Atriz, poetisa e rapper, Andréa Bak está estreando em novelas, em Em Rancho Fundona Globo. Na trama, ela dá vida a Esperança, filha do meio de Primo Cícero (Haroldo Guimarães) que é muito bem humorada e finge ser santa só para agradá-lo. Aos 23 anos, o carioca também pode ser visto na série musical Vicky e a Musadisponível no catálogo do Globoplay.
Com o curto Ficção suburbana e a peça Marielle presente (que ganhou o prêmio Musical Rio de Melhor Musical Original) em seu currículo, a artista também contribuiu como autora no livro antológico Favela em mim e participou como um dos autores do livro Tabuleiro de ficções.
Formada em química e bacharel em artes cênicas pela CAL, Andréa Bak fez parte do grupo de rap Nefetaris Vandal e desde 2017 faz parte do coletivo de poetas Slam das Minas RJ — movimento artístico de mulheres LGBT. Aliás, em 2018, ela estreou os clipes Asilo Cifrado 3 e Dorque concorreu ao prêmio de melhor videoclipe no Festival Internacional de Cinema de Brasília.
O carioca também atua como ativista social. Desde 2016, a moradora do Antigo Quilombo da Praça Onze, no Rio, atua na defesa dos direitos humanos e do preconceito racial. Entre suas atividades estão a participação na luta pelo Passe Livre e a organização de eventos e palestras sobre acesso à educação para todos. Também divulga literatura produzida por mulheres negras e ministra oficinas de poesia falada para escolas públicas.
Entrevista
Estreando em novelas, como foi fazer seu primeiro trabalho na TV? Como é o intercâmbio com grandes nomes do elenco como Alexandre Nero e Andrea Beltrão?
O primeiro dia de gravação aconteceu ao lado dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira. Era uma cena entre a família da Esperança e os primos Leonel Limoeiro, e lá estava eu contracenando com Alexandre Nero, Andréa Beltrão, Haroldo Guimarães. Atores que cresci assistindo na televisão. Daquele dia em diante, vi que meu caminho seria mais brilhante do que eu pensava. Depois de meses de trabalho, em uma cena externa de três dias gravando o casamento da Blandina, quem estava na minha frente era a Andréa Beltrão. Minha personagem é prima de terceiro grau dela, então às vezes eles se cruzam na trama. Naquele dia de gravação, olhei para ela e sorri com muita calma, cumprimentando minha xará, e sua resposta foi dizer que “gostou muito de trabalhar comigo”. Me senti honrado e muito mais orgulhoso da minha posição no palco.
Antes você tinha feito a série Vick e a musano Globoplay, e que já estreou com a temporada inteira gravada. Como é agora fazer um trabalho aberto, onde você não sabe o que vai acontecer nos próximos capítulos? Você se observa? Você é muito autocrítico?
Nossa, sou muito autocrítica! Que ator, que ama seu trabalho, não procura estudar? É muito diferente fazer um projeto em que você quase vive o fruto. Em termos de estudos é perfeito, pois observo mais joias para meu personagem. Tirando a reacção do público, faz-me lembrar teatro, obviamente numa escala maior! O público vê logo e já sente o feedback quando sai para a rua.
Além de atuar, você tem um forte trabalho como ativista de causas sociais, como a educação. Como começou seu interesse pelo assunto? Você acha que por ser artista e estar na TV sua voz ganhou mais espaço?
Tudo começou em casa. Meus pais nunca ficavam calados diante de situações de vulnerabilidade social, então cresci vendo que isso fazia parte de ajudar os outros e de lutar pela minha vida. Então, quando comecei a estudar em escola pública, depois de anos estudando em escola particular, pude perceber a discrepância entre o ensino público e o privado. Aí eu vi que esse desmanche do aprendizado era errado. Comecei no movimento estudantil, paralelo a isso comecei no rap, no slam, nos movimentos negros, de mulheres e LGBT. Quando me descobri, já era líder político na cidade com menos de 18 anos! E, quando a arte chegou na minha vida, tive a oportunidade de descobri-la ali, de muitas formas, na minha infância e pré-adolescência: no jazz, tocando violino na orquestra, no teatro, nas artes visuais… sempre estive envolvido no mundo artístico desde jovem. .
Você já concorreu a vereador no Rio com apenas 20 anos. Você pretende voltar à política em algum momento? Quais seriam seus principais objetivos caso fosse eleito?
Ser candidato a vereador em 2020 foi uma materialização de que podemos e devemos estar em cargos que gerem a vida. E a sociedade entendeu a mensagem e foi um ano recorde para eleições negras e LGBT em todo o país. Foi histórico. Existe até um documentário premiado mundialmente chamado Corpolíticaque registrou meu processo. Tive quase 4 mil votos no Rio de Janeiro aos 20 anos! Minha equipe e eu desempenharíamos de forma diligente e representativa o papel de vereador: acompanhar o executivo, propor leis municipais e alterações nelas.
Ao mesmo tempo, Andrea Bak ainda faz parte de um grupo de slam feminino. Como você chegou ao movimento e como analisa a força feminina nele?
Quando comecei a recitar meus poemas nas ruas, rapidamente entrei no movimento slam e rap, mas naquela época eu já era atriz. Acredito que todas essas artes tornam minha vida mais completa. O movimento Slam das Minas me abraçou desde muito jovem. Ali vi um espaço de poder, de transformação social e principalmente de troca de afeto. Tem muitas mulheres artistas que às vezes saem do mundo artístico por conta do machismo da cena, então ter esses espaços só para nós mulheres é muita inspiração.
Você já tem dois livros lançados. Você tem planos para mais? E planeja escrever para audiovisual?
Aos 18 anos estreei com a antologia Favela em mim e foi muito gratificante, ali vi meu sonho se materializar com meus poemas. Aí vi a possibilidade de escrever sobre outros assuntos em outros formatos e surgiu o Fiction Board. Escrever é meu primeiro amor. Foi com ela que descobri que poderia trabalhar com arte. Então eu nunca a abandonei. Tenho escrito contos, projetos de filmes e peças de teatro e espero um dia colocar tudo isso nos trilhos.
Com apenas 23 anos você já tem uma trajetória profissional muito forte. Como você vê seu trabalho impactando outras meninas e mulheres negras que almejam conquistar espaços na arte, na música, na política, etc.?
Sempre ouvi ao longo da minha carreira que sou um sonho materializado dos meus antepassados. Portanto, não me permito fazer nada menos. Se meus mais velhos lutaram para que minha existência fosse brilhante hoje, eu apenas continuo esse legado de vida! Temos que ser referência para nós mesmos, afinal os olhos dos nossos filhos brilham ao verem uma rainha reinando. Então vamos fazer essas meninas acreditarem que também são princesas reinantes!
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