A 22ª Festa Literária Internacional de Paraty chegou ao fim neste domingo, 13, com a sensação de um evento que parece estar em reconstrução. Se por um lado o clima de outubro não foi tão caótico quanto o da edição passada, que teve até apagão, por outro lado, a impressão foi que as ruas da cidade histórica da zona sul do Rio de Janeiro não estavam tão cheios como costumavam ser. eles estavam na festa.
Segundo a Flip, entre 27 e 30 mil pessoas compareceram à festa nesses cinco dias, número muito semelhante ao da edição anterior. A Flip acontecia tradicionalmente em julho, mês que facilitou a chegada de alunos e familiares devido às férias escolares.
Em 2022 e 2023, ocorreu em novembro, após dois anos online devido à pandemia. A organização afirmou que estuda realizar o evento de 2025 em agosto, mas depende que as negociações com os patrocinadores sejam concluídas até dezembro. Caso contrário, deverá ser realizado novamente em outubro.
Os amigos Yone Rodrigues, 69, e Terê Fátima, 68, frequentam a Flip há pelo menos oito anos e dizem que este é o ano mais vazio que já viram o evento. No entanto, eles acham que ele é mais democrático. “Eram pessoas mais elitistas. O espaço era mais para eles, só de olhar dava para perceber. Tinha pouca gente do Nordeste, negros, indígenas. Com o tempo isso foi diminuindo, mas o número de pessoas também. “
Quando se depararam com o relatório do EstadãoYone e Terê esperavam na fila por uma mesa na Casa de Cultura com roteiristas do Cem Anos de Solidão (obra de Gabriel García Márquez), que chega à Netflix em dezembro. Eles já haviam frequentado algumas mesas da programação oficial do Telão na Praça da Matriz e conferido parte da programação paralela oferecida. Aposentados e morando em São Paulo, dizem que o partido, embora tenha muitas cadeiras, hoje apresenta “maior variedade de temas de debate”.
Cronograma oficial
A Flip anunciou neste domingo que a curadora Ana Lima Cecílio voltará a comandar a programação em 2025. Sob sua organização, escritores e personalidades do mercado literário se reuniram para discutir livro, literatura e escrita, mas não só, com uma programação que também teve um olhar sobre questões contemporâneas que poderiam atrair o público além de quem estava falando. Ainda assim, mais uma vez, foi uma Flip sem grandes nomes internacionais.
As mesas mais lotadas foram a do francês Édouard Louis, autor de O fim do redemoinho e estrela principal da edição, e a conversa entre o brasileiro Jeferson Tenório (de O interior da pele) e o senegalês Mohamed Mbougar Sarr (autor de A memória mais recôndita dos homens).
Outros destaques foram a abertura de Luiz Antonio Simas com homenagem ao colunista e jornalista João do Rio, homenageado na edição, cujo trabalho e atenção à cidade permearam muitas das conversas, e a mesa com o escritor palestino Atef Abu Saif e a escritora gaúcha Julia Dantas, que discutiu a escrita como forma de sobrevivência em meio à tragédia.
Mas, com ingressos que custam até R$ 130, muitas mesas do Auditório da Matriz ficaram com cadeiras vazias. Com alguns convidados internacionais, a tradução simultânea enfrentou problemas em mais de uma ocasião. Noutros casos, as questões colocadas pelo mediador ou a utilização de linguagem demasiado académica tornaram o debate confuso e pouco acessível.
Um ponto positivo foi que, neste ano, quem viu as mesas de telão do lado de fora também pôde enviar perguntas para a mediação. Isso não significa que foram muitos, mas foi uma boa manobra da organização para fazer com que o público se sentisse mais próximo dos autores. No YouTube, onde as Mesas Flip são transmitidas ao vivo, a audiência vem crescendo: eram 53 mil pessoas no canal oficial do partido, ante 25 mil em 2023 e 18 mil em 2022.
Editores off-flip e independentes
Embora o preço da programação oficial dificultasse o acesso presencial aos autores, a programação paralela oferecia o oposto. Praticamente todos os autores que palestraram no Auditório da Matriz também estiveram em alguma das editoras, instituições parceiras e coletivos editoriais.
Outros nomes da literatura nacional que não estiveram nas mesas principais também apareceram no chamado Off-Flip, como Itamar Vieira Junior (de Torto Arado), Socorro Alcioli (de Oração para Desaparer) e Stênio Gardel (de A Palavra que Resta). Às vezes era preciso chegar cedo ou se espremer para conseguir um lugar, mas a oferta estava lá.
Do outro lado do rio, atravessando uma pequena ponte que vai do Centro Histórico ao Areal do Pontal, o clima de satisfação não era o mesmo. Como mostra o Estadão No início do evento, editoras independentes reclamaram de uma mudança feita pela organização na área a elas dedicada, num espaço que o evento batizou de Praça Aberta.
Ao contrário de outros anos, os editores posicionaram-se no final deste espaço. Foram os últimos da fila – depois do Auditório do Pontal, exposição, feira de economia criativa, expositores de artesanato e barracas de comida. No final do dia de sábado, dia 12, o Estadão Ele passou e o descontentamento continuou, com a certeza de que ir à festa causaria prejuízos.
Os livros mais vendidos da Flip
A Livraria da Travessa, livraria oficial da Flip, vendeu 15 mil exemplares no evento. O autor mais vendido foi João do Rio, homenageado da edição, com 839 unidades. Ocupa as duas primeiras posições no ranking de livros mais vendidos com edições diferentes de A alma encantadora das ruas. Luiz Antônio Simas, que abriu a matéria sobre João do Rio e é coautor da edição comentada do livro (José Olympio), também aparece na lista.
Outros destaques foram Édouard Louis, Geni Nuñez, Mohamed Mbougar Sarr, Ilaria Gaspari, Jeferson Tenório, Atef Abu Saif e Carla Madeira. O único não participante do evento que aparece na lista de autores mais vendidos é Han Kang, sul-coreano que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura na quinta-feira, dia 10.
Veja os títulos mais vendidos:
A alma encantadora das ruasJoão do Rio (edição da Antofágica)
A alma encantadora das ruasJoão do Rio (editado por José Olympio)
A memória mais recôndita dos homensMohamed Mbougar Sarr (Fósforo)
Eu quero estar acordado quando eu morrerAtef Abu Saif (Elefante)
Afetos DescolonizadoresGeni Nuñez (Paidós)
Feliz por agoraGeni Nuñez, (Planeta do Brasil)
Canção de amorTxai Suruí (Elo Editora)
O vegetarianoHan Kang (no entanto)
O interior da peleJeferson Tenório (Companhia das Letras)
Mudança: MétodoÉdouard Louis (no entanto)
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