A terapeuta raiz de Nathalia Cruz é capaz das melhores piadas. Ela faz Cristiane, a paciente, sentar no sofá e mudar de vida com uma sinceridade perturbadora. E ela nasceu no consultório de psicologia, enquanto a própria Nathália observava a terapeuta. A personagem fez grande sucesso no Instagram da humorista (@nathaliapontocruz), que tem 422 mil seguidores, e é apenas uma gota do trabalho desta brasiliense que cresceu no Planalto Central, estudou publicidade na Universidade de Brasília (UnB) e, graças a uma capacidade de mesclar inteligência, ironia e humor, foi parar no time de roteiristas da Globo.
Aos 34 anos, Nathalia é um dos nomes do roteiro de Tou Nessa, novo programa de comédia de Regina Casé, que estreia em outubro e será exibido aos domingos, após o Fantástico. É basicamente uma sitcom gravada ao vivo, com público, e tem como roteirista Jorge Furtado. Mas Nathalia não está no Rio acompanhando as gravações, como gosta de fazer, para agregar insights ao texto ao vivo. Grávida de Teresa e mãe do pequeno Joaquim, ela veio para Brasília aproveitar a rede de apoio familiar durante o nascimento da segunda filha.
O roteirista também ocupou o sofá do Saia Justa, no ano passado, e é um dos favoritos do Porta dos Fundos, onde até mora um personagem. Como roteirista, fez parte da equipe responsável pelos mood boards do BBB 23 e da equipe que escreveu a série Spider, da Paramount, inspirada na vida do lutador Anderson Silva. Agora, ela se aventura na literatura com o livro infantil Tita e a alegria que doeu, que lança, sábado, na Livraria da Travessa da Casa Park e traz ilustrações de Henrique Mota.
O humor sempre esteve na vida de Nathália, mas ela teve que passar por altos e baixos para sobreviver. “O humor foi uma ferramenta que construí para me defender, entendi que funcionava para me livrar do infame valentão da escola”, afirma. A humorista logo alerta que nunca sofreu violência, mas que, desde muito cedo, entendeu que isso só era possível porque encontrou uma forma de se proteger com sua capacidade incessante de criar piadas e fazer rir.
Criada em ambiente de classe média alta, ela praticamente não encontrava meninas negras nos locais que frequentava. “Eu não tinha experiência nem lembrança de ter sofrido bullying, mas sabia que o que me protegia era a maneira como as pessoas me aceitavam e riam de mim, o humor me fazia sentir que pertencia, sempre andava com as garotas mais populares, Eu era amigo dos garotos mais populares, e não fazia parte disso esteticamente, mas estava lá. Não namorei, os meninos não tinham vontade de mim, mas eu era amiga deles”, conta. “Acho que me via como um fracasso e pensei ‘Tenho que me juntar a quem não é um fracasso’. Ainda mais na adolescência, quando você depende muito dessa aceitação e tem uma beleza que não era padrão.”
Mais tarde, Nathália até tentou vestibular para artes cênicas, mas acabou indo para publicidade. Trabalhou em agências, mas não se viu no meio. Ela esperava reconhecimento profissional, mas o feedback que recebeu teve mais a ver com humor do que com possíveis promoções e desenvolvimento de carreira. “E eu me lembro, a certa altura, de ficar muito chateada e até querer negar o humor”, diz ela. Depois de formada, o recorde de Nathália caiu. “Comecei a pensar ‘não existe lugar mais apropriado para estar?’”, diz ela. O publicitário então foi buscar treinamento de atuação. Foram três anos no Tablado, no Rio de Janeiro, e a tentativa de início de carreira. “As coisas não funcionaram como eu imaginava”, lembra ela. “Mas essa fronteira de escrever humor está muito relacionada a tudo que faço, desde os tempos de agência até a escrita de roteiros. A lente desse comediante está em mim, vejo o mundo mais ou menos assim e isso permeia o que me proponho a fazer. É realmente uma visão de mundo.”
Hoje, Nathalia vive do trabalho como roteirista, mas não foge do lado cômico. O Instagram é um bom espaço para isso e a Terapeuta Raiz diz isso. Ela se tornou tão popular que está prestes a subir ao palco de verdade. “Estou trabalhando na peça do Therapeuta Raiz para encenar no ano que vem. O Instagram foi uma janela para esse trabalho aparecer para o mundo”, alerta. A Terapeuta nasceu dos silêncios observados por Natália durante sua própria terapia. No início, ela também interpretou a paciente Cristiane e incluiu sua reação nas imagens. “Mas comecei a ver que era mais divertido deixar o arquétipo para caber em qualquer pessoa. Aí começaram a chegar pessoas da área de terapia e isso me fez ver que o personagem poderia ser mais ousado porque as pessoas estavam preparadas para o conteúdo. Somos muito mais parecidos do que não parecidos, então quando falamos dessas partes feias e incoerentes, vemos o quanto nos parecemos mais”, garante.
A menina Tita
A personagem do livro Tita e a alegria que dói era a própria Nathalia antes de ganhar as asas do seu imaginário infantil. A história do livro é curiosa: uma menina sentia uma dor terrível nas costas ao rir. Ao longo da história, após os tratamentos, a dor diminui ou se transforma em outros sintomas até que Tita consegue rir tranquilamente, sem sentir nenhum desconforto físico. “Tita é baseada em acontecimentos reais.”, alerta o autor. “Fiz uma cirurgia nas costas quando era pequena e essa Nathalia, depois da cirurgia, trouxe esse acesso para essa menininha que estava com dores nas costas.”
Tita ganhou vida a partir da experiência da autora, mas tornou-se uma projeção do que queria ser. “Ela é mais definida, mais positiva do que eu. Ela é mais zombeteira, mais irônica”, garante. Depois que a dor nas costas passa, Tita sente outros efeitos colaterais e percebe que não pode apenas rir e nem colocar suas emoções na caixa do certo e do errado. “Ela vem de um lugar não só do que sou, mas do que queria ser”, confessa Nathalia, que sentiu vontade de resgatar a história dessa menina após o nascimento do filho Joaquim.
Tita e a alegria que doeu
- Por Nathália Cruz e Henrique Mota. No entanto, 40 páginas. R$ 54,90
- Lançamento neste sábado, às 16h, na Livraria Travessa (Casa Park Shopping)
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