Vindo de diferentes regiões e sempre à margem do cenário nacional das artes visuais, os 16 artistas de Indomináveis Presências propõem um exercício de deslocamento do olhar para um espaço em que as questões decoloniais e étnico-raciais são a base do pensamento. Exibida no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e com curadoria de Luana Kayodè e Cíntia Guedes, a exposição reúne 114 obras que tratam de temas como amor, família, maternidade, paternidade, casamento, ancestralidade, gênero e história da O próprio Brasil. . “A exposição começa com essa ideia de trazer as individualidades, a multiplicidade da nossa comunidade melanina. A curadoria começa com a eleição de artistas que trabalham com temas voltados para a pele melanina e temos essa variação de colorismo que, no Brasil, varia desde preto, até índio”, alerta Luana. “A camada extra que vem à tona é o corte LGBTQIA: todos os artistas pertencem a essa comunidade. São artistas que trazem esses temas, mas nós também trazemos esse lugar de brasilidade. É uma questão muito territorial de como esses corpos sobrevivem.”
Segundo o curador, o colorismo no Brasil ainda precisa ser estudado e discutido para amadurecer. Os brancos, ou não melaninados, como Luana gosta de dizer, são minoria no país e há uma variação enorme nos tons de pele. Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55,5% da população brasileira se declara negra ou parda. “A exposição fala sobre essas diferenças de tom de pele que provocam essa diferenciação de território para que possamos, de fato, nos posicionar e ser respeitados individualmente”, afirma Luana. Quando uma pessoa considerada não negra ou não indígena sai do território brasileiro e vai para outro lugar, lembra a artista, muitas vezes é vista e tratada como uma “pessoa melaninada”. “No Brasil tentam o tempo todo nos colocar em pacotes, perguntam se nos consideramos pretos, brancos, amarelos e dificilmente existe uma opção indígena. Isso deixa as coisas em um lugar muito superficial, estamos longe da alfabetização coletiva “, lamenta.
É uma união de universos e vozes que norteia a proposta de Presenças Indomáveis. São trabalhos como o da baiana Mayara Ferrão, que reflete sobre a felicidade dos casais femininos através da criação de imagens feitas com inteligência artificial, ou do também baiano Bernardo Conceição, que traz a série Pelo direito de amar no Brasil do jeito que eu quero, ou ainda o povo Panamby do Maranhão, com criações que remetem a rituais, e Gê Viana, que faz do cotidiano do povo Anapuru um tema para falar da história afroindígena. “A exposição é, antes de tudo, uma celebração contestatória. Não podemos deixar de lembrar que morrem corpos negros no Brasil, então há várias camadas para que essas pessoas estejam vivas aqui. 35 anos. A maioria dos nossos artistas tem menos de 30 anos”, explica o curador.
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