No dia 10 de dezembro, o Senado aprovou simbolicamente a substituição do senador Eduardo Gomes (PL-TO), que estabelece normas gerais para o desenvolvimento, implementação e uso responsável de sistemas de inteligência artificial. O texto tem como base o Projeto de Lei (PL) 2.338/23, de autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Porém, há diversas dúvidas e suspeitas sobre a aplicação da IA, principalmente na política — conforme afirma o relatório Democracia: Percepções sobre inteligência artificial e democracia na Argentina, Brasil, Colômbia e México.
A pesquisa, que entrevistou 4.003 cidadãos – 1.000 da Colômbia e 1.001 de outros países – foi desenvolvida pelo Instituto Ipsos a pedido da Luminate e foi apresentada em 9 de dezembro. A pesquisa descobriu que apenas 28% dos entrevistados acreditam que os governos são capazes de lidar com os desafios trazidos pelas IAs. No México, esta taxa é de 33% e a maior desconfiança está entre os colombianos (23%). A pesquisa mostra que 55% das pessoas acreditam que regulamentar a IA seria o melhor caminho a seguir — dos países pesquisados, a maior porcentagem é encontrada no México (63%).
Bruno Cardoso, professor de sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits/UFRJ), explica que a maior dificuldade de um marco regulatório é a “desconexão entre o tempo do direito e a transformação da tecnologia de IA”. Ele observa que é possível que a legislação nasça “obsoleta” e contenha diversas lacunas que permitem crimes e práticas perigosas.
“Os limites à criatividade e à inovação não têm sido um problema tão grave como os relacionados com a falta de regulamentação das tecnologias digitais, da internet, e que ainda começamos a compreender. No caso da IA, esta questão é ainda mais importante, pela velocidade de desenvolvimento, mas também pela aplicabilidade em quase tudo”, observa Cardoso.
O senador Eduardo Gomes, porém, diminui a importância de tais preocupações. “Precisamos ter a mente aberta e o coração tranquilo para entender que esta é uma realidade que não muda mais, e que teremos que lidar com a inteligência artificial e seus defeitos. Essa convivência faz parte da evolução”, destaca.
O relatório do Instituto Ipsos considera, porém, que a IA tem um lado preocupante, que não pode ser negligenciado. A pesquisa descobriu que 55% dos latino-americanos consideram inaceitável que os governos usem inteligência artificial para monitorar o que as pessoas dizem online. É a mesma tendência observada em relação à polarização — 43% dos entrevistados acreditam que o conteúdo gerado pela ferramenta pode intensificar a polarização.
Mas as dúvidas não param por aí. Quarenta por cento dos entrevistados na pesquisa afirmam que a IA pode afetar a imparcialidade e integridade eleitoral. “A população está preocupada com notícias falsas nas eleições porque a IA não é percebida como algo que surge do nada, mas é mais uma etapa do que pode ser chamado de ‘digital’, ou ‘internet’. tem sido vista como um risco para os relacionamentos e para a política”, alerta Cardoso.
STF conta com ajuda de “Maria”
O Supremo Tribunal Federal (STF) lançou, nesta segunda-feira, o Módulo de Apoio à Escrita com Inteligência Artificial (“Maria”). É um sistema de inteligência artificial com três finalidades: preparar resumos de votos, preparar relatórios de reclamações ao Tribunal (os RCLs). A ideia é ajudar o trabalho de ministros, servidores e colaboradores. O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, ressaltou, no lançamento da ferramenta, que “o Brasil tem 83 milhões de processos em andamento. Portanto, se não usarmos a tecnologia, não conseguiremos prestar assistência judicial”. No lançamento de “Maria”, ele interagiu com um robô que representa fisicamente o módulo de IA.
*Estagiário sob supervisão de Fabio Grecchi
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