Uma dupla formada por uma alemã e um americano em Nova York encontrou, no Brasil, a maior inspiração para conquistar ouvintes do mundo todo. Sofi Tukker, dupla de música eletrônica com 6,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, lançou este ano o álbum Bread, álbum cantado em inglês e português do Brasil que já conta com milhões de reproduções em serviços de streaming.
O projeto musical é formado pela cantora e guitarrista Sophie Hawley-Weld e pelo beatmaker e produtor Tucker Halpern. Desde o início, Sofi Tukker teve suas raízes no Brasil. A primeira grande música da dupla foi Drinkee, em 2016, adaptação de um poema do poeta carioca Chacal, que foi indicado ao Grammy de Melhor Canção Dance em 2017.
Assim, para chegar a Pão, terceiro trabalho de estúdio, o Brasil estava no caminho. Antes mesmo de começar a banda, Sophie conheceu Chacal. Ela morou no Brasil e teve aulas de português com ele. Desde então, colabora com o amigo artista, que escreveu a música Cafuné, do álbum atual. “Chacal é o nome por trás de todas as nossas brincadeiras com a língua brasileira”, diz o cantor ao Correio.
Para este álbum, a dupla eletrônica decidiu morar um tempo no Brasil, assim chegariam ao ponto de querer mesclar referências próprias com a cultura que admiram. “Nesse período trabalhamos com artistas, produtores e músicos brasileiros”, lembra Sophie, que acredita que a abordagem diferenciada da dupla começou nas relações pessoais e nas referências que desenvolveram. “Estamos sempre cercados de brasileiros, por isso a cultura brasileira acaba fazendo parte de quem somos e de nossas vidas”, acrescenta.
Portanto, os dois entendem que o lugar onde chegaram é feito de pedacinhos da jornada desenvolvida até aquele ponto. Dos jogos de palavras de Chacal, o amor pela música eletrônica, o gosto pelo jazz, o pé no pop e até a paixão pela complexidade de João Gilberto. “Temos um pouco de Brasil, um pouco de pop, um pouco de dança e ainda fazemos músicas. É uma mistura orgânica do que amamos”, reflete Sophie, que lembra que o criador da Bossa Nova mudou o jeito ela viu o mundo. “Lembro-me da primeira vez que ouvi João Gilberto e de ter ficado encantado com a forma como ele cantava. Não parecia nada que eu já tivesse ouvido antes.”
O resultado foi um álbum que classificaram como o melhor que já haviam feito na carreira até então. “Conseguimos criar uma dance music mais madura e distinta das demais músicas da cena. Esse álbum traz a sensação de que amadurecemos sonoramente”, explica Tucker. “Acho que esse é o melhor disco que já fizemos, não consigo parar de ouvi-lo e de gostar cada vez mais das músicas”, completa.
Os dois nunca se sentiram presos a falar a língua de qualquer público. “Nossa primeira música foi em português, bateu na Itália e na Turquia. Ou seja, ninguém falou a língua de ninguém nessa história”, brinca o produtor. “Percebemos que uma música boa é uma música boa. Se for chiclete, divertida, mexer com seus sentimentos e você gostar, vai querer ouvir”, afirma.
Dessa forma, a dupla eletrônica faz sucesso no mundo todo, subvertendo a regra de que, para ser global, precisa ser em inglês. “Não precisamos fazer músicas em inglês, não achamos que esse seja o caminho a seguir. É legal para nós podermos mostrar ao mundo que nem soa tão legal em inglês quanto em inglês. Português”, diz Tucker. “Para nós é legal, porque vamos para diversos países e vemos muita gente cantando com a gente sem nem saber do que estamos falando”, afirma.
Os músicos decidiram que iriam se comunicar através do sentimento e da festa. “A música é definitivamente uma linguagem. É uma linguagem universal. Podemos tocar música em qualquer lugar e as pessoas vão entender. Elas podem não entender a letra, mas definitivamente entendem o sentimento”, acredita Tucker. “Fico impressionado com o quanto as pessoas se preocupam em dançar, em comemorar com música. O motivo de estar sempre cercada de brasileiros tem a ver com o fato de compartilharmos esse mesmo amor por celebrar a vida”, acrescenta Sophie.
Sem o Brasil não haveria música
Foi ouvindo João Gilberto que Sophie encontrou uma motivação distinta na música que fazia: a portuguesa. Ela decidiu aprender o idioma e simplesmente mergulhou cada vez mais na cultura. “O país tem uma cultura linda e musical. Quando aprendi o idioma, percebi que conhecia apenas uma pequena parte dele. Ainda tenho muito a descobrir”, comenta o artista.
No entanto, o caminho oposto também é real. Ouvindo muita música brasileira, meu interesse pelo idioma aumentou. Mesmo fora do Brasil, Sophie faz questão de falar e aprender português. “Ainda hoje falo português, porque a música me atraiu para esse idioma”, afirma a cantora, que sonha poder conhecer mais lugares do Brasil por um motivo específico. “Tem muito Brasil que eu queria conhecer pessoalmente, seria legal ter essa oportunidade profissionalmente. Assim meu português também vai melhorar”, afirma.
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