O foguete Ariane 6, da Agência Espacial Europeia (ESA) decolou nesta terça-feira (07/09) às 16h, da Guiana Francesa. O voo, com duração aproximada de três horas, representou o retorno dos países europeus ao espaço. A missão inaugural conseguiu colocar satélites em órbita e ativar experimentos a bordo. Embora o final da missão não tenha sido o esperado e o estágio superior do foguete não tenha retornado à Terra, o lançamento foi considerado um grande sucesso pela ESA.
Conforme divulgado, a unidade de potência auxiliar do estágio superior sofreu uma “anomalia técnica” e desligou o motor antes do previsto, fazendo com que as cápsulas de reentrada não fossem liberadas e o estágio permanecesse em órbita, impossibilitado de retornar à Terra, conforme planejado. . Porém, o ocorrido não deve afetar os planos da ESA, que já tem 29 lançamentos programados com o Ariane 6. As expectativas em relação ao novo veículo eram grandes, já que a aposentadoria do Ariane 5, em julho de 2023, deixou a Europa sem equipamento de lançamento próprio.
Alguns atrasos
Além de esperar quatro anos, devido a problemas técnicos, à pandemia e à guerra na Ucrânia, espectadores e engenheiros tiveram que esperar mais uma hora para o início da missão. Como parte da operação padrão, verificações de rotina em alguns equipamentos identificaram um pequeno problema no sistema de aquisição de dados, que foi rapidamente resolvido.
A inauguração do Ariane 6, com 56 metros de comprimento, não era um voo comercial e servia para transportar cargas diversas. Transportou uma dezena de microssatélites — colocados em órbita — e equipamentos para realizar diversos experimentos. Também transportava duas cápsulas de entrada atmosférica desenvolvidas pela startup franco-alemã The Exploration Company e Arianegroup, destinadas a preparar cargas espaciais para abastecer estações espaciais.
“Este é um grande momento para a Europa, pois o foguetão irá garantir o nosso acesso autónomo ao espaço e a toda a ciência, observação da Terra, desenvolvimento tecnológico e possibilidades comerciais que isso implica”, afirmou a Agência Espacial Europeia (ESA) num comunicado. comunicado.
De um bunker no centro de lançamento, mais de 200 especialistas acompanharam a trajetória do Ariane 6. “Impulso nominal, trajetória conforme esperado”, anunciou Raymond Boyce, diretor de operações.
Para Lucas Fonseca, engenheiro espacial e ex-membro da Missão Rosetta da ESA, o lançador Ariane 6 poderá ser a continuação da bem-sucedida família de foguetes Ariane, que durante anos serviu como vetor europeu para enviar grandes cargas ao espaço. “O mercado de lançadores espaciais vive um momento muito dinâmico, principalmente devido ao grande sucesso da SpaceX. O Ariane 6 surge como resposta a um mercado que exige flexibilidade de missão a custos cada vez mais acessíveis.”
Segundo Fonseca, embora a indústria espacial europeia não tenha a mesma procura que o mercado americano ou chinês, a atualização do foguete principal permite manter um programa espacial autónomo e com um certo poder competitivo. “Com o veículo em operação e demonstrando a boa confiabilidade que a família Ariane costuma apresentar, a ESA tem a chance de pensar em diversas novas missões com características bem diferenciadas, já que o lançador tem capacidade de transportar grandes cargas ou mesmo particionar cargas de médio porte e distribuídos em órbitas diferentes no mesmo lançamento.”
Nesta primeira missão houve um “risco”, apesar dos numerosos testes e simulações no solo realizados nos últimos meses, explicou Philippe Baptiste, chefe da agência espacial francesa CNES, que se mostrou “confiante”, tal como os responsáveis pelo voo. . Historicamente, quase metade dos primeiros lançamentos de foguetes enfrentaram falhas, como em 1996 com o Ariane 5, que, no entanto, só teve dois grandes problemas num total de 117 missões.
O Ariane 6 tem capacidade para colocar satélites geoestacionários a uma altitude de 36 mil quilómetros e constelações de satélites a centenas de quilómetros da Terra. Para isso, o estágio superior do foguete conta com o motor Vinci, principal novidade.
Mais voos
Após a inauguração, serão necessários meses para analisar os dados transmitidos pelos múltiplos sensores do foguete antes de um primeiro lançamento comercial no final do ano, provavelmente com o satélite de observação militar francês CSO-3.
O próximo desafio será “aumentar a frequência” dos voos, segundo Toni Tolker-Nielsen.
Com a estreia bem-sucedida do Ariane 6, o lançador já tem 29 solicitações de missões agendadas. A ESA pretende utilizar o foguete para lançar um satélite de defesa francês em dezembro e realizar mais seis missões em 2025 e oito em 2026.
Salvador Nogueira, divulgador científico e autor de livros sobre astronomia, reforça que o lançamento coloca a Europa novamente “no jogo”, com autonomia para realizar lançamentos de médio e grande porte. “Foi dominante no mercado de lançamento de satélites comerciais com o Ariane 4. Com o Ariane 5, manteve autonomia, mas já atrás de empresas como a SpaceX. O Ariane 6 devolverá aos europeus essa capacidade de lançar até satélites de grande porte e terá uma configuração mais modesta. “
Nogueira destaca que houve a opção de não desenvolver o reaproveitamento. “O que mantém o custo do Ariane 6 competitivo, mas ainda caro. A tendência é que o mercado comercial continue dominado pela SpaceX nos próximos anos, embora a Arianespace já tenha voos contratados para o novo foguete, 18 deles para a Amazon , que pretende criar uma constelação de satélites para competir com o Starlink da SpaceX.”
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