Embora as tecnologias nos forneçam imagens e dados geológicos de Marte, sabemos muito pouco sobre o planeta. Como era há bilhões de anos? Seria um local quente, com rios e oceanos, ou um local congelado, menos propício ao surgimento da vida? Cientistas da Universidade de Las Vegas (EUA) publicaram um estudo que pode ajudar a resolver esta questão.
Na pesquisa, publicada no dia 7 de julho na revista científica Comunicações Terra e Meio Ambiente, os pesquisadores procuraram solos terrestres com substâncias comparáveis à cratera Gale, em Marte. O solo mais parecido com a cratera foi encontrado no Canadá, em clima subpolar, onde as temperaturas podem chegar a -15ºC.
O estudo do solo é uma ferramenta importante para compreender a evolução de um ecossistema ao longo do tempo. O solo e as rochas da Cratera Gale fornecem um registo do clima de Marte há 3 a 4 mil milhões de anos — uma época em que a água era relativamente abundante no planeta e a vida se desenvolvia na Terra.
“A cratera Gale é um paleolago [lago que não existe mais], e obviamente havia água presente. Mas como eram as condições climáticas quando a água estava lá?”, pergunta Anthony Feldman, um dos autores do estudo.
O robô Curiosity Rover da NASA investiga a cratera desde 2011 e encontrou substâncias em seu solo que são “amorfas aos raios X”. Isso significa que eles não podem ser facilmente identificados usando métodos tradicionais, como o raio-X. Cerca de 73% das amostras de solo e rocha testadas na cratera Gale eram amorfas em raios X.
A equipe visitou então três locais terrestres em busca de materiais amorfos de raios X semelhantes aos da cratera: o Parque Nacional Gros Morne, no Canadá, as Montanhas Klamath, no norte da Califórnia, e o oeste de Nevada. Os locais escolhidos tinham solos serpentinos que os investigadores esperavam que fossem quimicamente semelhantes ao material amorfo de raios X da Cratera Gale – rico em ferro e silício, mas com falta de alumínio.
As condições subárticas no Canadá produziram materiais quimicamente semelhantes aos encontrados em Marte. Os solos produzidos em climas mais quentes, como Califórnia e Nevada, não o fizeram.
“O resultado demonstra que é necessária água para formar esses materiais, mas as condições de temperatura média anual precisam ser frias, próximas do congelamento, para preservar o material amorfo no solo”, considera Feldman.
O geomorfólogo conclui dizendo que é impossível encontrar na Terra um solo idêntico ao de Marte, pois as condições climáticas são muito diferentes entre os dois planetas. No entanto, as descobertas poderão ajudar a responder questões sobre a geomorfologia do planeta vermelho.
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