A semana marca uma data que, para os judeus, pode ser comparada ao Holocausto: um ano dos ataques do Hamas a Israel, massacre que levou ao assassinato de 1.400 pessoas e ao sequestro de outras 250. Autoridades, personalidades e especialistas Em outubro Dia 8, na Câmara dos Deputados, abordaram temas relacionados ao combate ao antissemitismo e ao combate ao terrorismo. O evento foi também uma homenagem pública às vítimas do ataque, no meio da escalada do conflito no Médio Oriente com o bombardeamento israelense do Líbano e do Irão e a morte de mais de 40.000 palestinianos.
Após o ataque de 7 de outubro de 2023, foi registado um aumento significativo de casos de antissemitismo a nível mundial. De acordo com o Relatório Anual sobre Antissemitismo de 2024, o número de incidentes envolvendo violência e discriminação contra a comunidade judaica aumentou cerca de 30% em comparação com o ano anterior. No Brasil, entre outubro e dezembro de 2023, o número de reclamações cresceu quase 800% em relação ao mesmo período, segundo a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo.
Em entrevista ao Correio, Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), afirma que, apesar do crescimento do preconceito contra os judeus, os brasileiros ainda são receptivos à comunidade judaica. “O anti-semitismo aqui é muito inferior ao vivido noutras partes do mundo, algo que diz muito sobre a boa natureza do nosso povo”, afirma.
Um ano após o ataque do Hamas a Israel, estarão os judeus mais seguros ou em maior risco face a tantos inimigos?
O ataque bárbaro promovido pelo Hamas há um ano foi apenas o início de uma campanha orquestrada pelo Irão para atacar Israel em diversas frentes, utilizando os outros grupos jihadistas que a teocracia iraniana arma e financia na região, como o Hezbollah no Líbano, os Huthis no Iémen, as milícias no Iraque e na Síria. Outra parte importante da estratégia iraniana é mobilizar activistas e a opinião pública global contra Israel e aqueles que apoiam Israel. Isto levou a um aumento explosivo de ataques e ameaças contra judeus em todo o mundo, inclusive no Brasil. Acredito que no final desta guerra trágica, Israel estará mais seguro, mas a um custo muito elevado e lamentável para todos na região. Como judeus, pela nossa história, temos muita resiliência e estamos unidos diante desta nova realidade.
A negociação seria uma forma mais eficiente de libertar judeus sequestrados?
Estão em curso negociações para a libertação dos israelitas raptados, mas é muito difícil negociar com um grupo extremista que adora a morte e usa deliberadamente o seu povo como escudo humano. O Hamas é o principal obstáculo a um acordo para a libertação dos reféns.
As Forças Armadas israelenses divulgaram um balanço com os números do último ano. Segundo eles, ocorreram 40 mil ataques a posições de grupos terroristas palestinos na Faixa de Gaza. Foram localizadas 4.700 entradas para a rede de túneis do Hamas e mil lançadores de foguetes foram destruídos. Este grupo terrorista está neutralizado?
A estratégia do Hamas é usar os palestinianos como escudos humanos e esconder-se atrás deles, mesmo que isso provoque morte e destruição. Pelo que vimos, o número de ataques do Hamas contra Israel diminuiu muito, e o grupo terrorista não tem mais capacidade de atuar como exército, com brigadas e organização militar. O Hamas foi derrotado militarmente, mas ainda tem força para aterrorizar os palestinianos. Gaza estará em situação muito melhor quando se libertar do domínio do Hamas.
A história mostra muitos episódios de perseguição aos judeus. A guerra contra o Hamas e o Hezbollah, com ataques a Gaza e ao Líbano, alimenta o ódio por Israel?
Sim. Uma parte importante da estratégia do Irão é a difamação de Israel no mundo através de narrativas falsas. Mas também estamos vendo muito apoio a Israel e aos judeus em várias partes do mundo e no Brasil. Muitas pessoas percebem quão falsas são as narrativas que o Irão, o Hamas e os seus aliados tentam propagar sobre o conflito actual. Houve um cessar-fogo em Gaza e no Líbano até que o Hamas e o Hezbollah provocaram esta guerra, sob o comando do Irão. Israel está se defendendo. Muitas pessoas entendem isso, apesar das falsas narrativas.
Até onde vão esses ataques?
O Irão e os grupos extremistas que Teerã financia querem destruir Israel e os judeus. Eles têm dito isto há décadas, abertamente, nas suas cartas de fundação, nas suas declarações públicas, na televisão e nas suas redes. É a causa principal deles. Estes ataques estão sujeitos a esta visão agressiva e totalitária, por isso não têm limites.
Como o senhor avalia a posição do presidente Lula em relação a Israel? Classificou como “inexplicável” o facto de o Conselho de Segurança das Nações Unidas não ter “autoridade” para fazer Israel sentar-se à mesa para conversar e preferir bombardear o Líbano.
O governo Lula abandonou a nossa tradição diplomática de equilíbrio e moderação e os profundos laços históricos com Israel. Abordou a teocracia iraniana, que é responsável pela guerra atual e de forma alguma se alinha com os valores que o governo afirma defender, como a defesa dos direitos humanos e da democracia. Israel tem todo o interesse em negociar a paz com o governo libanês, mas o governo libanês, infelizmente, não tem poder sobre o Hezbollah, que é controlado pelo Irão. O Hezbollah começou a bombardear Israel um dia após o ataque do Hamas para ajudar o grupo terrorista palestino. Dezenas de milhares de israelenses tiveram que deixar o norte de Israel por causa desses ataques. Israel passou 11 meses alertando o Líbano e o mundo que esta situação era intolerável e reagiria se estes ataques continuassem.
Lula chegou a comparar a morte de palestinos por Israel ao genocídio de judeus perpetrado pelo regime nazista de Adolf Hitler. Como você avalia esta afirmação?
Muitos brasileiros e muitos países condenaram esta comparação absurda e ofensiva. Mostra um absoluto desconhecimento da realidade, uma distorção totalmente tendenciosa da situação. Muito triste ver nosso presidente dizer algo assim.
Existe antissemitismo no Brasil?
Sim, e ele cresceu desde o início desta guerra. Mas é importante destacar que o Brasil é um país muito acolhedor para os judeus, e contamos com o apoio e a simpatia da grande maioria dos brasileiros. Nossos ancestrais chegaram ao Brasil há séculos e desde então nos integramos plenamente ao tecido social e produtivo brasileiro. O anti-semitismo aqui é muito inferior ao vivido noutras partes do mundo, algo que diz muito sobre a boa natureza do nosso povo.
Como se sente o povo judeu um ano após o massacre de 7 de Outubro?
Muita tristeza, obviamente. O massacre do Hamas foi bárbaro. O pior ataque aos judeus desde o Holocausto. A tristeza aumentou quando vimos sectores minoritários da sociedade reagirem com ódio a Israel, apesar de Israel ter sido vítima deste ataque. Mas, como disse, vemos também o apoio e a simpatia da maioria das pessoas e dos líderes, o que nos dá esperança e força para enfrentar este momento difícil.
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