O mais prestigiado prêmio literário do Brasil, o Jabuti, selecionou dois escritores brasilienses para disputar as semifinais da categoria Melhor Romance Literário. Os romancistas André Cunha e Fabiane Guimarães concorrem com seus respectivos livros Quem fala? e como se ele fosse um monstro.
Embora distintas, ambas as publicações representam Brasília na mesma categoria. Os finalistas serão anunciados no dia 5 de novembro e os vencedores receberão o prêmio em cerimônia no dia 19 de novembro.
O Prêmio Jabuti é idealizado pela Câmara Brasileira do Livro desde 1959, homenagem que marca anualmente destaques nacionais no mercado editorial. Os três últimos vencedores da categoria foram publicados pela Companhia das Letras, sendo eles Ruy Castro em 2023, Micheliny Verunschk em 2022 e Jeferson Tenório em 2021.
Conheça um pouco sobre os autores brasilienses e seus respectivos livros concorrentes ao Jabuti: Escrita espontânea Na obra, André Cunha apresenta ao leitor a personagem Rebeca Witzack, uma jornalista de 30 anos descrita como complexa e disfarçada.
A protagonista está grávida de um homem ao mesmo tempo que está noiva de outro. André explora momentos de vulnerabilidade feminina quando a personagem se deixa registrar em situações íntimas e as imagens ficam expostas. “Ela se deixa filmar, depois diz que não sabia das filmagens.
Ela grava, sem autorização, áudios do rapaz que vazou as imagens íntimas, vende sua versão da história para uma emissora de TV e edita deliberadamente a fala do homem com o objetivo de prejudicá-lo.
Embora seja uma leitura leve, o livro aborda questões éticas relacionadas à veracidade, autenticidade e credibilidade”, explica o autor. André iniciou sua jornada literária ainda no ensino fundamental, quando foi convidado a escrever uma redação sobre sua própria vida. O então estudante inventou histórias malucas com um monte de mentiras. Quando André foi elogiado pela criatividade do professor, ele entendeu o quanto a escrita pode ser libertadora: “Desde então, vejo o ato de escrever como o equivalente a fazer algo meio delirante, a viajar.
Gosto de variar com os gêneros textuais, então resolvi fazer uma comédia romântica, algo mais leve, mas não menos literário.” Atualmente, André trabalha como professor, mas sempre foi fascinado pela área de produção textual, na qual colaborou com artigos, projetos culturais, blogs e imprensa. A primeira publicação do escritor foi o romance cômico A dízima Periódico, em 2014.
“Gosto de literatura provocativa, desafiadora, que deixa o leitor surpreso e intrigado”, comenta. As influências literárias de André são João Ubaldo Ribeiro e Philip Roth. O brasiliense gosta de frequentar bares, passear pelo Eixão e relaxar no parque de águas minerais, locais onde tem contato com a cultura regional: “Nos últimos tempos tenho conhecido mais autores do DF e, sem ser local, posso dizer com calma que temos aqui grandes escritores, a nível nacional, e sinto-me feliz por fazer parte deste grande grupo.” Sensibilidade feminina O romance de Fabiane Guimarães conta a história de Damiana, uma mulher que sai do campo em busca de uma vida melhor.
Ao chegar na cidade grande, ela se torna empregada doméstica de um casal rico. Apesar da pele da protagonista ser um pouco mais escura do que o casal desejava, eles a pedem em casamento. A obra explora temas como classe social, poder de escolha e autonomia feminina. Fabiane comenta: “Ao longo do livro ela é barriga de aluguel de diversas mulheres, mas não se apega a nenhum dos bebês. E ela está com a consciência tranquila quanto a isso, porque a maternidade nunca foi para ela; ela é apenas a mãe substituta.
”Aos sete anos, Fabiane iniciou sua jornada como escritora. Sua paixão imediata pela literatura levou a muitos livros escritos quando criança, profissão que ela sempre desejou. Por mais que se sentisse desanimada pela família, Fabiane se formou em jornalismo e não pretendia continuar escrevendo apenas por hobby: “Decidi abrir mão de tudo para me dedicar 100% à escrita. Ministro oficinas de redação e também trabalho com tradução e localização de textos.”
A literatura contemporânea é o que Fabiane mais gosta de consumir, produzida principalmente por mulheres. Socorro Acioli, Adriana Lisboa, Andréa del Fuego, Isabel Allende e Alice Munro são algumas referências literárias de Fabiane. “Admiro essas mulheres que escrevem sobre o nosso tempo”, comenta.
A escritora destaca a importância de premiações como essa, mas afirma não se sentir presa às expectativas de júris e críticos. Ao mesmo tempo, Fabiane espera que o prêmio impulsione o alcance do próximo, que será lançado no ano que vem.
“É uma alegria enorme ser indicado, claro, e esse reconhecimento vai impulsionar minha carreira. No próximo ano lançarei um novo livro, que será publicado pela Alfaguara. É um livro que se passa inteiramente em Brasília e aborda muito da crise climática. Acredito que ser semifinalista de Jabuti abrirá muitas portas para essa nova novela também”, completa.
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