Açúcar adicionado e sódio são os “vilões” quando se trata da relação entre câncer de estômago e alimentação. A constatação é de uma pesquisa brasileira, divulgada nesta terça-feira (21/1), realizada com 1.751 participantes em quatro capitais: São Paulo, Goiânia, Fortaleza e Belém.
O estudo considerou padrão alimentar pouco saudável aquele que inclui alto consumo de carnes processadas, refrigerantes ricos em açúcar e comida rápida. Por outro lado, o padrão saudável é caracterizado por alto consumo de vegetais, frutas e baixo teor de sódio.
Os pesquisadores observaram que a alimentação pouco saudável está associada ao aumento da chance de câncer gástrico, sendo que os açúcares adicionados aos alimentos contribuem de 7% a 21% nessa relação. O consumo de sódio é o principal fator mediador na associação do padrão saudável e do risco de adenocarcinoma gástrico (tumor maligno que se desenvolve na camada mais interna do estômago).
“Cada região e cultura do Brasil tem seu comportamento. Os hábitos alimentares dos moradores de Belém não são os mesmos de Goiânia ou São Paulo, mas podem levar à mesma doença. Optamos por fazer caso-controle, ou seja, para cada paciente procuramos outro indivíduo sem doença na mesma região. Também apresentamos um grupo que fez endoscopia e não tinha câncer. Demorou, mas obtivemos um resultado importante que contribui para elucidar os mecanismos envolvidos no câncer gástrico do ponto de vista epidemiológico, com implicações para a saúde pública”, disse a oncologista Maria Paula Curado à Agência Fapesp.
Segundo o estudo, a ingestão excessiva de sódio tem efeitos nocivos na mucosa gástrica, resultando em inflamação e interações com colonização por Helicobacter pyloribactérias comumente encontradas no estômago, mas que podem causar gastrite e até mesmo levar ao câncer. Vale ressaltar que mesmo produtos rotulados como “grãos integrais”, incluindo cereais matinais, pães e biscoitos, também podem conter alto teor de sódio.
“A população carece de informação sobre alimentação. Não é terrorismo, mas sim popularizar o tema, explicando mais sobre dieta, ensinando os profissionais de saúde, falando sobre isso nos postos de atendimento. É preciso criar uma filosofia de educar, informar e respeitar a cultura de cada região. Não adianta dizer para alguém que come churrasco todos os dias que não poderá mais comê-lo porque vai morrer de câncer. Não é assim. Você precisa informar sobre os riscos. O que queremos é prevenir, diagnosticar precocemente e ensinar uma alimentação saudável de forma prática e adaptada à realidade”, explica Maria Paula Curado.
Na pesquisa, os cientistas destacam que o Brasil implementou, em 2022, uma legislação de rotulagem de alimentos para melhorar a compreensão das informações nutricionais e ajudar os consumidores a fazerem escolhas informadas.
Pelas novas regras, é obrigatória a exibição do símbolo da lupa quando os produtos contêm, por exemplo, 600 miligramas ou mais de sódio por 100 gramas de alimento sólido ou 15 gramas ou mais de açúcar adicionado por 100 gramas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de sódio seja inferior a 2 gramas por dia, o equivalente a 5 colheres pequenas de sal. Os brasileiros consomem quase o dobro da recomendação diária.
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Em relação ao açúcar adicionado, o consumo máximo deve ser equivalente a 10% das calorias diárias. Isso significa que, em uma dieta de 2 mil calorias, por exemplo, esse percentual representa 50 gramas de açúcar por dia ou até dez colheres de chá.
O estudo foi publicado na revista científica Medicina BMC e pode ser acessado na íntegra neste link.
*Com informações da Agência Fapesp
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