Reconstrução mamária é o nome dado à cirurgia plástica que ocorre após a mastectomia, operação de retirada da mama em detrimento do câncer local. A reconstrução pode ser feita tanto em mulheres quanto em homens, pois também podem ter câncer de mama. O procedimento leva em consideração diversos fatores, como tamanho e formato, para que o resultado seja o mais natural possível.
O Lei de Reconstrução Mamária (12.802/2013) garante que o paciente seja submetido à cirurgia pelo SUS no momento da retirada do tumor, caso haja condições clínicas, ou assim que o médico determinar que o paciente possui os requisitos necessários para essa retirada. A Agência Nacional de Saúde (ANS) também determina que os planos de saúde cubram cirurgias após mastectomia.
A Dra. Marcela Cammarota, cirurgiã plástica e membro do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, destaca a importância do procedimento não apenas como fator físico, mas também psicológico. “Aqueles pacientes que não têm acesso à reconstrução são fortemente afetados por problemas físicos e psicológicos, queda na autoestima, afetando diretamente seus relacionamentos amorosos e conjugais, bem como sua vida social e profissional”.
No Brasil, o número de mulheres que realizam reconstrução mamária após diagnóstico de câncer de mama é significativo na rede privada, mas ainda está abaixo do ideal na rede pública, principalmente pela falta de acesso em algumas regiões. A médica afirma que “fatores como disponibilidade de equipes especializadas e infraestrutura hospitalar limitam o acesso de muitas mulheres ao procedimento”.
Critérios clínicos, psicológicos e benefícios da reconstrução mamária
O médico Leonardo Dias, coordenador do serviço de mastologia do Hospital Mater Dei Salvador, revela que o primeiro critério clínico para a reconstrução mamária é observar a anatomia da paciente e o tamanho da lesão. Na retirada parcial da mama, múltiplas técnicas são utilizadas para reestruturar o órgão, enquanto na retirada completa as técnicas contam com o auxílio de próteses e do tecido corporal da paciente para desenvolver a estrutura.
Em relação ao estado psicológico do paciente, o especialista afirma que quem se envolveu mais negativamente com a doença tende a ficar insatisfeito com os resultados. Neste caso, o “abraço” da equipe profissional é necessário para confortá-lo. “O psiquiatra, o psicólogo, o radioterapeuta, o oncologista clínico, todos precisam muito acolher essa paciente e ter um cuidado especial com ela. A rede de apoio também é muito importante para que a paciente se sinta bem consigo mesma.”
Os benefícios também estão alinhados com questões psicológicas, com fatores que influenciam a autoestima e como a mulher se vê após a reconstrução mamária. Também ocorrem frequentemente redução da ansiedade, depressão e melhora nas relações interpessoais. “Temos pesquisas que mostram que cerca de 75% das mulheres sentiram melhora na qualidade de vida após a reconstrução mamária.”
Desafio na busca pela reconstrução mamária no Brasil
“Na última década, menos de 23% das mulheres brasileiras que realizaram retirada de mama por câncer passaram por reconstrução”, afirma Alexandre Ben, coordenador de relações institucionais e defesa da Femama. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 20 mil mulheres aguardam realizar cirurgia plástica de reconstrução mamária pelo SUS.
A reconstrução mamária é um direito garantido por lei no Brasil, porém nem sempre é realizada no momento oportuno mais próximo. “O atraso pode ocorrer por diversos fatores, incluindo falta de centros médicos qualificados, falta de profissionais capacitados e escassez de recursos”. O maior obstáculo é, de facto, a acessibilidade ao procedimento.
Alexandre Ben destaca ainda que toda mulher tem direito à reconstrução mamária em decorrência de mutilação decorrente de tratamento de câncer de mama, independentemente da idade, desde que esteja clinicamente apta. “As mulheres que sofrem mutilação mamária total ou parcial têm direito à cirurgia plástica reparadora imediata, quando possível, ou à cirurgia retardada, tanto pelo plano de saúde quanto pelo SUS”, afirma.
A especialista afirma que, em 2023, o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM/MS nº 127, de 13 de fevereiro de 2023, para ampliar a rede de hospitais habilitados para o procedimento de reconstrução mamária em pacientes submetidas à retirada de mama. “A legislação, portanto, já prevê a implementação de políticas públicas para atender a demanda dessa população, mas a distribuição dos recursos acaba concentrada nos grandes centros urbanos.”
*Estagiário sob supervisão Pedro Grigori
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