A festa mais querida pelos motociclistas chega ao fim neste sábado. O último dia da 21ª edição da Capital Moto Week será repleto de ritmo da música carioca, com shows de Blitz e Fernanda Abreu no final. Voz de sucessos como Rio 40degrees e Garota Sanguine, Fernanda se apresenta como solista e também no grupo liderado por Evandro Mesquita, no qual deu os primeiros passos da carreira, ainda em 1980.
O cantor, até então backing vocal, fez parte dos primeiros anos da banda que se tornaria uma das mais longevas da música brasileira, entre 1982 e 1986. A história do Blitz, porém, começa antes mesmo da formação do grupo. No final da década de 1970, o líder Evandro Mesquita ingressou na carreira artística através do grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, ao lado de nomes como Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Perfeito Fortuna e Patricya Travassos.
“As pessoas diziam: ‘Adorei o seu show’. O que fizemos na verdade foram peças teatrais, mas tinham uma energia musical forte”, diz o vocalista. O mundo teatral, então, foi a principal inspiração quando Mesquita começou a fazer música com o amigo Ricardo Barreto, ex-guitarrista do Blitz. “Nosso som tinha essa carga teatral muito forte. A possibilidade de diálogos com as meninas (Fernanda e Márcia Bulcão) foi fundamental para isso, assim como os diálogos musicais e essa presença teatral. backing vocals, eles se adiantaram, dividiram os vocais comigo e foi aí que a Fernanda encaixou como uma luva”, descreve. Segundo Mesquita, o carioca, além de cantor e dançarino, concordou com tudo o que foi proposto em prol das apresentações do grupo. “Fizemos um bom par”, diz ela.
Fernanda, por sua vez, lembra da Blitz como um período de aprendizado. “Para mim, aos 20 anos, foi muito importante fazer parte de uma banda que fez tanto sucesso e que me ensinou sobre relacionamento com gravadoras, executivos, mídia, jornais, televisão, rádio, realização de shows, som, iluminação , coreografias, figurinos e até com público”, enumera a artista. “O Blitz foi realmente meu ensino fundamental, médio, faculdade e mestrado. Fiz meu doutorado na carreira solo”, ela ri.
As duas etapas da vida profissional do carioca se chocam não só em termos de protagonismo, mas também em termos sonoros. “Quando participei do Blitz, era uma banda de pop rock, principalmente rock. Evandro, Antônio Pedro e Barreto têm uma referência muito forte no rock. uma sonoridade totalmente diferente, referenciada na música negra, americana e brasileira. No samba, no hip-hop e no funk carioca, é o pop dance brasileiro que estava surgindo com meu primeiro disco”, explica.
“Eles têm sonoridades muito diferentes e Fernandas também é muito diferente. Uma era backing vocal e a outra dona de uma assinatura e linguagem estética musical próprias”, declara. Na época do lançamento de seu disco de estreia, Sla Radical dance disco club, em 1990, Fernanda dividia o cenário musical com nomes como Gabriel Pensador, Ed Motta, Daniela Mercury, Lenine, Carlinhos Brown, Ivo Meirelles, Funk’n Lata , Planeta Cânhamo e O Rappa. “Foi um momento em que os caras que estavam fazendo um som colocaram um pouco mais de identidade brasileira nas músicas. Até porque na década de 1980 ainda tínhamos uma pegada muito rock, exceto Blitz, que tinha essa pegada carioca. Evandro já falou sobre Jackson do Pandeiro, por exemplo, mas as outras bandas geralmente tinham uma linguagem mais pop rock”, analisa o cantor.
Cariocas da gema
Influenciados diretamente pela capital carioca, Fernanda e Evandro, ao longo de suas carreiras, tornaram-se figuras emblemáticas do Rio de Janeiro. “As pessoas têm em mim uma referência muito forte ao Rio, não só pelo som, mas pela figura e pela minha referência à cidade”, afirma. “Apesar de todos os problemas que o Rio tem, acho que ainda é uma cidade muito carismática, muito charmosa e que carrega uma certa tradução do Brasil, em relação ao país tropical, solar, inventivo, criativo e musical”, avalia o vocalista.
Para Mesquita, espaços como o Circo Voador, uma das principais casas de espetáculos do Rio, foram essenciais para transformar o estado em modelo cultural para o resto do país. “Somos da época da ditadura e da censura, quando o underground fervilhava e os jovens queriam ter voz e opinar. Naquela época, uma nave maravilhosa chamada Circo Voador pousou, em um lugar lindo que fica entre a Praia de Ipanema e Praia de Copacabana, Praia do Arpoador pousou ali, dando voz a essa galera que tinha bandas nas garagens e grupos de teatro como o Asdrúbal”, relata o cantor.
Ao lado dos demais atores, o líder da Blitz percorreu o Brasil. “Éramos um grupo que não se contentava apenas em conversar com o pessoal da Zona Sul, estreamos na Cinelândia, viajamos para Porto Alegre, fomos presos em Santa Maria (RS) e demos cursos de teatro em vários lugares, inclusive em Brasília”, destaques. “Essa vontade de participar da cultura contemporânea do nosso país foi responsável por essa mistura de influências. Blitz é um caldeirão de escolas de samba com Beatles, Bob Marley, Luiz Gonzaga, Moreira da Silva, Noel Rosa, Adoniran Barbosa e esse humor de Música brasileira que sempre existiu, mas com uma linguagem mais poluída”, define o artista.
De forma descontraída, combinando os mais diferentes tipos de sons e uma veia cômica, Blitz resiste ao teste do tempo, e continua com shows esgotados após mais de 40 anos de estrada. “Ainda estamos lá, emocionando o público com músicas que marcaram época. Todo mundo tem alguma situação com uma de nossas músicas e isso traz um lado emocional ao show. Não tem prazo de validade”, finaliza.
A festa começa hoje
Antecedendo a cerimônia de encerramento comandada por Blitz e Fernanda Abreu, a festa carioca começa hoje, com show da banda Detonautas. O grupo chega à cidade com a turnê comemorativa dos 20 anos do primeiro álbum, intitulado Detonautas Roque Clube. O vocalista Tico Santa Cruz resume o show comemorativo como uma “reunião de fãs em torno do repertório da banda”.
O setlist traz faixas como Outro place e Quando o Sol se foi, sucessos do início dos anos 2000. “A música é uma das artes mais poderosas quando se trata de teletransportar pessoas no tempo. A música pode levá-lo de volta a um momento especial que você viveu no passado, curar uma dor que você está sentindo ou de repente motivá-lo a fazer algo que deseja fazer, mas ainda precisava daquele empurrão”, reflete Tico.
Na sexta-feira, o Capital Moto Week também recebe o trio Call The Police, formado por Andy Summers, ex-guitarrista da banda The Police, Rodrigo Santos, do Barão Vermelho, e João Barone, dos Paralamas do Sucesso.
Semana Capital Moto
Hoje, amanhã e sábado, no Parque Granja do Torto (Granja do Torto, Pavilhão Central, Lago Norte). Ingressos a partir de R$ 96 (meia-entrada) na Bilheteria Digital. Ingressos gratuitos na bilheteria do CMW ou na loja CMW do Shopping Iguatemi (SHIN CA 4, Lago Norte). É proibida a entrada de menores de 16 anos desacompanhados de responsável legal. Os assinantes de correio têm
direito a desconto de 40% sobre o valor total na compra de até dois ingressos.
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