As mudanças climáticas afetam o organismo humano muito além do que se imagina. Um estudo mostra que quanto mais altas as temperaturas, maior a incidência de enxaquecas em pessoas que têm o diagnóstico. Foi o que concluiu a pesquisa, realizada por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Cincinnati, Icahn School of Medicine at Mount Sinai, nos Estados Unidos, que analisou 660 pacientes e seus laudos. Para os cientistas, a suspeita sobre esta influência é tão antiga que remonta aos tempos de Hipócrates, o Pai da medicinana Grécia Antiga.
“A mudança climática é um dos gatilhos mais comuns da enxaqueca”, diz o principal autor do estudo, Vincent Martin, MD, diretor do Centro de Dor de Cabeça e Dor Facial do UC Gardner Neuroscience Institute e UC Health. referindo-se aos resultados da pesquisa divulgada ontem e apresentada na 66ª Reunião Científica Anual da American Headache Society, este mês, em San Diego, Califórnia, nos Estados Unidos.
Para o estudo, foram cruzados 71.030 registros diários de 660 pacientes que sofrem de enxaqueca e dados meteorológicos regionais e descobriu-se que para cada variação de temperatura de 10 graus Fahrenheit, o equivalente a 12º Celsius (ºC) negativos, por dia, havia 6 % de aumento na ocorrência de queixas de dor de cabeça.
“O que descobrimos foi que o aumento das temperaturas foi um fator significativo na ocorrência de enxaquecas em todas as regiões dos Estados Unidos”, diz Martin. Al Peterlin, que se aposentou como meteorologista-chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e coautor do estudo, lembrou-se de Hipócrates. “O pai da medicina acreditava que o clima e a medicina estavam intimamente ligados”, destaca. “Milhares de anos depois, estamos provando que o clima é importante para a saúde humana”.
Um estudo, de 2023, divulgado pela Universidade de São Paulo (USP) envolvendo o Centro de Dor do Hospital das Clínicas e a Faculdade de Medicina da USP, indicou que no mundo há 1 bilhão de pessoas que sofrem da doença, com 20% 30% são mulheres e 6% a 15% homens. Economicamente, os impactos são imensos, pois muitas pessoas ficam impossibilitadas de trabalhar.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaléia, as enxaquecas afetam mais de 30 milhões de pessoas somente no Brasil. Especialistas alertam sobre as diferenças entre enxaquecas e dores de cabeça em geral – chamadas de cefaleias tensionais. A doença afeta duas a três mulheres para cada homem, geralmente a partir dos 20 a 30 anos de idade, e a genética pode ser um dos fatores de sua causa.
Prevenção
Os pesquisadores agora buscam verificar se o medicamento à base de fremanezumabe, administrado por injeção, pode prevenir a doença caso a temperatura ambiente seja influenciada. O medicamento é produzido a partir de um conjunto de anticorpos monoclonais capazes de bloquear uma proteína conhecida como CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), responsável pela transmissão de dores no cérebro e no sistema nervoso.
O medicamento fremanezumab é comercializado e indicado para o tratamento preventivo de enxaquecas em adultos que se queixam de pelo menos quatro dias de episódios de enxaqueca por mês. No entanto, os investigadores querem ver até que ponto este medicamento tem efeitos positivos para quem sofre da doença devido à influência do clima. Os resultados desses estudos ainda não foram divulgados.
Diferenças
As enxaquecas geralmente afetam um lado da cabeça com intensidade moderada a grave e podem ser latejantes e incapacitantes, às vezes causando náuseas, além de desconforto com luz e ruídos. A recomendação é que se houver três ou mais dores de cabeça por mês, ao longo de três meses, é fundamental procurar ajuda médica para um tratamento específico.
Para a Sociedade Brasileira de Cefaléia, existem vários tipos de tratamento para enxaqueca, que vão desde medicamentos, fitoterápicos, neuroestimuladores periféricos, bloqueios anestésicos, acupuntura até toxina botulínica. Mas especialistas alertam que cada paciente deve ter um tratamento personalizado com planejamento terapêutico definido em consulta médica.
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