“Agostina tem câncer!” — com esta frase, dita durante um programa de televisão, qualquer fã de Pedro Almodóvar lembra uma cena forte de Volver (2006). E é, a partir da mesma doença, que atinge Martha (Tilda Swinton), numa instância cervical, que a personagem de The Room Next Door começa a afastar-se da vida, recusando o promissor tratamento experimental em que se inscreveu. “Uma das coisas que este (novo) filme retrata é a autodeterminação, alguém que decide absolutamente tomar a sua vida, a sua existência e a sua morte nas próprias mãos”, já defendeu Swinton, a propósito do drama que, derivado de Sigrid Nunez (autor do romance sobre empatia O que você está enfrentando), rendeu a Almodóvar o Leão de Ouro no último Festival de Cinema de Veneza, após 18 minutos de aplausos, após a exibição do filme (sua estreia em inglês) naquele evento.
“Raramente vemos uma história sobre amizade feminina, e principalmente sobre amigas mais velhas. Não sei se existe outro cineasta no mundo que faria isso”, comentou, na época do festival, Julianne Moore, atriz do outro final da trama. No filme, ela interpreta Ingrid — recrutada para acompanhar Martha em sua decisão de acabar com sua vida dolorosa. “Cada um deve falar e reagir à sua maneira, deve ter a coragem de dizer basta ao negacionismo”, defendeu Almodóvar, perto da cerimónia de entrega de prémios, palco para, na 23.ª longa-metragem criada, defender a eutanásia “todos em todo o mundo”. Tema caro a Almodóvar, a maternidade desajustada de Julieta (2016) e Mães Paralelas (2021) reaparece aqui, com a figura de Michelle, filha afastada de Martha.
Trazendo à luz Os Vivos e os Mortos (filme de John Huston baseado na literatura de James Joyce), Almodóvar avança a dissolução da solidez do mundo e uma ação branda da natureza diante dos vivos e daqueles que habitam os cemitérios. Em tempos de reconsideração entre o ser humano e o meio ambiente, o cineasta expõe absurdos e calamidades, a partir da ação de Damian (John Turturro), dono da voz de palestras alarmistas que tratam da sobrevivência entre o neoliberalismo e o crescimento da ultradireita. Damian fez parte do passado comum dos amigos que, na Nova York dos anos 1980, viram tudo “acontecer à noite”.
Entre exaltação de leituras de Faulkner e Hemmingway (que, vale lembrar, era casado com Martha Gellhorn, jornalista que atuava em questões de guerra, assim como Martha no filme), os protagonistas do filme — com Ingrid imersa em referências cerebrais e dona de tendências emergentes carreira como autora de ficção — há muita discussão, entre amizade e fortalecimento de confiança, sobre a vida de personalidades como a pintora Dora Carrington e os escritores Lytton Strachey e Virginia Wolf. Depois da pandemia, dissecam uma certa perda de entusiasmo pelo material artístico que os movia. De vez em quando, transmitem a sensação de uma boa leitura, como Erotic Vagrancy, em que o autor Roger Lewis examina a turbulenta relação entre Elizabeth Taylor e Richard Burton.
Pouca presença masculina se faz sentir na trama em que, com filmagens em Madrid, Nova York e Nova Jersey, a dupla central — longe do contexto à la Bergman, em Persona — isola-se, num ambiente rural. A “livre decisão” pregada, em Almodóvar, pela visão de um personagem extremamente autodeterminado combina imagens fortes como a afronta à morte (diante de um incêndio) e a tentativa de incriminar uma testemunha de suicídio assistido. A relativização da “vitória”
ao cancro e a invulgar inclinação para um plácido autoextermínio, dão certamente origem ao debate que sempre colocou Almodóvar como um criador polémico que continua a impressionar visualmente como no raro (talvez pioneiro) uso de fade (pontuação entre uma cena e outro) na cor creme, a léguas do preto comum que domina esse efeito.
Com o vigor de uma trilogia
Muito mais do que um cara de pavio curto, o astro Tom Hardy protagoniza a franquia Venom com a pressão alterada pelo cerco que sofre: com a parceria com o simbionte que lhe fez companhia nos dois primeiros filmes, o astro do filme criou (e dirigido) por Kelly Marcel será perseguido, numa captura realizada por alienígenas.
Depois de brilhar no drama Vandals Club, Tom Hardy, que interpreta o protagonista Eddie Brock, muito provavelmente enfrentará o personagem Knull, na trama em que seu corpo é compartilhado com uma entidade de outro mundo. Duas cenas pós-créditos estão confirmadas para esta nova edição da série, estrelada por Rhys Ifans, Chiwetel Ejiofor e Juno Temple. Com filmes anteriores exibidos em 2018 e 2021 (este último com o subtítulo Tempo de Carnificina) a franquia, até o momento, gerou mais de US$ 1,3 bilhão em todo o mundo.
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