Bonecos de vários países do mundo se reúnem em Taguatinga desta quarta-feira (22/5) até domingo (26/5). Eles são do Chile, França e México e estarão ao lado dos mamulengueiros brasileiros em um intercâmbio cultural gratuito e acessível. Mesmo falando línguas diferentes, todos se entendem através da linguagem universal dos “bonecos”. O Festival Internacional Bonecos do Mundo será realizado em Taguatinga e sua programação inclui oficinas de mamulengo, rodas de conversa sobre esse tipo de teatro e espetáculos diversos.
Diretamente do Chile, o show Os moletons de Federicode Roberto Oyarzun, inicia as apresentações internacionais, seguidas de um mergulho no teatro de bonecos francês, com o Atendente Margot, de La Malette. O grupo Sobrevento traz um toque paulista ao festival com a peça Benedito no pilão. Confira a programação completa no site Correspondência.
O idealizador do projeto e integrante do Mamulengo presepada, Chico Simões, viaja pelo Brasil com seus bonecos desde a década de 1980. O primeiro encontro internacional de teatro de bonecos aconteceu em 1995, revelando-se muito mais complicado do que o artista imaginava: “Há uns 10 anos pensei que era hora de um grande festival acontecer novamente. Brasília tem potencial cosmopolita para reunir pessoas de todo o mundo e de diversas origens, a cidade merece esse encontro. Foi um sucesso e já estamos na sétima edição.”
Inicialmente, Chico enfrentou dificuldades de comunicação com o Estado para colocar o projeto em concorrência com edital. Mesmo tendo que começar tudo do zero, todos os anos consolidou uma equipe de apoio com profissionais de diversas áreas para tornar o sonho realidade.
As políticas públicas estão sempre mudando e o projeto deve acompanhá-las para continuar atendendo ao edital. O diretor afirma que a realização dos shows em Taguatinga se baseia na necessidade de criar um evento de caráter regionalizado e descentralizado a partir do Plano Piloto. A burocracia de trazer talentos de países distantes muitas vezes não corresponde aos recursos disponíveis.
A cada ano o criador utiliza critérios diferentes para selecionar as apresentações artísticas da edição. A disponibilidade de artistas e os custos de viagem muitas vezes modificam a ideia original, mas Chico conhece marionetistas de todo o mundo através de suas aventuras globais. “Quero sempre levar ao público o melhor entendimento possível sobre o que está assistindo. Os espetáculos são levados para as escolas, então as apresentações também têm que se adaptar a qualquer espaço possível, fechado ou aberto”, afirma.
As bonecas traduzem a identidade cultural de um povo. As marionetas do festival são de origem milenar e transportam a memória das respetivas regiões, metamorfoseando-se culturalmente ao longo do tempo. Eles trazem a história dos povos nos shows e proporcionam a comunicação entre os países.
“O teatro de bonecos engloba atores, música, artes visuais e atuação. Tudo isso concentra a cultura de uma nação, por isso é reconhecido em vários países do mundo como patrimônio cultural. luta por ela é preservada e atualizada Ao mesmo tempo em que mantemos a estrutura interna, também a mesclamos com conteúdos atuais. Os bonecos também funcionam como veículo de comunicação na divulgação de notícias”, destaca Chico.
O intercâmbio cultural com países da América Latina e da Europa dialoga com a linguagem da arte, que é semelhante em todos os lugares. Chico ressalta que muitas vezes os artistas não falam a mesma língua, mas se comunicam por meio de “bonecos”: “Nos divertimos e trocamos visões de mundo, e o público tem a oportunidade de entrar em contato com pessoas de outras origens. Brasília é a capital da diversidade e trazer esses contrastes para a cidade só contribui para isso. Não aprendemos com aqueles que são iguais, mas sim com aqueles que são divergentes.”
Luciana Meireles participa do festival com o grupo de teatro de bonecos Casa Moringa como um atalho para a imaginação das pessoas. O charme do mamulengo, para ela, é a possibilidade de contato com o público e a improvisação fluida, em que busca contar histórias do ponto de vista feminino.
O serviço não visto fora do palco é o maior desafio do artista. Por não ser acompanhado, as pessoas não sabem o quanto dá trabalho. Envolve pesquisa, testes, produção, construção e a remuneração de tudo isso. O espetáculo de Casa Moringa É o resultado de quase oito anos de estudo.
O grupo Mamulengo Fuzuê também participa do projeto em um espetáculo típico e divertido com personagens arquetípicos. O titereiro Thiago Francisco conta que a performance aborda temas que vão desde o cotidiano até a desigualdade social, o medo e a morte. “Mas tudo isso com leveza, musicalidade e muita irreverência”, completa.
A apresentação de Thiago é a estreia de uma produção em colaboração com diversas pessoas. Foram realizadas oficinas de confecção de instrumentos, figurinos e manipulação com profissionais de suas respectivas áreas para uma performance envolvente e divertida.
*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco
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