Mais estudioso, experiente e maduro, Jamie XX está de volta às pistas depois de quase 10 anos sem disco. O britânico, nascido em Brighton, é conhecido como produtor e multi-instrumentista da banda fenômeno da cena alternativa The XX. O artista tem uma carreira solo de sucesso na música eletrônica e prepara o terreno para o lançamento do álbum In Waves, previsto para 20 de setembro.
Até o momento, cinco faixas foram lançadas, o último single do álbum foi Dafodil, em parceria com Kelsey Lu, John Glacier, Panda Bear, disponível nas plataformas desde a semana passada. O Correio já ouviu e as músicas dão um tom do que o álbum trata, uma mistura de referências e gêneros com o toque único de Jamie para criar essas colagens. O álbum é essencialmente dançante, mas é possível pegar referências do jersey club, do jungle e de segmentos ainda mais obscuros e desconhecidos da cena da música eletrônica.
O resultado que soa aos ouvidos faz parte do processo do artista. “Parei um pouco de ouvir músicas mais recentes e modernas. Em parte porque toda vez que uso músicas novas, direciono meu som para o que estou ouvindo. Queria estar na minha bolha”, diz Jamie XX em entrevista com Correio. Ou seja, a obra é resultado das viagens do artista pelo mundo e no tempo. “Tive a sorte de viajar pelo mundo, ouvir, ver e fazer parte desses outros tipos de música. Isso na verdade acaba fazendo parte do meu repertório como DJ. “, explica ele. “O álbum acabou sendo eclético dessa forma porque tem muita dance music diferente na história, os lugares inventaram seus próprios estilos”, completa.
O processo, no entanto, tem uma nuance muito mais pessoal. Jamie faz sucesso desde muito jovem. Ele começou o The XX, com Romy e Oliver Sim, quando tinha apenas 18 anos. A primeira descoberta da banda veio em seu álbum de estreia em 2009, quando ele tinha pouco mais de 20 anos. “Desde que comecei na música tive que aprender de um momento para o outro como ser adulto, afinal faço turnês desde adolescente”, confessa. Portanto, ele precisava fazer uma pausa para começar de novo. “Precisei parar de fazer música por um tempo para sentir amor por ela novamente”, diz ele.
A paralisação forçada dos shows provocada pela pandemia permitiu que ele se reorganizasse mentalmente e se encontrasse como gostaria de ser a partir de então. Foi nesse momento que Jamie se reconectou com a própria música. “Quando voltei a compor e produzir, voltei a parecer aquele jovem do início. Pude curtir de novo”, diz o artista que voltou a surfar e a reservar um tempo para si para emular o lugar mental que encontrou em tempos de pandemia. “Esse processo que passei durante a pandemia me deu mais motivos para viver. Por isso procuro imitar isso na minha vida de ficar mais parado. O surf tem me ajudado nisso”, comenta.
Jamie acredita que a direção que está tomando é a certa. Como sua carreira solo e a do The XX juntas somam bilhões de reproduções e milhões de ouvintes mensais nas plataformas digitais, ele ainda consegue viver uma vida dentro dos padrões de normalidade, sem que fãs o parem na rua e assediem paparazzi, por exemplo . “Acho que encontrei o lugar perfeito, onde posso tocar em festivais gigantes e pequenas salas de concerto. Posso andar na rua e ninguém me reconhece, mas ao mesmo tempo, os meus colegas músicos reconhecem o meu valor”, aponta o artista que é enfático em sua relação com a fama: “Não quero ser um superstar”.
Então, In Waves é um álbum sobre a reconexão de Jamie com o que ele ama fazer e os lugares que busca estar. “A música, para mim, é tudo. É amor, mas também tristeza, é dificuldade e alegria. A música é o lugar onde posso recorrer a qualquer momento, independentemente de estar bem ou mal”, reflete. “Acho que todo mundo que ama música se sente assim, sejam os amantes do pop ou os que já estudaram o assunto. É simplesmente uma coisa linda, inexplicável e humana”, completa o artista.
Retorno do XX
Para que fosse possível chegar a um produto final que representasse o jovem Jamie XX apaixonado por música, foi necessário trazer pessoas com quem ele tivesse afinidade. Aos nomes que colaboram em Dafodil juntam-se músicos do calibre de Robyn e The Avalanches. “Acabei trabalhando com muita gente para fazer o disco, mas só quando falei em voz alta é que percebi que tinha um relacionamento importante com todos os envolvidos”, diz ele. “É muito legal ter criado essas relações musicais com todas essas pessoas. Elas se encaixam naturalmente no álbum pela conexão que temos. É importante e ajuda. Trabalhar com outras pessoas me fez sair da cabeça e desenvolver o álbum” , analisar.
Porém, dois nomes chamam a atenção. Ao lado da faixa Waited all night, a terceira do álbum, eles assinam, junto com Jamie, Romy e Oliver Sim. O que faz da música a primeira produção conjunta dos três desde o álbum I see you, de 2017. “Sempre terei em nossos corações meus discos, porque são a razão pela qual posso fazer tudo o que faço. Eu sei melhor como trabalhar”, elogia Jamie.
Essa união do The XX não será apenas uma parceria em uma música. “Voltamos a gravar como banda e estamos trabalhando em material novo”, diz o artista, que não cria expectativas para quando os novos lançamentos da banda serão revelados ao mundo. “Ainda está em fase demo, mas é muito bom estar de volta ao estúdio com eles”, acrescenta.
Brasil
Enquanto as novidades sobre The XX não chegam, Jamie aproveitará para pegar ondas In pelo mundo. O Brasil será uma das paradas com shows na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, e na Praça das Artes, em São Paulo, respectivamente, nos dias 25 e 26 de outubro. “O Brasil é um dos meus lugares favoritos no mundo para tocar música, tenho certeza que muita gente fala isso. A paixão e o público são imbatíveis comparado a qualquer lugar. É incrível, quero sempre voltar”, destaca o músico.
Fã de música brasileira, ele quer se inspirar em outras que admira na hora de criar o set que tocará no país. “Meus DJ sets preferidos são os ecléticos e meus DJs preferidos são os que tocam de tudo. Muita música brasileira faz parte do repertório de DJs que adoro”, lembra Jamie. A relação entre ele e a música sertaneja está em sintonia com o coração. “Tem tanta música brasileira linda no mundo. Pessoalmente, por não entender a língua, adoro ainda mais. É uma cultura muito rítmica”, exalta.
Porém, o artista ainda não sabe o que vai tocar porque prefere que o processo seja mais intuitivo e orgânico. “Estou animado para voltar, mesmo não sabendo exatamente o que vou tocar. Meus sets são sempre um pouco improvisados”, diz o artista que só pode dizer uma coisa: “Tenho certeza que Vou tocar algumas músicas novas, coisas que ainda não lancei e, se tiver sorte, poderei fazer algumas compras nas lojas de discos da região e acrescentar coisas novas ao meu repertório”.
Música, para mim, é tudo. É amor, mas também tristeza, é dificuldade e alegria. A música é o lugar onde posso ir a qualquer hora, independentemente de estar bem ou não.”
-Jamie XX
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