele fica agressivo”, diz, destacando que Gilmar ainda depende de cuidados especiais, como fraldas e babadores. Sem ter para onde ir, ela e a família passam o dia em um banco à beira da estrada, esperando respostas. À noite, vão até a casa do irmão do marido, a poucos metros de distância, mas Maria Ângela diz que não consegue descansar. “Como dormir? Não sabemos o que vai acontecer”, afirma.
Ao falar, ele mostra os pés cobertos de terra, como símbolo de sua resistência e desamparo. “Eu queria tomar banho, mas não consegui. Estamos acuados, sem banho, sem comida, sem atendimento”, declara. Há mais de uma semana que não há abastecimento, a casa está cheia de louça acumulada, chão sujo e comida estragada na geladeira, o que deixa seu marido, Rildo Antônio Lemos, 59, angustiado. Mesmo com as dificuldades, ela resiste à ideia de sair de casa. “Deixar tudo para as pessoas roubarem?” ele pergunta, temendo pela segurança de seus pertences. Sem acesso a alimentação adequada nem a cuidados básicos, passou a segunda-feira com fome, vivendo apenas de pão. “Parece que eles não se importam”, conclui.
Outros residentes enfrentam o dilema de abandonar os animais e as culturas que sustentam as suas famílias. Muitos possuem bovinos, suínos e galinhas, mas o acesso às suas propriedades é restrito. “A casa da minha cunhada está prestes a desabar e não me deixam nem tirar os eletrodomésticos. Você vai perder tudo”, diz um morador anonimamente. Na manhã de ontem (12/09), equipes de resgate trabalharam para retirar animais de estimação da área isolada. Até então, 191 animais haviam sido cadastrados. Destes, 148 foram devolvidos aos seus proprietários, quatro foram levados para abrigo em clínica veterinária e 39 permanecem no campo por questões de segurança.
Para tentar conter novos desastres, foram erguidas barreiras de contenção e drones monitoram o terreno instável. A mineradora também instalou radares na tentativa de prever novos deslizamentos. “Estamos monitorando o perímetro. Até o momento não houve evolução do deslizamento, mas estamos trabalhando com a possibilidade de novos deslizamentos”, disse o capitão Thales Gustavo de Oliveira Costa, do Corpo de Bombeiros, em entrevista ao Estado de Minas. Ontem, equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil organizaram entradas monitoradas na área isolada para retirada de objetos pessoais.
A chegada da chuva, prevista para hoje (12/10), torna o cenário ainda mais preocupante. “Isso poderá acelerar o deslocamento da massa de resíduos, e por isso estamos redobrando nossos esforços para garantir a segurança”, reforçou o capitão dos bombeiros, que chegou a aconselhar os moradores a retirarem o que puderem. retirar 43 mil litros de combustível armazenados em posto atingido pelos rejeitos como medida preventiva para evitar riscos adicionais No dia seguinte ao desastre, a Agência Nacional de Mineração (ANM) proibiu ontem as atividades na mina. solicitou a suspensão das atividades de a mineradora no local e o bloqueio de R$ 200 milhões.
Ainda não há previsão de retorno dos moradores às suas casas nem é certo que será possível voltar a ocupá-las. “Reforçamos o pedido para que as pessoas preservem a segurança, que é o mais importante, e que aguardem um comunicado oficial até que a situação se normalize novamente”, alerta o capitão Thales Gustavo.
ra soluções financeiras
blue cartao
empresa de crédito consignado
download picpay
brx br
whatsapp bleu
cartão consignado pan como funciona
simulador crédito consignado
como funciona o cartão consignado pan
ajuda picpay.com