Vinte anos de investigação sobre a alimentação baseada em vegetais fornecem provas convincentes dos benefícios para a saúde da adoção de uma dieta vegetariana ou vegana, argumenta um artigo publicado na revista Plos One. Os autores, de diversas universidades europeias, revisaram 48 trabalhos publicados anteriormente, e que estudaram a associação deste estilo alimentar com a redução do risco de morte prematura, cancro e doenças cardiovasculares.
Segundo o autor correspondente, Angelo Capodici, da Universidade de Bolonha e do Centro de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências da Saúde de Pisa, Itália, há algum tempo as pesquisas relacionam determinados estilos alimentares ao aumento de doenças cardiovasculares e câncer, que estão entre os doenças que matam mais pessoas no mundo.
“Uma dieta pobre em produtos vegetais e rica em carnes, grãos refinados, açúcar e sal está associada a um maior risco de mortalidade precoce”, explica. Também foi sugerido que a redução do consumo de produtos de origem animal em favor de vegetais reduz o risco de doenças cardiovasculares e cancro. “No entanto, os benefícios globais de tais dietas permanecem obscuros”, afirma Capodici.
Ajustamento
Para esclarecer a questão, a equipe de pesquisadores, que inclui as universidades de Cambridge, no Reino Unido, e Stanford, nos Estados Unidos, pesquisou literatura médica de janeiro de 2000 a junho de 2023, que compilou evidências de estudos anteriores. Assim, foi criada uma “revisão guarda-chuva”, com diversos artigos no estilo meta-análise. Os dados foram ajustados e depois avaliados.
A principal conclusão é que, em geral, as dietas vegetarianas e veganas têm uma associação estatística robusta com melhorias nos factores de risco associados tanto às doenças cardiovasculares como ao cancro, tais como a pressão arterial, a glicemia e o índice de massa corporal (IMC). Embora não indiquem uma relação de causa e efeito, estes estudos demonstraram que, entre os adeptos de um estilo alimentar baseado em vegetais, há menos casos de doenças isquémicas cardíacas, cancro gastrointestinal e cancro da próstata.
Os autores observam que existem limitações importantes no estudo, como o fato dos estudos avaliados apresentarem muitas diferenças estatísticas e metodológicas, como o tempo de seguimento. Segundo os pesquisadores, mais pesquisas precisam ser feitas antes de recomendar uma dieta baseada em vegetais em larga escala.
Contudo, sublinham que, em relação ao cancro e às doenças cardiovasculares, as evidências dos impactos de uma dieta vegetariana ou vegana são positivas. “Nosso estudo avalia os diferentes impactos de dietas sem produtos de origem animal na saúde cardiovascular e no risco de câncer, mostrando como uma dieta vegetariana pode ser benéfica para a saúde humana e ser uma das estratégias preventivas eficazes para as duas doenças crônicas de maior impacto na saúde da humanidade no Século 21″, escreveram.
Rins
Segundo a nefrologista Caroline Reigada, especialista em medicina intensiva da Associação Brasileira de Medicina Intensiva, estudos mostram que há redução dos valores da pressão arterial com uma dieta baseada em vegetais, o que ajuda a explicar os benefícios cardiovasculares. “Essa relação pode ser explicada pela redução de peso promovida na dieta vegetariana, já que se sabe que a pressão arterial está associada ao peso”, afirma.
Carolina Reigada cita outros mecanismos que vinculam a dieta vegana aos benefícios da redução da pressão arterial. “A ingestão de mais potássio dos vegetais tem efeito diurético; a fibra alimentar melhora a sensibilidade à insulina e a absorção intestinal de magnésio; e a maior ingestão de carboidratos complexos, o que está associado à melhora do perfil lipídico”, observa.
A sensibilidade à insulina também se beneficia com uma dieta baseada em vegetais, destaca o nefrologista. Ela destaca que pesquisas mostram que, quando natural e variada, essa alimentação está associada à redução de até 50% na chance de desenvolver diabetes — um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. “A explicação pode ser o baixo índice glicêmico dos grãos integrais e leguminosas”, diz ela.
Variedade
A nutricionista Marcella Garcez, membro da diretoria da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), destaca, porém, que nem toda alimentação plant-based é saudável, pois produtos ultraprocessados sem origem animal também contêm aditivos prejudiciais à saúde . A base deste estilo alimentar deve ser a escolha de alimentos saudáveis e variados.
“É fundamental maior cuidado com o consumo de proteínas de origem vegetal, como as leguminosas”, ensina Garcez. “O consumo de vegetais folhosos, frutas, grãos, oleaginosas, cogumelos e algas, entre outros, é igualmente importante. O ideal é que esse hábito alimentar seja o mais variado possível, para permitir o fornecimento de todos os nutrientes necessários”, explica.
Autor do Guia de Nutrição Esportiva Vegana da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), lançado recentemente, o nutricionista Filipe Testoni afirma que, se bem orientada, uma alimentação baseada em vegetais atende a todas as necessidades do organismo. “Embora ainda viva, a resistência à ideia de que uma dieta baseada em vegetais pode oferecer toda a nutrição necessária para um ótimo desempenho esportivo perdeu força, tanto entre o público em geral quanto entre os próprios profissionais de saúde”, comemora. “O que ainda falta para que esse tipo de alimento se popularize é informação sobre como planejar e implementar efetivamente essas mudanças de forma prática”, acredita.
Cada vez mais fãs
Entre 2012 e 2022, o número de empresas abertas com o termo “vegano” cresceu mais de 500%, segundo o Ministério das Finanças. O dado reflete o aumento no número de brasileiros que se declaram vegetarianos ou veganos: a pesquisa mais recente, do Ibope, mostrou um aumento de 75%, comparando números de 2012 e 2018. A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima 7 milhões de brasileiros de adeptos deste tipo de alimentação.
Aumento de seguidores
Entre 2012 e 2022, o número de empresas abertas com o termo “vegano” cresceu mais de 500%, segundo o Ministério das Finanças. O dado reflete o aumento no número de brasileiros que se declaram vegetarianos ou veganos: a pesquisa mais recente, do Ibope, mostrou um aumento de 75%, comparando números de 2012 e 2018. A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima 7 milhões de brasileiros de adeptos deste tipo de alimentação.
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br