Pelo menos quatro indígenas do povo Avá-Guarani ficaram feridos após serem baleados na noite desta sexta-feira, 3, durante um ataque a uma área que é alvo de disputas por terras e fica entre Terra Roxa e Guaíra, oeste do Paraná. Uma criança estaria entre os baleados.
As vítimas foram atendidas pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e encaminhadas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). Ainda não há informações sobre o estado de saúde dos feridos.
Em comunicado, o ministério afirmou que agentes da Força Nacional deslocaram-se na noite de sexta-feira para apoiar a situação e que existem equipas de prontidão para reforçar o patrulhamento e proteger a comunidade.
O caso está sendo investigado pela Polícia Federal, que afirmou que os tiros foram disparados por volta das 21h. O alvo era uma comunidade indígena localizada próxima ao bairro Eletrosul, em Guaíra. “Forças de segurança pública federais, estaduais e municipais estiveram no local para evitar novos episódios de violência”, disse.
A Polícia Federal informou ainda que “iniciou investigações para apurar a autoria e responsabilidade criminal dos envolvidos”.
Na manhã de sábado, dia 4, peritos criminais federais realizaram perícia no local do conflito. Ninguém foi preso até agora.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em nota publicada em conjunto com outras entidades, afirmaram que os Avá-Guarani vêm sofrendo ataques na região de Guaíra pelo menos desde 29 de dezembro. “Nesse período, todas as noites, homens armados invadiam a comunidade Yvy Okaju (antiga Y’Hovy), na Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, incendiavam barracos, atiravam com pistolas, espingardas e fuzis e jogavam bombas contra os indígenas. , que aguardam a conclusão da demarcação de suas terras”, afirmaram.
Pelo menos seis indígenas já foram feridos por tiros nos últimos sete dias, incluindo uma criança de 4 anos, afirma a nota. As entidades afirmaram ainda que houve queimadas de casas e vegetação Avá-Guarani na região. Segundo o comunicado, os ataques foram cometidos por homens encapuzados.
Em meio a essa situação, o MJSP determinou o aumento de 50% no número de Forças Nacionais de Segurança Pública na área. “O reforço está em andamento e estará totalmente operacional neste sábado”, afirmou.
As investigações para identificar os autores dos tiros disparados nesta sexta são conduzidas pela Polícia Federal, enquanto o policiamento ostensivo é feito em conjunto pela Polícia Militar do Paraná e pela Força Nacional de Segurança Pública.
“Diante do risco de novos ataques, foram activadas equipas de prontidão e alerta para intensificar o patrulhamento na área, reforçando a segurança e auxiliando na realocação dos residentes para áreas mais protegidas dentro da aldeia”, disse o ministério.
Equipes da Guarda Municipal e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também estiveram na unidade emergencial para apoiar ações de proteção e monitoramento.
“O MJSP reafirma o seu compromisso com a mediação pacífica e a prevenção de conflitos. As ações adotadas já restabeleceram a ordem e estão em curso medidas preventivas para evitar a escalada de tensões”, afirmou o ministério. “O MJSP continua empenhado em proteger as comunidades indígenas e garantir os seus direitos, respeitando as suas culturas e promovendo a observância dos direitos humanos. Todas as ações estão sendo realizadas com a maior prioridade para evitar a repetição de episódios de violência”, acrescentou.
Ministério dos Povos Indígenas condena ataques
O Ministério dos Povos Indígenas condenou os atos de violência contra o povo Avá-Guarani. “O MPI acompanha a situação dos povos indígenas por meio do seu Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos em Terras Indígenas e está em diálogo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para a investigação imediata dos grupos armados que atuam na região”, disse, em comunicado.
O ministério afirmou que os Avá-Guarani foram impactados pela invasão de não indígenas em seu território desde a década de 1930, além de terem sido “gravemente afetados” pela construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, na década de 1980.
Disse ainda que, diante disso, “vêm realizando reintegrações de posse de terras desde o final da década de 1990”. “Atualmente, duas áreas ocupadas pelos Avá-Guarani estão em processo de regularização: a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira e a Terra Indígena Ocoy-Jacutinga, esta última em fase de estudos”, afirmou o ministério. “A Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira teve seu Relatório Detalhado de Identificação e Delimitação (RCID) publicado em 2018. Porém, na gestão do governo anterior, um decreto da presidência da Funai de 2020 a suspendeu, mas esse ato administrativo foi revogado em 2023 pelo atual presidente do órgão, Joenia Wapichana, portanto o RCID continua válido”, afirmou.
E acrescentou: “O MPI ressalta que a instabilidade gerada pela lei de marco temporal (lei 14.701/23), além de outras tentativas de avançar na agenda, como a PEC 48, tem como consequência não apenas a insegurança jurídica sobre as definições das questões territoriais que afetam os povos indígenas, mas abre oportunidade para atos de violência que tenham os indígenas como principais vítimas.”
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