Alguns dos maiores nomes do jazz brasileiro se reúnem no centro de Brasília para o Cerrado Jazz Festival. Entre artistas do porte de Ivan Lins, Metá Metá, Candice Ivory & The Simi Brothers, Joyce Moreno e Ellen Oléria, duas pernambucanas se destacam por trazer um sabor mineiro à praça. Amaro Freitas e Zé Manoel reinterpretam o Clube da Esquina com banda no evento que acontece amanhã e sábado, no Museu da República.
O pianista Amaro Freitas refez arranjos criados por artistas como Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges, Beto Guedes e Toninho Horta, e Zé Manoel interpreta essas músicas com uma voz doce e única. O resultado foi uma turnê que lotou teatros de todo o Brasil e será apresentada pela primeira vez em festival aberto.
Esta é a segunda vez que os dois músicos vêm a Brasília com este projeto. Nesta ocasião, a dupla será acompanhada por uma banda que trará toques de grandiosidade ao show intimista. São a atração mais esperada de amanhã e sobem ao palco às 23h. Ao Correio, os dois falaram sobre a relação com Brasília, o Clube da Esquina e as expectativas para o festival.
Entrevista // Amaro Freitas e Zé Manoel
Esta é a sua segunda visita com este projeto em Brasília. Depois de duas apresentações esgotadas em março, como você percebe essa recepção e abraço da capital?
Amaro Freitas: Para mim é uma alegria imensa tocar esse repertório do Clube da Esquina em Brasília. Tem sido muito divertido e prazeroso compartilhar esse momento com o Zé Manoel. Fiquei muito surpreso porque Brasília nos abraçou de uma forma muito bonita e poderosa. Foi muito emocionante poder fazer esse show na capital. Sinceramente, foi uma das melhores recepções que tivemos com esse projeto, e viajamos para muitos lugares. Estou muito animado com esse retorno.
Zé Manoel: Minhas visitas a Brasília sempre foram especiais. Essa última vez com Amaro e o show do Clube da Esquina veio para constatar como a cidade consome cultura e há um interesse enorme pela música. Para quem ganha a vida fazendo música, ter contato com esse público é muito especial. Tenho uma relação única com Brasília, tenho amigos e pessoas que amo na cidade. Não é só trabalho, é também carinho. Estou ansioso para voltar, depois de dois shows esgotados, para ter minha primeira experiência em um festival em Brasília.
Na primeira vez que vieram o formato era “espetáculo de teatro”, agora a apresentação será em festival. Quão importante é fazer um show para um público que não necessariamente foi ao local para assistir você?
Amaro Freitas: Serão experiências muito diferentes. A primeira vez foi em um teatro, um espetáculo intimista só nós dois. Neste formato de festival, temos uma banda. Estamos trazendo uma novidade, que faz bem para quem nunca viu e também para quem já viu esse espetáculo. Para nós também será diferente porque será a primeira vez que apresentaremos o projeto ao ar livre.
Zé Manoel: Tem uma coisa importante que é o fato de ser um festival de jazz. O público do gênero está acostumado e interessado em ouvir, tem o hábito de ouvir ainda mais que o público as músicas. Sabemos que nos eventos as pessoas vão naturalmente para dançar, conhecer outras pessoas e se divertir. As expectativas são grandes, mas creio que a recepção será positiva.
O Clube da Esquina já completa mais de 50 anos e já foi reinventado de diversas maneiras. O que há de único neste show?
Amaro Freitas: Colocamos a nossa alma neste espetáculo. Sabemos que Clube da Esquina é um álbum muito revisitado e que há uma memória emocional muito forte entre os brasileiros do disco. O que tentamos fazer foi manter a originalidade no sentido de não tirar a essência da música, mas trazer a nossa identidade. O lugar que conseguimos deixar isso fascina o público, deixa-o feliz. Quem assiste sai com a resposta de que já ouviu o álbum em diversas versões e que esta foi mais emocionante, que fizemos justiça ao que o próprio Clube da Esquina fez. É muito bonito e impactante poder receber feedback dessa forma. Sinto-me muito honrado em fazer este projeto e perceber que ele tem sido emocionante e que os espectadores aprovaram a forma como o conduzimos.
Zé Manoel: Pelas trocas com o público de vários lugares do Brasil, o que se percebe é que quem acompanha o Clube da Esquina gosta muito de ouvir aqueles clássicos e músicas que marcaram a vida das pessoas de uma forma diferente. Dois homens negros, nordestinos reinterpretando uma obra icônica de Minas Gerais, isso nos leva a outro lugar. Impacta quem conhece o trabalho, mesmo quem não conhece, a gente fica com essa visão diferente. O Clube da Esquina possibilita uma conexão única com as pessoas. Pessoas que não me conheciam ou ao Amaro chegaram ao nosso trabalho original depois de se apaixonarem por essas músicas. É uma bênção para este projeto abrir possibilidades e portas inesgotáveis para universos maravilhosos e incríveis.
Para um telespectador que não te conhece individualmente, mas que adora o Clube da Esquina. Como você apresenta o trabalho que está fazendo no Brasil?
Amaro Freitas: Esta obra homenageia o Clube da Esquina e fala sobre a diversidade cultural brasileira. Quando pensamos no Clube, vem à mente os mineiros, que trazem um sabor particular brasileiro. Quando pensamos em mim e no Zé Manoel, dois pianistas negros do Nordeste e de Pernambuco de diferentes partes do mesmo estado juntos ao piano, é incomum no Brasil. Ocupamos este palco para tocar músicas que fazem parte da identidade brasileira. Temos a ousadia e a honra de avançar com isso, colocando todos os nossos sentimentos, nossa alma e amor neste trabalho sagrado de recriar essa diversidade cultural e geográfica do nosso Brasil.
Zé Manoel: Clube da Esquina é um cancioneiro que oferece infinitas possibilidades de releituras. Para mim foi interessante, não só como intérprete do projeto, mas porque estava acompanhando o processo de rearranjo do Amaro para essas músicas. Há algo de muito singular na maneira como o Amaro trouxe esse repertório para o seu universo, ao mesmo tempo que eu também tive o desafio de trazer essas músicas super amadas, assimiladas e com gravações definitivas de uma constelação de grandes estrelas para o meu universo sem querer. nunca ocupar lugar ao lado de Milton Nascimento, por exemplo. Ele é um cantor que não existe igual no mundo, alguém que tem seu trabalho, força e grandeza.
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