A duas semanas da Conferência Climática de Baku, no Azerbaijão (COP29), que começa em 11 de novembro, dois documentos das Nações Unidas alertam que o mundo está a caminhar na direção errada na luta contra as alterações climáticas. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), as emissões de gases com efeito de estufa bateram um novo recorde no ano passado e o dióxido de carbono (CO2) acumula-se na atmosfera mais rapidamente do que em qualquer outro momento da existência humana. Ao mesmo tempo, os compromissos nacionais para inverter a trajetória estão muito abaixo do necessário, afirma um documento técnico da ONU.
Todos os anos, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) monitoriza as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), metas estabelecidas por cada signatário do Acordo de Paris para evitar que o aumento da temperatura global exceda 1,5°C até ao final do século. Publicado ontem, o relatório técnico de 2024 mostra que os compromissos climáticos assumidos por 195 países reduzirão as emissões de gases com efeito de estufa em apenas 2,6% até 2026, em comparação com os níveis de 2019.
A síntese traz informações dos últimos 168 planos climáticos comunicados à ONU até 9 de setembro —o Brasil está entre os países que reportaram atualizações nas NDCs. Considerando os dados apresentados pelos signatários, as emissões totais de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis atingirão, em 2030, 51,5 gigatoneladas de CO2 equivalente. Este número exclui liberações provenientes de desmatamento e atividades agrícolas.
Pico
As emissões previstas são 49,8% superiores às de 1990. Isto indica que é possível que as emissões globais de gases com efeito de estufa atinjam o seu pico antes de 2030. vidas e meios de subsistência em todos os países”, comentou, em nota, Simon Stiell, secretário executivo da UNFCCC.
Stiell destacou que a próxima rodada de NDCs, que devem ser apresentados até fevereiro de 2025, deverá apresentar “um aumento dramático” na ação e ambição climáticas. “Embora estes planos não sejam universais e sejam determinados a nível nacional, devem ter novas metas ambiciosas de emissões que abranjam toda a economia, abrangendo todos os gases com efeito de estufa, mantendo viva a meta de 1,5°C”, continuou Stiell. “Devem ser divididos em sectores e gases. E devem ser credíveis, apoiados por regulamentos, leis e financiamento substanciais para garantir que as metas sejam cumpridas e os planos implementados”, disse ele.
Embora o Brasil tenha sido um dos 34 países a atualizar suas NDCs, Juliano Bueno de Araújo, doutor em Riscos e Emergências Ambientais e diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, considera que o potencial de cumprimento delas é baixo. “A lenta implementação das políticas climáticas e a falta de ações eficazes estão limitando a capacidade do Brasil de reduzir as emissões”, afirma. “Para reverter esta situação é fundamental adotar medidas mais ambiciosas e acelerar a transição energética”, avalia.
“A poluição por gases com efeito de estufa a estes níveis garantirá o naufrágio humano e económico para todos os países, sem excepção”, alertou Stimon Stiell. “O relatório sumário da UFCCC deverá marcar um ponto de viragem, encerrando a era da insuficiência e desencadeando uma nova era de aceleração, com novos e muito mais ousados planos nacionais de acção climática de todos os países no próximo ano.”
Boletim
A meta de 1,5 °C até ao final do século é tecnicamente possível, de acordo com o PNUA, mas o desafio de alcançá-la aumenta a cada novo recorde quebrado. O novo Boletim Anual de Gases com Efeito de Estufa da OMM informa que a concentração média global de CO2 atingiu, em 2023, 420 partes por milhão (ppm). O metano foi de 1.934 partes por bilhão (ppb) e o óxido nitroso foi de 336,9 ppb. Estes valores correspondem a 151%, 265% e 125% dos níveis pré-industriais, respetivamente, no século XIX.
“Mais um ano. Outro recorde. Isto deve soar o alarme entre os tomadores de decisão. Estamos claramente fora do caminho para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C e apontar para 1,5°C acima da era pré-industrial. níveis”, reagiu Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
O aumento de CO2 na atmosfera em 2023 foi superior ao de 2022, embora inferior ao dos três anos anteriores. Pela 12ª vez consecutiva, o crescimento anual ultrapassou 2ppm. A última vez que a Terra concentrou tanto dióxido de carbono foi há 3 a 5 milhões de anos, quando a temperatura era 2°C a 3°C mais quente, com o nível do mar até 20 m mais alto do que o actualmente registado.
“É evidente que as alterações climáticas estão a acelerar, em vez de continuarem de forma constante”, afirma Richard Allan, professor de ciências climáticas na Universidade de Reading, no Reino Unido. “Parar o aquecimento global através da estabilização do clima da Terra e da limitação dos danos causados pelo agravamento das condições meteorológicas extremas e pela subida do nível do mar só é possível através de cortes rápidos e massivos nas emissões.”
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