A morte do cineasta e documentarista Vladimir Carvalho continua repercutindo no cenário cultural. Vladimir faleceu nesta quinta-feira (24/10), aos 89 anos, em decorrência de complicações cardíacas, e deixou ao Brasil um legado de obras, alunos e amigos. Autor de filmes como O país de São Saruê, Velhos Compatriotas de Guerra e O homem da areiaVladimir fez filmes sobre o Brasil e suas idiossincrasias.
Amiga de longa data do cineasta, Ana Maria Lopes relata que poucos dias antes de morrer, Vladimir se entusiasmou com a Fundação Cine Memória, acervo de filmes com mais de 5 mil peças coletadas ao longo de décadas. O cineasta acompanhou de perto a limpeza do seu próprio patrimônio e descreveu sentir palpitações de felicidade no peito e ver uma luz no fim do túnel, pois havia recebido um sinal positivo do Instituto Histórico Nacional do Patrimônio Artístico para a criação de um cinemateca. A alegria, dizem alguns amigos, teria causado o ataque cardíaco de Vladimir.
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Ana Maria destaca o legado do cineasta ao cenário cinematográfico brasileiro com obras pioneiras na história de Brasília e do Brasil: “Ele conversa sobre assuntos de todas as gerações, da minha às dos meus netos. Ele criou o verdadeiro cinema, registrando mais de 50 anos de lutas brasileiras.” A forma como o cineasta retratou acontecimentos históricos e culturais é, sem dúvida, admirável para Ana Maria.
O amigo afirma que os temas muitas vezes delicados abordados nas obras de Vladimir sempre foram tratados com integridade, fruto do próprio caráter do cineasta. Ela destaca que as discussões políticas e sociais debatidas nos filmes continuam relevantes até os dias de hoje. “Vladimir era uma pessoa de opinião, sensível e focado na justiça social”, argumenta.
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Como professor e mentor de jovens cineastas, Ana Maria observou como Vladimir foi além do papel de educador para com seus alunos: “Ele era um amigo, um instrutor e uma referência para seus alunos. Ele não tinha apenas alunos, mas amigos que seguiram seus passos.” O amigo lembra que o professor deixou vários cineastas iniciantes órfãos e um país de luto. Membro da Academia Brasiliense de Letras, a entidade também perdeu um grande acadêmico.
Em reunião no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ana Maria esteve ao lado de Vladimir para discutir os cuidados com o acervo do Cine Memória, vulnerável ao mofo, principalmente no período de chuvas. O encontro bem-sucedido foi a última vez que o amigo viu o cineasta. “Ele queria ir para casa regar as plantas, porque disse que elas sempre gostavam de ser regadas no mesmo horário no final da tarde. De casa, ele foi para o hospital”, explica. A legião de amigos que Vladimir conquistou tinha esperança de que ele conseguiria concretizar o projeto.
Cineasta e professor da UnB, João Lanari comenta a morte de Vladimir: “Uma perda irreparável. Com Vladimir vai uma parte considerável da história do DF e do Brasil. Acima de tudo, há alguém que teve um amor incondicional pelo cinema e que deixou um legado extraordinário.” Cineasta, crítico e professor de cinema, Sérgio Moriconi também destaca a cena cinematográfica como um marco antes e depois da presença de Vladimir: “Ele teve enorme importância no desenvolvimento de políticas públicas de cinema para Brasília e para o Brasil. O choque de gerações é algo mais ou menos natural. Mas então há algo incrível. Vladimir nunca foi hostil às gerações mais jovens. Todos os cineastas da nova geração amam Vladimir.”
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Produtor de cinema Rock Brasil — a era de ouroMarcus Ligocki trabalhou ao lado de Vladimir e descreve a colaboração como uma oportunidade especial. “Um cara que vivia com muita curiosidade, interessado em tudo. Posso dizer que aprendi a conviver com isso. Aprendi a observar as coisas, a me importar com as pessoas e a buscar prestar serviço ao coletivo. É sempre incansável e produtivo, com uma energia fantástica: vibrante, impulsivo, contagiante. Ele foi generoso e deu oportunidades a todos”, disse ele.
O artista visual Galeno menciona que conversou recentemente com Vladimir em uma exposição, quando o cineasta lamentou que Brasília estivesse ficando vazia. “Não vi isso como um adeus, mas tomei isso como um sinal. E essas pessoas que têm luz própria são assim. Vladimir me pareceu um sonho através do cinema. Gostei muito de ver filmes, e ele é um dos cineastas com quem tive cumplicidade. E ele também saiu como um sonho, sem pedir licença. Mas ele deixou muitas boas lembranças. É uma perda enorme para Brasília e para o cinema brasileiro. Mas Brasília sempre lembrará de Vladimir Carvalho”, disse Galeno.
O poeta Nicolas Behr lamenta a perda e diz que é difícil aceitar a partida de uma geração. “Meu coração não cura. Vladimir representa a memória criativa e intelectual da cidade de Brasília. Ele foi o responsável por humanizar o modelo da capital e transformar a cidade em uma cidade orgânica, rebelde e instigante. Ele foi capaz de contar a história além do que é oficial e revelar o outro lado do desenvolvimento da nossa cidade. Ele dissociou a cidade da ideia de pessoas no poder para pessoas no poder e conseguiu, de forma provocativa, associar a nossa realidade à arte. , cultura e intuição.”
A atriz Adriana Mariz relembra a ajuda política que seu pai, o deputado Antônio Mariz, prestou a Vladimir durante as filmagens, quando ele era prefeito da cidade de Sousa, na Paraíba. “Meu pai o ajudou no financiamento e eles criaram uma amizade. Passei muito tempo com ele, ele era um visitante frequente da nossa casa. Ele era uma pessoa maravilhosa, muito humilde e sábio. Mesmo sendo um homem de grande nome, Vladimir era simples e meigo”, disse.
Com a colaboração de Arthur Monteiro, Luísa Mello, Mariana Reginato e Mark Vaz.
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