Nos tempos atuais em que os singles predominam no cenário da música popular brasileira, gravar 12 músicas inéditas é, no mínimo, uma atitude ousada. Partindo dessa premissa, Lô Borges acrescenta um capítulo muito importante à sua carreira discográfica ao lançar o álbum Tobogã. Desde 2019, o cantor e compositor mineiro desenvolveu o saudável hábito de chegar ao mercado musical com novas obras. “Compor, fazer música é algo imprescindível para mim. É como beber água”, destacou Lô, mostrando que continua em forma após 50 anos de carreira.
O processo criativo de Tobogã começou em 2023, fruto de uma amizade à distância, sustentada pela correspondência online — à distância — com a médica e poetisa Manuela Costa, autora da letra. Na troca de e-mails, ele, de Belo Horizonte, mandava as melodias, e ela, de Brasília, escrevia as letras. Realizado sem a presença física dos dois, mas em encontros virtuais motivados pela harmonia criativa, Tobogã recebeu o nome do livro de memórias que Salomão Borges, pai de Lô, lançou em 1987.
“Sou de Brasília, mas meus pais são mineiros e meu coração também. Cresci ouvindo a música do Lô Borges em casa; assim como os Beatles, buscando referências e influências, querendo me aproximar da música do Lô . O processo de parceria com ele foi natural e totalmente intuitivo, apesar de nunca ter escrito letras para música antes”, afirma Manuela. “Sempre escrevi poesia e, há algum tempo, comecei a criar alguns versos cantados e algumas músicas bem simples, no violão. Mesmo nunca tendo escrito letras para músicas antes”, acrescenta.
Para Manuela, o processo com Lô foi natural. “Brinquei que ele compôs em marcianês e que eu era apenas tradutor. Acredito que as traduções foram fiéis porque, como fã, coloquei nelas todo o meu amor, o meu respeito e a minha gratidão pelo trabalho dele.”
Escolhido pela cantora, um grupo central foi responsável pela produção do disco e trabalhou de forma independente na sonorização do álbum (instrumentação, sonoridades e texturas finais dos arranjos). Há participações da cantora Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu, nas faixas Tobogã e Amor real; e por Manuela Costa em Pouso da Manhã. Sozinho, Lô interpreta, entre outras, Minas e Marte, Na curva de um rio, Poema secreto, Presente, Teia e Vou ventant para você.
ENTREVISTA / Lô Borges
Porque decidiu estabelecer uma parceria com a médica Manuela Costa? Batizar o álbum Tobogã é uma homenagem ao seu pai, Salomão Borges, que lançou o livro de memórias com o mesmo título?
Manuela é uma pediatra muito dedicada, que trabalha em um hospital público do Paranoá. Esta é sua ocupação principal. Mas ela também é uma poetisa muito talentosa. Nos conhecemos em 2005, quando ela veio para Belo Horizonte, assim como quase todos os torcedores do Clube da Esquina, do Brasil e do mundo, ela bateu na casa dos meus pais, no bairro de Santa Teresa, sendo recebida por meu pai, Salomão. Na ocasião, ele lhe presenteou com um exemplar de seu livro de memórias, intitulado Tobogã. Em 2008, nos encontramos em uma tarde de autógrafos em Brasília, de um álbum que estava sendo lançado na época. Depois, Manuela começou a me enviar por email os poemas que ela escrevia. Gostei muito de algumas delas e, em 2023, propus reverter o processo e mandar uma música para ela escrever a letra. Ela aceitou o desafio. Fizemos a primeira, a segunda, a terceira e, quando você percebe, nos tornamos parceiros em 12 músicas. E embora a escrita da Manuela seja bastante original, ela usou referências ao que o meu pai escreveu no livro em algumas letras deste álbum. Então ainda é uma homenagem ao meu pai.
Em que período foram compostas as novas músicas?
No período de 2023 e 2024.
A tempo de lançar um single, por que você decidiu lançar um álbum com 12 faixas?
Porque, por vontade própria, continuo investindo na ideia de lançar álbuns em que as músicas contem uma história juntas e se relacionem. Mas respeito quem quer lançar um single ou outro, que é uma tendência forte hoje na indústria musical. Eu respeito isso, mas ainda prefiro o álbum.
Você ainda tem os Beatles como referência?
Sim claro! Este álbum, ao contrário dos anteriores, tem um toque Beatles. Tanto Manuela quanto eu somos dois Beatlemaníacos de gerações diferentes.
Com quantas e quais músicas você combina suas vozes?
Amor verdadeiro; e Manuela, letrista deste disco, participa da faixa Pouso da Manhã, que foi a primeira que compusemos. São três participações no total.
Você vai incluir músicas do Tobogã no roteiro da turnê que vem fazendo com Beto Guedes?
Sim, definitivamente! Em São Paulo, já toquei a música Tobogã, que acabava de ser lançada como faixa de trabalho. E no show que farei com o Beto Guedes em Brasília, dia 28, também estará no repertório. E quem sabe, talvez mais um do álbum, agora que já foi lançado na íntegra.
Como tem sido dividir o palco com um colega de geração?
Tem sido muito legal! Beto e eu nos conhecemos desde os 10 anos. Aos 12 anos formamos um “grupo”, The Beavers, que tocava covers dos Beatles nas matinês de BH. E quando o Milton me convidou para ir para o Rio, para gravar o disco Clube da Esquina (1972), já que tínhamos duas músicas chamadas Clube da Esquina, e ele tinha gravado minha primeira composição Para Lennon & McCartney, eu falei: “Olha Bituca, Eu irei se puder levar o Beto comigo”. E assim foi. Primeiro moramos juntos em uma casa na enseada do Mar Azul, em Piratininga, Niterói, onde compusemos diversas músicas para o Clube. E quando fomos ao Rio, gravar o álbum no estúdio Odeon, o Beto também foi conosco, pois conhecia todo o repertório que seria gravado. Dessa forma, Beto contribuiu enormemente para a criação do Clube da Esquina, no qual tocou em quase todas as faixas e cantou em duas.
Qual a importância de Milton Nascimento na sua decisão de se dedicar à música?
Milton e os Beatles foram fundamentais na minha decisão de ser compositor e também na minha decisão de seguir carreira como artista, que vai para a estrada, forma público, grava e lança seus discos. Foi ele quem gravou minhas primeiras composições e depois me levou ao Rio para formar o Clube da Esquina. O Bituca ainda teve que brigar com a gravadora para que ela concordasse que eu, um ilustre desconhecido, seria o coautor desse disco. Então o Bituca é mais que um mestre para mim. Bituca é meu irmão. E o resto é a história que conhecemos. Desde então pratico esse trabalho, aliás, continuo compondo, gravando e lançando discos, me apresentando em shows pelo país, até hoje, 50 anos depois do nosso Clube da Esquina.
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