Por Fernando Iódice* — Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um cenário econômico desafiador, em que as taxas de inadimplência atingem índices elevados, enquanto cresce a exigência da população por aprovação de crédito. Esta situação foi agravada especialmente pela pandemia, que aumentou a vulnerabilidade financeira da população.
Dados recentes da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelam que o percentual de famílias brasileiras endividadas chegou a 78% em 2024. Ao mesmo tempo, o número de brasileiros que buscam crédito continua crescendo, atingindo a marca 24,8 milhões de pedidos de aprovação nos últimos 12 meses, segundo dados do Consumidor Positivo.
À primeira vista, esses dados podem parecer paradoxais, mas se complementam, pois a inadimplência ainda reflete os impactos causados pela pandemia, como o aumento das taxas de desemprego – que em 2020 foi de 13,8% e, no segundo semestre deste ano, é de 6,9% – e a desaceleração económica. Nesse período, muitas famílias recorreram ao crédito para pagar suas contas e ainda enfrentam dificuldades para honrar esses compromissos. A falta de dinheiro em circulação na economia intensifica a necessidade de procura de crédito, enquanto a elevada taxa de juro aumenta o peso dos encargos financeiros no orçamento familiar, tornando-os mais impactantes do que em anos anteriores.
No entanto, é importante notar que este ciclo da dívida não se deve apenas à crise económica. A falta de uma cultura consolidada de educação financeira entre os brasileiros desempenha um papel importante na manutenção deste cenário.
Educar é necessário
Nosso país não é historicamente conhecido por incentivar a educação financeira desde a infância. No campo da educação formal, poucas instituições incorporam o tema em seus currículos. Além disso, a falta de políticas públicas que incentivem a inclusão deste conhecimento na base educacional faz com que grande parte da população adulta não possua as ferramentas necessárias para gerir adequadamente as suas finanças. Observa-se aqui um círculo vicioso, onde o indivíduo consegue pagar suas dívidas, mas acaba contraindo novas dívidas por falta de ferramentas para se planejar financeiramente. Esse comportamento ajuda a manter um elevado nível de endividamento e impacta as taxas de juros, tornando o crédito sempre mais caro do que poderia ser.
Indo além do campo educacional, para criar uma relação mais saudável com o dinheiro, é necessário que as pessoas busquem entender mais sobre o ambiente econômico em que vivemos, e informações sobre o mercado de trabalho e taxas de juros, por exemplo, impactam nossos vidas. Além disso, aspectos comportamentais e psicológicos também influenciam as decisões financeiras. A forma como os brasileiros veem o consumo, a dívida e o crédito está enraizada em uma cultura de consumo que precisa ser reavaliada. Portanto, promover mudanças na mentalidade coletiva é essencial para resolver o problema da inadimplência no longo prazo.
Longa jornada
Uma mudança significativa no comportamento financeiro da população não ocorrerá da noite para o dia. Porém, ao fomentar uma cultura de educação e planeamento financeiro, podemos reduzir as taxas de inadimplência e, consequentemente, promover uma economia com maior estabilidade e saúde. As empresas e os governos precisam de trabalhar em conjunto para garantir que as novas gerações estejam melhor preparadas para lidar com as suas finanças, criando uma base sólida para o desenvolvimento económico do país.
O caminho para mudar o cenário de inadimplência no Brasil passa necessariamente pela educação financeira. Ao promover o aprendizado contínuo e acessível sobre finanças pessoais, podemos ajudar os brasileiros a tomar decisões mais conscientes e equilibradas, incentivando o uso consciente do crédito como aliado no dia a dia e promovendo um futuro mais sustentável para a economia do país.
*CEO do Consumidor Positivo
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