O Espaço Cultural Renato Russo recebe a exposição Memórias Gravadasde Valdério Costa, que fica em cartaz até 8 de setembro. A exposição explora a necessidade humana de registar a história em gravações para deixar uma marca em algo real ou imaginário. Entalhar, esculpir, corroer ou rabiscar: todas as formas de documentação são necessidades humanas poéticas de reprodutibilidade.
A fala do professor e pesquisador Gilmar de Carvalho inspirou Valdério a refletir sobre questões antropológicas: “Destaca-se a ideia de processo, onde o fazer se acumula como um extrato da tradição que será trabalhado na contemporaneidade”. Segundo a gravadora Fayga Ostrower, as interações também se estruturam em conjunto com a memória e são importantes para criá-la. Para Valdério, o processo que permeia a prática da gravura envolve a intencionalidade do artista nas constantes interações entre memória e criação.
O artista destaca que, tanto na arte como na vida, o tempo não para, mas permanece gravado em nós. Citando a poetisa Adélia Prado no discurso “O que a memória ama permanece eterno”, Valdério precisa relembrar experiências passadas na arte. “Gravar é gravar. As coisas que lemos quando viajamos, o que nos contam e o que vemos ficam gravadas em nós como memórias e sonhos. Gravo na madeira o que fica marcado na minha memória”, diz o artista.
Inspirado na mistura cultural de Brasília, Valdério valoriza a tradição em equilíbrio com o contemporâneo: “A capital é uma mistura de sotaques, sabores, climas e lugares”. A literatura e o romance nordestino de Cordel caracterizam muitas das obras expostas. Ao debater o modus operandi de cada artista, Valdério conclui que o seu é relembrar os caminhos que percorreu numa sucessão de imagens mnemônicas.
O poeta argentino Jorge Luis Borges disse certa vez que a repetição é a forma como as pessoas veem o mundo, e toda a trajetória de Valdério é referenciada na obra como uma homenagem à alma e à vida do próprio artista. A xilogravura, por mais parecida que seja a réplica da obra original, nunca será exatamente igual à outra. A ideia de mudança dentro da arte é uma ferramenta que Valdério também utiliza para simbolizar a própria vida e memórias que mudam com o tempo.
Serviço
Memórias Gravadas
Por Valdério Costa. Até 8 de setembro, das 10h às 20h, no Espaço Cultural Renato Russo (508 zona sul), Sala Rubem Valentim. Entrada gratuita.
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