Por Pierre CELERIER — Os anéis de Saturno podem ser mais antigos do que se pensava e sua aparência brilhante pode resultar de um mecanismo que os impede de escurecer apesar do impacto de micrometeoritos, segundo estudo publicado nesta segunda-feira (16).
Saturno, o gigante gasoso do sistema solar, surgiu junto com os outros planetas há mais de 4 bilhões de anos. No entanto, de acordo com pesquisas recentes, seus anéis têm apenas entre 100 e 400 milhões de anos, segundo o estudo publicado em Geociências da Natureza.
Estas estimativas baseiam-se principalmente no facto de os anéis manterem um elevado poder reflexivo, apesar de serem constantemente bombardeados por micrometeoritos que, em teoria, deveriam eventualmente diminuir o seu brilho.
Este bombardeamento foi medido com precisão pela sonda Cassini-Huygens, que passou 13 anos na órbita de Saturno até 2017.
Apesar disso, pouco se sabe ainda sobre os seus anéis, detectados já no século XVII pelo astrónomo holandês Huygens, depois de Galileu.
Os anéis formam um disco fino, composto principalmente por água congelada e, em menor quantidade, por minerais. Os círculos concêntricos estendem-se por mais de 100 mil km do planeta.
“Uma das principais conclusões da Cassini é que os anéis deveriam ser jovens porque não parecem estar muito contaminados”, disse à AFP Gustavo Madeira, pesquisador de pós-doutorado no Instituto Globe de Física de Paris e coautor do estudo.
A contaminação explicaria o tom amarelado e cinza predominante nos anéis, o que indica que eles estão “acumulando”, segundo os astrônomos, uma quantidade considerável de micrometeoritos que sujam o gelo original.
Juventude eterna
Mas o estudo liderado por Ryuki Hyodo, investigador do Instituto de Ciência de Tóquio, sugere que “a aparente juventude dos anéis de Saturno se deve à resistência à contaminação, e não a uma fase recente da sua formação”.
O modelo desenvolvido simula o impacto de micrometeoritos sobre gelo ou fragmentos siliciosos nos anéis.
Neste cenário, a velocidade das partículas é tipicamente de 30 km/s, ou seja, mais de 100 mil km/h. A colisão gera energia suficiente para vaporizar tanto o micrometeorito quanto parte de seu alvo.
As nanopartículas resultantes do impacto não permanecem nos anéis, mas são expelidas pela ação do campo magnético do planeta e depois são capturadas na atmosfera ou lançadas ao espaço.
Esse fenômeno permite proteger os anéis da contaminação por micrometeoritos e manter uma espécie de juventude eterna.
O problema continua a ser que, “por exemplo, não conhecemos a composição inicial dos anéis de Saturno” no momento da sua formação, aponta Gustavo Madeira.
“Presumimos que seja gelo, mas não sabemos realmente”, acrescenta.
Os planetologistas especulam que os anéis podem ter origem em fragmentos de cometas, asteróides ou mesmo de antigas luas de Saturno.
Esta falta de certeza significa que o debate sobre a idade dos anéis está longe de ser concluído.
Para resolver a questão, o ideal seria “recolher amostras dos anéis e analisar as suas propriedades”, sugere Madeira.
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