A prisão do ex-deputado Rubens Paiva por agentes da ditadura é o ponto de partida da história narrada por seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, no romance Eu ainda estou aquique foi transformado em filme pelas mãos do cineasta Walter Salles e se tornou um dos fenômenos do cinema mundial em 2024. E no centro dessa cena marcante, que desencadeia o martírio e a luta de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, está o ator Luiz Bertazzo. Ele dá vida a Schneider, o homem que representa o regime mais horrendo da história do Brasil no aclamado longa-metragem.
O artista sul-mato-grossense de 39 anos ganhou elogios pela atuação no filme, que representa o Brasil na briga por uma vaga no Oscar. “Sem dúvida foi a realização de um sonho estar no palco com Fernanda Torres e Selton Mello, sob direção de Walter Salles”, diz, ao CorrespondênciaBertazzo, que também lembra do momento em que ouviu do diretor que sua atuação era “capaz de alterar a temperatura do cenário”.
Brutalidade sofisticada
Fernanda Torres destacou o trabalho de Luiz Bertazzo durante coletiva de imprensa na Mostra SP. “Os agentes da ditadura não são tratados como brutos e estúpidos; pelo contrário, foram extremamente gentis dentro de casa. E você vê no Bertazzo, do jeito que ele fez, que ele é um cara sofisticado. brutalidade”, declarou a veterana, que tem sido vista como merecedora de uma indicação de Melhor Atriz no Oscar.
Bertazzo lembra que, para conquistar o papel, precisou passar por testes quase um ano antes das filmagens, e que optou por explorar o contraste entre gentileza e violência, inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva.
“Fui por esse caminho durante o teste e acho que foi um grande sucesso, pois acredito que a violência gráfica ou exagerada tende a alienar o espectador, quase como se transformasse a ditadura e seus agentes em um clichê ficcional, distante da realidade Quanto a Quanto mais próxima a violência estiver de nós, mais sutil ela pode ser. A orientação de Walter Salles para esse personagem foi justamente mostrar o quanto esses agentes poderiam ser nossos vizinhos ou se parecerem com alguém da nossa própria família. nossa própria família. perigo”, reflete.
Orgulho nacional
Luiz esteve na estreia mundial de Eu ainda estou aqui no Festival de Cinema de Veneza e descreveu a experiência como uma das mais comoventes de sua carreira. “Nos dias seguintes à sessão, senti uma coisa estranha, que nunca tinha sentido na vida, senti falta do filme”, conta, lembrando que também tem notado essa sensação nas postagens dos amigos.
Para ele, ver o filme em uma das maiores plataformas do cinema mundial foi um momento de grande orgulho nacional, principalmente por se tratar de uma obra que reflete a história passada e presente do Brasil. “O país continua assombrado por esse fantasma da ditadura, fruto da impunidade dos mesmos homens que assassinaram Rubens e o que eles representam. Este filme é importante para que nunca esqueçamos essas atrocidades”.
Esta não é a primeira vez que Bertazzo participa de um importante festival internacional. Em 2020 seu primeiro longa-metragem como roteirista Alice Júniorfoi selecionado para o Festival de Berlim. Em 2024, sua imagem também foi projetada no Festival de Cannes, no filme Bebêde Marcelo Caetano, que estreia em 9 de janeiro de 2025.
Flerte com o perigo
Em Bebêele mantém sua figura antagônica em um registro um pouco mais perverso, mas também muito elaborado. “Quando li o roteiro de BebêTerminei em lágrimas. Talvez seja a história de amor mais linda que já vi acontecendo em São Paulo, mesmo estando imersa em um universo de grande dureza e vulnerabilidade. Para interpretar Torres, um traficante do mundo LGBTQIAPN+, Marcelo e eu escolhemos o caminho da periculosidade lasciva, de ter sempre aquela sensação de libido e ameaça ao flertar com o perigo”, afirma.
Com cara de maldade própria de vilões de cinema, Bertazzo pode ser visto com um pouco mais de gentileza na série Notícias populares, Betinho: No fio da navalha e Cidade de Deus — A luta não para. No primeiro, produzido pelo Canal Brasil, o ator interpreta o jornalista Luna, dedicado à cobertura do movimento sindical e também colunista de cinema que só elogia o que gosta. Já em Betinhoo engenheiro e economista Carlos Afonso foi um grande amigo do protagonista e um nome essencial para a implementação da internet no Brasil. Na produção que dá continuidade ao filme de sucesso Cidade de Deuscuja segunda temporada está em produção, ele interpreta o editor-chefe que continua pressionando o Buscapé por furos na comunidade.
No horizonte, o ator poderá ser visto em novos projetos. Depois de rodar um longa-metragem em Belém, ainda mantido em sigilo no momento, Bertazzo interpreta seu primeiro protagonista da série Icebergda produtora Tem Dendê. Filmada em Salvador, a produção promete revelar uma cidade mais fria e profunda, como o título sugere. “Só agradeço por tudo”, finaliza.
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