*Karin Santin
Com base na análise de restos mortais de 13 indivíduos, os cientistas indicam que o processo de maturação pode ter sofrido poucas alterações nos últimos 30.650 anos. O estudo publicado no Journal of Human Evolution associa o crescimento, calcificação e fusão óssea a seis fases diferentes da adolescência. Esta é a primeira investigação dirigida a esta faixa etária em seres humanos do Paleolítico Superior Europeu (há 40 mil a 12 mil anos), fruto de uma parceria entre cinco universidades.
A autora correspondente, April Nowell, cientista da Universidade de Victoria, no Canadá, aponta que a análise dos ossos dos adolescentes pode ser inferida a partir de marcadores de crescimento específicos. A amostra inclui indivíduos da Rússia, República Checa e Itália com idades compreendidas entre os 11 e os 22 anos – oito homens e cinco mulheres.
Para avaliar os estágios de desenvolvimento, os pesquisadores se concentraram nas mudanças nas mãos, pulsos, cotovelos, pescoço e pélvis de cada pessoa. O momento da puberdade foi inferido a partir do grau de calcificação e conexão desses ossos, cada um associado a surtos de crescimento ou menarca, no caso das meninas.
Claudia Cunha, bioarqueóloga da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e coordenadora do grupo de pesquisa Bioarqueologia do Nordeste brasileiro, confirma a raridade da descoberta. “Houve um pico de mortalidade, entre o desmame e a primeira infância, relacionado com a desnutrição e doenças. Outro pico na vida adulta, para as mulheres associado ao parto e, para os homens, a actividades como a caça. na adolescência, o número de mortes foi menor”, explica a bioarqueóloga.
O investigador alerta que, devido à variedade territorial e ao pequeno número de ossos, a amostra não pode ser considerada representativa do conjunto das populações regionais ou europeias de Homo sapiens. Segundo ela, um número menor de indivíduos do sexo feminino é um obstáculo, agravado por danos nos ossos de dois deles.
Biológico e social
Cunha confirma que, apesar do intervalo de 30 mil anos, as mudanças na estrutura corporal entre os humanos daquela época e os de hoje são “praticamente irrelevantes”. Ela enfatiza, porém, que a puberdade é profundamente afetada por fatores dietéticos. “No Paleolítico Superior, encontrar comida era uma tarefa diária. Os caçadores-coletores tinham acesso mais restrito aos alimentos”, explica ela.
A estimativa é que as mulheres não ovularam com a mesma frequência, devido à menor massa gorda. Cunha diz que dinâmicas semelhantes têm sido observadas em pesquisas etnográficas sobre sociedades mais recentes e cita ainda o exemplo de mulheres que sofrem de transtornos alimentares, como a anorexia. Portanto, garantir que a menarca ocorreu exatamente da mesma forma que nas adolescentes de hoje não é possível, apenas a partir desta primeira pesquisa ela previne.
Além disso, os pesquisadores reforçam que o contexto social é essencial na definição da adolescência. “Muitas culturas não possuem um estado intermediário, mas podemos entender a fase juvenil como um momento em que mudanças perceptíveis no corpo impõem novas responsabilidades a esses indivíduos”, diz Cunha.
Nowell destaca Romito 2 (foto), de 17 anos e meio, provavelmente o primeiro humano com características de nanismo. Ele estaria na fase de estabilização do crescimento, quando os ossos começam a se fundir. O jovem foi enterrado nos braços de uma mulher mais velha que, segundo o autor, poderia ser sua mãe.
*Estagiária sob supervisão de Renata Giraldi
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