Os fenómenos extremos resultantes das alterações climáticas têm chamado a atenção para a importância de procurar a descarbonização — redução das emissões de gases com efeito de estufa —, para a qual a utilização do hidrogénio verde é uma solução possível. Convidado de CB.Power – parceria entre Correspondência Isso é TV Brasília — Especial desta terça-feira (28/5), a diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, defendeu a necessidade de aprovação do projeto de lei (PL) 2.308/2023 — que cria um marco regulatório histórico para a baixa -hidrogênio carbônico —, o que traria segurança jurídica aos investidores e permitiria ao Brasil aproveitar a vantagem competitiva que possui no campo da energia verde, que disse ser “temporária”.
“O mais importante é ter esse marco aprovado, porque, com ele, você garante ao investidor a segurança jurídica, a segurança de que é real, de que o Brasil está realmente fazendo um movimento político, regulatório, econômico e financeiro, mostrando o que é um local para atrair investimentos. Se olharmos, hoje, para o mapa do hidrogénio verde no mundo, existem economias como os EUA, Chile, Namíbia, Egipto e Austrália, todas incentivando indústrias a estabelecerem-se para produzir hidrogénio verde, exactamente para isto: para reduzir o teor de carbono dos seus processos de produção, o que é inexorável para uma economia do século XXI, para uma nova ordem económica global verde. Não teremos muitos caminhos de fuga”, argumentou.
Fernanda disse aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Ana Maria Campos que o uso do hidrogênio verde — feito a partir de energia renovável, sem emissão de gases de efeito estufa e voltado para processos produtivos — é apenas uma das alternativas para buscar a descarbonização, que pode ser aplicada como combustível (em substituição de outros combustíveis fósseis), na produção de fertilizantes, espessantes e até no refino de petróleo. Embora já existam projectos-piloto no país, a aplicação efectiva depende da aprovação do quadro regulamentar.
A diretora executiva da ABIHV disse ver a possibilidade de um futuro em que o Brasil possa descarbonizar sem precisar abandonar completamente o uso do petróleo e que o importante é “compensar de outras formas”. Para ela, além do hidrogênio verde, a busca pelo uso de biocombustíveis, a eletrificação e processos produtivos com menores emissões também representam soluções importantes para a descarbonização.
“Um mundo descarbonizado não é um mundo sem hidrocarbonetos. É possível compensar de outras formas, e o hidrogénio verde não é todas as respostas, é uma das soluções. O Brasil possui grande expertise em biocombustíveis, etanol e biodiesel, que pode ser um tema altamente explorado para descarbonização, bem como para eletrificação. Se vamos parar de consumir combustíveis fósseis é uma questão de um milhão de dólares. É muito difícil prever isso, porque hoje em dia tudo tem de alguma forma um componente petroquímico. Então, essa substituição é muito complexa, mesmo que você possa ter processos produtivos com menos emissões, você pode ter o próprio petróleo, com a ajuda do hidrogênio verde, com um teor de carbono muito menor”, explicou.
Fernanda lembrou que o facto de ter 90% da rede eléctrica de origem renovável, com uma rede interligada e ter acesso a uma grande disponibilidade de recursos naturais representa sim uma vantagem competitiva para o Brasil. No entanto, ela vê essa vantagem competitiva como temporária e, portanto, uma oportunidade que representa uma urgência ainda maior para a aprovação do marco regulatório —cuja discussão ela acredita estar em fase consensual no Congresso.
“A maior discussão foi a concessão de incentivos à indústria nascente. Como qualquer indústria que está começando, é preciso incentivos para reduzir os preços para que fiquem mais próximos, hoje, do hidrogênio cinza, que é o que compõe o gás natural e que toda a indústria utiliza, entre outros. Esses incentivos necessários para os primeiros participantes foram o que gerou mais discussão. Pensava-se que isso aumentaria a conta de luz, que isso seria pago pelo consumidor, mas já existe o entendimento de que existem caminhos para isso ser feito, e que, de fato, a indústria traz muito investimento, receitas, empregos e arrecadação, antes da necessidade desses incentivos. Então, a discussão sobre esse projeto se acalmou um pouco”, disse.
Além da audiência pública e das audiências no Congresso, o diretor-executivo disse que o tema tem recebido atenção do governo federal. Segundo ela, a ABIHV tem sido recebida em todas as “casas” de governo e em todos os ministérios, e o diálogo tem sido constante e intenso, o que representa, além da receptividade à agenda, um sinal externo de preocupação com o tema.
“Essa discussão, que ocorre no Brasil, mostra a importância, a relevância e o quão engajado o governo está, e precisamos enviar sinais positivos. Acho que o marco do hidrogênio verde, o mercado de carbono e todos os detalhes da questão dos parques eólicos, por exemplo, são marcos regulatórios rumo a uma nova ordem econômica global verde que o Brasil demonstrará, tanto no G20 quanto na COP 30, que traz essa disposição com essa agenda”, afirmou.
Oportunidade: indústria de fertilizantes
Um dos temas da conversa foi a audiência pública, no Congresso, da qual Fernanda participou. Ela disse que, na época, a importação de fertilizantes foi um dos principais temas discutidos, levantando-se a questão de “por que o Brasil, sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, importa 90% dos fertilizantes que produz? usa?”. Como esses fertilizantes são feitos a partir do gás natural, o aumento do valor de transação dessa matéria-prima no país acabou inviabilizando essa indústria no território nacional, segundo ela, explicou.
O diretor executivo da ABIHV disse que a utilização do hidrogênio verde como matéria-prima em substituição ao gás natural permitiria atrair a indústria de fertilizantes para o Brasil, dentro de um contexto sustentável.
“Tendo o hidrogênio verde que é matéria-prima para a fabricação desse fertilizante, se eu conseguir montar uma indústria com hidrogênio verde a um preço competitivo, vou voltar a atrair essa indústria de fertilizantes para o Brasil e já torná-la verde, agora eu trazê-lo para dentro de uma agenda economicamente contemporânea, viável e já dentro dessas novas regras da economia verde global”, destacou.
Fernanda disse que, junto com a ABIHV, há uma grande expectativa de investimentos significativos na indústria do hidrogênio verde no Brasil. “Já somos 30 empresas, todas com investimentos reais para trazer para o Brasil. Estimamos uma expectativa de, somente até 2030, R$ 80 bilhões de superávit para o Brasil. Estamos a falar de investimentos muito grandes, por isso acredito que há um apetite muito grande”, reforçou.
Para ela, o desafio atual é conscientizar os consumidores sobre a importância da “agenda verde” como solução para os problemas ambientais, e não como um consumo supérfluo e virtuoso, como muitas vezes se vê.
“Gosto muito de dizer que não é que o verde tenha um ‘prêmio’, pelo contrário. É o que não é verde que não paga pelas suas externalidades ambientais e deve ser penalizado pelas suas responsabilidades ambientais. O verde é o que vai trazer a solução e amenizar alguns destes problemas que temos enfrentado”, enfatizou.
*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori
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