Na última quinta-feira (9/5), faleceu o renomado músico Sergio Mendes, aos 83 anos, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Segundo comunicado publicado nas redes sociais do artista, sua morte ocorreu devido a complicações da Covid-19 de longa duração —o pianista sofria há meses de problemas de saúde relacionados ao vírus. Ele deixa esposa e parceira musical Gracinha Leporace, com quem foi casado por 54 anos, e cinco filhos. Detalhes sobre o velório e sepultamento ainda não foram divulgados.
Símbolo internacional da música brasileira, Sergio Mendes gravou 35 discos em suas seis décadas de carreira, foi três vezes vencedor do Grammy e recebeu, em 2012, uma indicação ao Oscar pela trilha sonora da animação. Rioao lado de Carlinhos Brown. “Minha curiosidade e busca por aprender com músicos de qualidade me levaram a conhecer Sérgio Mendes através de seus discos”, diz Carlinhos.
“Eu o admirava muito, assim como outros ídolos dele que eram meus também, como Johnny Alf e muitos outros grandes nomes. Afinal, ele é o brasileiro que tocou com Frank Sinatra, que gravou com Sarah Vaughan e Stevie Wonder e que sempre tive um pensamento jovem sobre música”, lembra Correspondência o cantor baiano.
Ao lado de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Sergio Mendes foi um dos principais nomes da bossa nova. “Ele foi um dos grandes arquitetos da possibilidade da bossa nova se tornar música pop internacional. Tive a honra de conhecê-lo, fazer amizade e gravar com ele. arranjador aprendi muito com vou sentir muita falta do meu amigo”, lamenta o produtor musical Alexandre Kassin.
Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, Sergio Mendes mudou-se para os Estados Unidos em 1964, após o golpe militar, e nunca mais voltou. Foi no país norte-americano que formou o lendário grupo Sergio Mendes & Brasil 66 e se consolidou no cenário internacional ao lançar a música Mas nadade Jorge Ben Jor, em versão bossa nova. Nenhum brasileiro fez tanto sucesso nas paradas norte-americanas quanto ele. No total, 14 músicas ficaram no top 100.
“Sérgio Mendes conseguiu fazer nascer um Brasil muito mais valorizado fora do nosso país do que dentro. Ele é o símbolo desse Brasil consumido nos Estados Unidos, relação que também representa vários outros brasileiros que lá viveram, como Milton Nascimento, Naná Vasconcelos e o próprio Moacir Santos”, diz o pianista Amaro Freitas.
“Ele conseguiu popularizar e traduzir esse swing tropical brasileiro, e elevá-lo ao ponto mais alto dessa representação do que é a música brasileira fora do Brasil. Ele é motivo de orgulho e referência direta. Um cara que adoro ouvir e que sinto muito por ter perdido essa lenda da música brasileira”, completa.
Sergio Mendes permaneceu na ativa até os últimos anos de vida. Em 2020 lançou aquele que se tornaria o último álbum de sua carreira Na chave da alegria. No ano passado, o pianista também se apresentou em salas de concerto lotadas em capitais europeias, incluindo Paris, Londres e Barcelona.
Ao longo de sua carreira, colaborou com grandes ícones do jazz mundial, como Herb Alpert e Cannonball Adderley, e artistas pop norte-americanos, como Stevie Wonder, Justin Timberlake, Black Eyed Peas e John Legend.
Uma das parcerias mais notáveis do pianista, porém, foi com o músico brasileiro João Donato. “Los Angeles tem uma relação especial com João e Sergio, porque eles ajudaram a espalhar o som do Brasil pelo mundo”, afirma Andrew Lojero, produtor da gravadora norte-americana Jazz is Dead.
“Quando os dois amigos se reuniram em Los Angeles em 1964, eles se ajudaram a abrir novos caminhos musicais em uma plataforma internacional. Isso, por sua vez, ajudou a popularizar o som do Brasil para muitas pessoas ao redor do mundo”, diz ele.
Em 2019, Lojero produziu uma homenagem a Donato em Los Angeles, com a presença pessoal de Sergio Mendes. “Assisto os vídeos dos nossos shows e lembro como o Sergio nos surpreendeu ao apoiar o amigo João Donato. um prazer estar com ele. Somos gratos pela luz que ele lançou ao mundo”, finaliza o produtor.
Depoimento
Parceria e amizade
A jornalista Ivone Belém, viúva de João Donato, também falou com exclusividade ao Correspondência sobre o relacionamento do marido com Sergio Mendes.
“Donato se divertiu dizendo que Sergio Mendes não lançaria um álbum sem gravar uma música de sua autoria. Ele disse que a amizade deles começou em Los Angeles, onde Donato morou por 12 anos. No icônico álbum Sergio Mendes & Brasil 66, Mendes gravou O Sapo e convidou Donato para uma turnê pelo Japão, com o grupo Bossa Rio, que abriu os shows de Sérgio. A viagem foi bastante produtiva, e resultou no álbum Bossa Live in Japan e também no convite para Donato, que o levaria a gravar um de seus discos mais populares: A bad Donato. Foi nessa viagem que o produtor musical da Blue Thumb, Bob Krasnow, que acompanhou a viagem, se apaixonou pelo piano de Donato e o convidou para gravar o álbum de 1970.
Entre a volta de Donato ao Brasil, em 1973, e a década de 2000, eles pouco se falaram. Em 2005, no Rio, Sérgio conheceu Donato e levou três músicas para Los Angeles para gravar em seu CD Timeless: O Sapo, Bananeira e Ê Menina. Em 2008, no CD Encanto, Sergio gravou Lugar comum e E Vamos lá. Depois, em 2010, gravou Emoriô, e em 2018, Muganga, no disco Na chave da alegria, lançado em 2020.
O último encontro entre os dois foi em 2019, no evento musical Jazz is dead, em Los Angeles. Sergio Mendes fez questão de assistir ao show nos bastidores. Eles conversavam todo mês e eram só risadas. Relembrando as aventuras em Los Angeles e os momentos difíceis da música no início da carreira no Brasil.”
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