A responsabilidade vem com o sucesso. O jovem Dionísio aprendeu isso na jornada que começou após o lançamento do Acorda Pedrinho, em 2022. A banda já contava com alguns singles que agradaram o público, mas se viu, da noite para o dia, como um dos grupos mais ouvidos do país. Agora, num novo momento, lançou, no dia 10 de maio, Ontem eu tinha certeza (hoje tenho mais certeza)o segundo álbum da carreira, revelando a capacidade dos integrantes de amadurecer sem necessariamente levar tudo a sério.
A banda formada por Bernardo “Belni” Pasquali (vocal), Gustavo “Gugo” Karam (vocal e baixo), Ber Hey (teclados) e os irmãos Gabriel “Mendão” Mendes (bateria) e Rafael “Fufa” Mendes (guitarra) acrescenta acumulou mais de 2,4 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Os maiores sucessos até o momento são Acorda Pedrinho, que acumula quase 200 milhões de reproduções em todas as plataformas, e o single Pontos de Exclamação, que já ultrapassa 100 milhões em streaming. Juntos fizeram shows pelo Brasil e pelo mundo. Apresentaram-se em festivais como Rock in Rio, tanto na edição carioca quanto na edição portuguesa; Primavera Sound e Rock The Mountain.
Tudo o que os jovens artistas conquistaram não aconteceu apenas no primeiro álbum. “Um dia estávamos fazendo o primeiro show da turnê; no dia seguinte estávamos no Domingo Legal, pois o convite chegou poucas horas antes do show. Poucos dias depois estávamos no Rio de Janeiro indo gravar Luciano Huck e ainda conhecemos Gilberto Gil”, lembra Belni. “Estamos apenas vivendo o desfile, às vezes parece que as coisas estão acontecendo diante dos nossos olhos”, comenta em entrevista ao Correspondência.
Portanto, o período em que encontraram a fama também foi um período de aprendizado. Afinal, o grupo de amigos estava navegando juntos em uma jornada desconhecida e intimidante. “Não tínhamos nenhuma orientação para fazer a primeira turnê, éramos apenas descobrir o que era legal fazer, o que nos sentíamos confortáveis e tentar sempre aproveitar a turnê”, explica o vocalista. “É como se você estivesse apanhando, mas olhando para o lado para rir do seu parceiro que está apanhando junto”, brinca.
Nessa jornada chega o momento de Ontem eu tinha certeza (hoje tenho mais), um álbum que não tem uma coesão previamente pensada, mas que se tornou um corpo orgânico de trabalho pela dedicação desses músicos que trabalharam em cada música . “Tivemos mais cuidado nesse álbum, enquanto no outro fechamos tudo em praticamente dois retiros, neste trabalhamos dias em cada música até conseguir o que queríamos”, lembra Fufa, que acredita que por isso o álbum parecia diferente. “Fomos criteriosos, mas continuamos na essência de não seguir caminho. Só porque algo deu certo no início não significa que vamos seguir isso e fazer disso o nosso guia”, explica ela.
“Gostemos ou não, estamos sempre buscando evoluir. Nesse quesito acho que evoluímos, pelo menos tecnicamente”, destaca o baterista Mendão. O álbum tem o apelo indie e pop que fez da banda um fenômeno, mas as possibilidades que as portas abertas do mundo da música deram tornaram as novas músicas mais experimentais. “Usamos a nosso favor os recursos que tínhamos à mão, tudo o que tínhamos à disposição para fazer as coisas que gostávamos, nunca tínhamos trazido e sempre quisemos”, afirma.
A ideia surgiu do fato de que o segundo álbum de uma banda depois de um grande sucesso na estreia pode ser assustador. “Sempre pensamos: ‘O primeiro disco foi bom, principalmente com Acorda Pedrinho e tudo mais, o que fazemos agora?’”, confidencia Mendão. Porém, a leveza que carregam os fez escapar dessa armadilha. “Sempre colocamos nossas conversas na mesa como uma ótima terapia. E se fosse como uma terapia, o segundo álbum seria o nosso monstro. Mas é melhor abraçar o monstro do que combatê-lo”, acrescenta o baterista.
Portanto, o tom é de brincadeira, mas o trabalho é de responsabilidade de um adulto. “Sempre acreditamos no nosso trabalho. O princípio de tudo sempre foi o que gostamos de ouvir, o que rimos e o que acreditamos que pode ser válido para outras pessoas também”, pontua Gugo. “No começo experimentamos menos, mas o tempo foi passando e encontramos mais truques para fazer diferente. Todos começaram a se soltar e a acreditar na própria loucura e decidimos começar mais essas lutas. No final o critério é o mesmo, ouvimos essas coisas, gostamos e resolvemos levar para o resto do público”, analisa o músico, que entende porque nem sempre parece que tudo é feito com seriedade. “Me peguei pensando: ‘estamos trabalhando seriamente em um som chamado Bagre’”, ri, referindo-se a uma música estranha que ocupava a faixa 6 do álbum.
Para eles, o processo foi importante para entender que ser adulto não significa ser sério o tempo todo. “Este é um amadurecimento natural. Precisamos respeitar o que estamos fazendo. Aproveitamos, nos divertimos e encaramos com leveza como fazíamos no início, mas sabemos das responsabilidades que temos para fazer a máquina funcionar”, afirma Belni. “Levamos tudo isso a sério, sem perder a piada. Gostamos de pegar uma piada e levá-la a sério”, acrescenta ela.
Amigos de bar
Durante a entrevista, realizada por videochamada com os cinco integrantes da banda na mesma sala, um de seus carros disparou o alarme e, em meio a uma resposta, iniciou-se uma discussão sobre de quem era o veículo, o que levou a tecladista Ber Ei. Ele imediatamente respondeu: “O que é isso, Escortão não tem alarme” e todos riram. Essa atmosfera é a melhor representação do que a banda é. Amigos que se conheceram no bar de um senhor chamado Dionísio no Alto da Glória, em Curitiba, e, despretensiosamente, chamaram a atenção do Brasil.
Mesmo com uma agenda lotada, com viagens pelo Brasil, programas de televisão e premiações, ainda é no Bar do Dionísio que eles se reúnem para pensar na vida. “É uma sensação engraçada”, diz Gugo. “É por isso que ainda moramos em Curitiba, porque gostamos de voltar e relembrar todas as nossas aventuras e viagens. Voltar, sentar no bar do Dionísio e perceber que tudo mudou, mas continua igual”, acrescenta Mendão.
Para eles, o lugar onde tudo começou é também o lugar onde lembram como é a vida além da agitação do show business. “Às vezes viajamos, fazemos muitas coisas, conhecemos muita gente e quando chegamos aqui os minutos parecem contar na velocidade certa”, acredita o vocalista da banda.
É como uma grande reunião de família nas lacunas deixadas pela turnê. “Está tudo bem família, fico pensando que perdemos recentemente dois grandes amigos nossos do bar, um deles era o Pedrinho”, lembra Ber Hey. “Gostamos muito de todo mundo, se não formos por duas semanas, mesmo que seja só para colocar todo mundo em dia, já parece que falta alguma coisa”, comenta.
Brasília e nova turnê
Nascidos no Paraná, os músicos foram abraçados em todo o Brasil. A capital criou um relacionamento especial com os músicos que já se apresentaram duas vezes em palcos de Brasília, visitaram a pizzaria Dom Bosco, na 107 Sul, e tomaram uma cerveja no bar Simpsons, na 307 Sul. A banda confirmou show na última sexta-feira no Toinha Brasil Show, dia 17 de agosto. “Vamos pedir às pessoas que comprem os ingressos para o dia anterior, para podermos comer aquele Dom Bosco”, diz Belni.
O amor por Brasília também fica marcado para sempre no disco com a faixa Sinto Dentro (demo), parceria com o grupo de pagode Menos é Mais. “Já os conhecíamos pessoalmente, mas só de nos encontrarmos em algum evento, ou no camarim, ou no aeroporto”, lembra o vocalista, que conta que foram enviados vários guias até dar certo. “Mas a ligação sempre foi boa e falamos: ‘temos que fazer uma música juntos’. Agora deu certo”, completa.
Para este reencontro com Brasília, o Jovem Dionísio promete um pouco de tudo para matar a saudade. “Vai ter baile de boy band de K-Pop, vai ter uniforme, sem uniforme, vai ter Fufa flip, se ele aprender a fazer a tempo, talvez tenha até uma semi-nudez de Ber Hey . É para chorar, para dançar, para cantar junto e para todos”, diz Belni.
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