O encerramento da Mostra Competitiva da 57ª Mostra de Cinema Brasileiro de Brasília, nesta sexta-feira (12/6), foi marcado pela exibição de produções do eixo Rio-São Paulo. O curto Dois Nilos (RJ), de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro, deu início à última noite de competição no Cine Brasília, seguido de E seu corpo é lindo (RJ), de Yuri Costa. Muito aguardado pelo público, o último filme da programação foi o longa A fúria (SP), de Ruy Guerra e Luciana Mazzotti.
Escolhido para abrir a obra no último dia da Mostra, o documentário Dois Nilos é um passeio pelas memórias do cineasta Afrânio Vital. “O filme é um passeio pela Cinelândia carioca com Afrânio Vital. É uma homenagem a ele, um diretor de cinema brasileiro, que não é tão lembrado como deveria”, explicou o diretor Samuel Lobo. “É uma homenagem ao Afrânio e a todos os fazedores da nossa história, uma carta de amor ao cinema nacional”, acrescentou o cineasta.
Samuel garantiu que estrear o filme na Mostra Competitiva do festival é “um sonho realizado”. “Há 10 anos fazemos curtas-metragens, então fazer com que esse filme em especial, que é uma apaixonante carta de amor ao cinema brasileiro, chegue pela primeira vez ao público no palco mais tradicional dos nossos festivais, que é o Festival de Brasília, é muito importante, porque lança filmes que se tornam grandes clássicos da história”, destacou. O diretor também comemorou a abertura da exibição do filme de Ruy Guerra: “um grande mestre”.
“Espero que o público embarque no nosso passeio e conheça um pouco mais do Afrânio, que é essa figura ímpar, diretor de muitos curtas e longas entre as décadas de 1960 e 1980 e que ainda é a memória viva do cinema brasileiro”, torceu.
Então chegou a hora do curto E seu corpo é lindo. Misto de terror, romance e musical, o filme se passa na década de 1970, em meio a festas negras nos subúrbios do Rio. Carlos conhece seu ex-namorado, Tony, acompanhado de outra pessoa, reacendendo mágoas inspiradas na soul music.
“Com este filme voltamos aos anos 1970, às festas soul do Black Rio, narrando a história de amor, ou desejo, de Carlos e Tony, que se apaixonam, se desapaixonam e sangram suas mágoas”, explicou o diretor Yuri Costa. “E com essa história falamos também da paixão pela música, pela música negra e brasileira, pelos filmes B, principalmente blaxploitation e terror”, completou o cineasta.
Para Yuri, participar do Festival de Cinema “sempre foi um sonho”. “É especial que a nossa participação seja com esse curta, que nos toca de tantas maneiras. É uma produção que vem de um lugar de muito carinho e afeto pelo nosso território, que é a periferia do Rio de Janeiro, mas também pelo cinema, principalmente por aqueles filmes que nem sempre recebem suas flores”, pontuou o carioca.
O thriller político A fúria encerrou a noite concluindo, depois de quase meio século, a trilogia do diretor Ruy Guerra, composta por Os rifles (1964) e A queda (1977). O filme conta a história de Mário, um homem que, após ser traído por Salatiel e Feijó, é morto durante a ditadura e sai das profundezas da terra em busca de vingança. É uma narrativa sobre a renovação de uma sociedade decadente, na qual as minorias desempenham um papel protagonista nas transformações sociais.
Luciana Mazzotti, codiretora do filme, destaca que o Festival de Brasília é o mais importante do Brasil. “É o que traz mais novidades do cinema brasileiro, nova linguagem e fala de questões populares, não uma questão comercial, mas filmes que falam do povo”, destacou.
Protagonista de A Fúria, Ricardo Blat substitui Nelson Xavier, ator que atuou nos dois primeiros filmes e morreu em 2017. Luciana comentou que era lamentável não ter o artista no filme, mas que Blat também foi muito importante para o filme. gravação do filme.
“Tivemos que mudar todo o roteiro, porque a primeira versão foi escrita para o Nelson. E, de fato, foi muito importante ter o Ricardo Blat, porque ele é um cara que foi aluno de atuação do próprio Nelson. Ele desempenhou o papel e foi muito respeitoso”, comentou o cineasta.
Clima
Principal nome da Mostra Competitiva Nacional, Ruy Guerra passeou pelo cinema e foi parado diversas vezes por admiradores e amigos. O cineasta, ao subir ao palco para apresentar o filme, foi aplaudido de pé pela lotada sessão. Ele aproveitou para agradecer ao público e à colega de trabalho, Luciana Mazzotti, pelo carinho.
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