O ritmo da vida urbana, do consumo e dos modos de vida nas sociedades contemporâneas aparecem de forma quase dramática na obra do artista paulista Gustavo Prata. Além do objeto, exposta na Galeria Karla Osório, reúne esculturas e instalações nas quais o artista se dedica a refletir sobre aspectos da ocupação e da presença humana no planeta. “É uma exposição em que utilizo principalmente materiais industrializados do nosso dia a dia”, diz Prata, que traz para a galeria materiais como arquivos de jornais, embalagens recolhidas e arames usados em cercas. “É um trabalho derivado das coisas que me cercam no dia a dia. Sou paulista, sempre morei em cidade grande e meu trabalho é resultado disso. ao meu redor.”
Grande parte da produção exposta em Karla Osório foi concebida durante a pandemia quando, pela primeira vez, a artista passou um período mais longo fora da metrópole. Isolado em uma fazenda, Prata passou a receber jornais impressos que lia compulsivamente. Eles são a base de uma série de instalações que trazem um véu construído com notícias coladas, pilhas nas quais são serializados os elementos gráficos das edições e desenhos feitos com manchas de café nas páginas impressas. “Temos a notícia abertamente, como se, de uma só vez, todos os acontecimentos estivessem à nossa frente”, observa.
Todos os jornais foram coletados entre 2020 e 2022, período mais crítico da pandemia. “Quando a pandemia começou, saí de São Paulo. Foi uma das primeiras vezes que morei fora de uma cidade grande e acho que, mesmo pela ausência dos meus materiais habituais, comecei a olhar para o que estava ao meu redor”, ele reflete.
Esse mesmo olhar voltou-se para as cercas de arame da fazenda onde passou algum tempo. Em obras como Teofrasto, o fio se acumula para nos lembrar do impulso humano de demarcar territórios. Na configuração criada pelo artista, a escultura parece crescer, expandir-se constantemente. “O fio, que usamos para delimitar território, evitar ultrapassagens, ganha vida própria e ganha volume. Algo que antes delimitamos, agora ocupa espaço. Coisas que usávamos para o nosso bem-estar começam a ficar insustentáveis e roubando nosso espaço”, reflete.
“Insustentável” é uma ideia que também permeia a exposição como um todo, principalmente nas embalagens recolhidas ao longo da estadia no local e posteriormente utilizadas para criar instalações como Amálgama. Redesenhadas, agora sem a linha reta que as caracteriza e recortadas em formatos mais orgânicos e arredondados, as embalagens sobem pelas paredes como se fossem organismos vivos num movimento de colonização do espaço. “A forma como temos vivido está se tornando insustentável e isso aparece muito no meu trabalho. A pilha de lixo que produzimos está engolindo espaço”, lamenta o artista. No total, a exposição reúne 27 obras, muitas delas construídas durante a residência da artista na Galeria Karla Osório.
Serviço
Além do objeto
Por Gustavo Prata. Visitação até 20 de julho, de segunda a sexta, das 9h às 18h30, e aos sábados, das 9h às 14h30, nos Pavilhões I e II da Galeria Karla Osório (SMDB Conjunto 31 Lote 1B – Lago Sul). Entrada gratuita mediante agendamento prévio via WhatsApp (61-981142100) (WhatsApp), e-mail (karla.osorio02@gmail.com) e Instagram (
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