Um bastão passado de mãe para filha: foi há 25 anos que Fernanda Montenegro qualificou, diante dos eleitores do Oscar, em português claro e claro, a única indicação entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para uma atriz brasileira —uma fato que poderia ser prorrogado, hoje às 10h30para Fernanda Torres, a pérola do ainda estou aqui.
O filme de Walter Salles (com chance de ser indicado a diretor) ainda concorre ao prêmio de melhor filme internacional e, ao chegar à categoria roteiro adaptado (vencedor do Festival de Veneza), talvez entre na lista de melhor filme do ano. Vencedora do Globo de Ouro de atriz, Fernanda Torres concorre ao Satellite Awards, após vencer (segundo lugar) no Los Angeles Critics Association e vencer a versão latina do Critics Choice.
O longa-metragem de Walter Salles tem carreira vencedora no Festival de Veneza, graças ao reconhecimento do roteiro de Heitor Lorega e Murilo Hauser, figurou na lista dos cinco filmes mais importantes do ano, do National Board of Review ( radicado em Nova York) e ganhou prêmios em Palm Springs, além de receber honras públicas no Festival Internacional de São Paulo, no Festival Internacional de Vancouver (Canadá) e no Festival de Cinema de Miami. Em sua carreira, também foi destaque pelo Goya (importante prêmio espanhol), Satellite Awards e pelo Bafta inglês.
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Com público superior a 3 milhões de pessoas no Brasil, o filme despertou a paixão e a campanha aberta (ao Oscar) da forte comunidade de internautas brasileiros. Baseada na experiência de Marcelo Rubens Paiva, juntamente com a dissolução da família, devido à ação da ditadura no Brasil, a longa história conta o destino da viúva virtual de Rubens Paiva, extirpada da família, devido à ação do governo militar. O papel de Eunice Paiva, mãe determinada de cinco filhos, é interpretado tanto por Fernanda Torres quanto por Fernanda Montenegro.
Quebrando barreiras
Depois da salada de idiomas promovida pela intérprete Sandra Hüller (indicada no ano passado por Anatomia de uma Queda), o Oscar pode ampliar o campo comum de reconhecimento do sueco e do italiano, há anos presente em atores como Roberto Benigni, Marcello Mastroianni, Liv Ullmann e Sofia Loren. Em francês, competiram 11 intérpretes.
O espanhol até encontrou boa visibilidade: Catalino Sandino Moreno competiu em 2004; Penélope Cruz, em duas ocasiões, além da seleção masculina, com Antonio Banderas, Javier Bardem e Benício Del Toro (ganhou o Oscar, por Trafffic). Em 2018, Roma lançou luz sobre as carreiras de Yalitza Aparicio e Marina de Tavira. A Portuguesa de Fernanda Montenegro (na Central do Brasil) colocou a primeira-dama do teatro ao lado da rara categoria da idosa tcheca Ida Kaminska, indicada em 1966, e também contra o preconceito de idade, aliou-a à coreana Yuh-Jung Youn, reconhecida (como coadjuvante ) em Minari.
Altamente avaliado
Em tom de brincadeira, Mikey Madison, estrela de Anora — um dos filmes mais cogitados para premiações importantes do Oscar 2025 — destacou na imprensa estrangeira que, dentro da família, ou parentes “enviarão mensagens de texto muito simpáticas (sobre o filme)”ou você simplesmente não vai ouvi-los”. A cúpula protetora é justificada até pelo tema sensível do filme: uma stripper (que abraça episódios radicais) vê uma chance de ascensão social, quando conhece um garoto bilionário e imprudente. Los O diretor do Angeles Times, Sean Baker, comentou sobre as escolhas: “A comédia é ampla; a tragédia está em close. Numa cena definitiva (da afronta machista à protagonista Ani), surge a visão ampla de tudo, e vemos o absurdo da argumentação de todos, percebendo que Ani está se contendo contra a galera.”
A sensação de ameaça, aos poucos, vai desaparecendo entre o público, que embarca numa comédia (agridoce) que persegue uma estética de uso limitado, com peso para os antigos 35 mm (em filme) e muitas cores em jogo. “Vivemos numa época em que a tecnologia, o encontro do analógico com o digital, abre muitas portas para os artistas. Hoje, temos ferramentas digitais para ajudar a limpar e aperfeiçoar imagens”, comentou Baker, indicado ao Oscar de direção, à importante revista Forbes.
Em entrevista organizada pela Interview Magazine, com a participação da ex-candidata ao Oscar por Elle, Isabelle Huppert, a estrela de Anora Mikey Madison explicou sua formação como stripper e acrobata de pole dance, bem como o persistente apelo sensual dos saltos altos. “Eu sabia desde o início que Ani é uma personagem que usa o corpo de uma forma muito específica porque faz parte do trabalho dela. Estudei muitos dançarinos e fui a boates e vi como eles usavam o corpo, porque para mim, eles nudez é como uma fantasia”, comentou.
tomada
Baker vem de uma carreira alternativa, com filmes menores como Tangerine (2015) e Uma Estranha Amizade (2012) dedicados à afirmação feminista. Depois de ver seu colega Willem Dafoe concorrer ao Oscar de ator coadjuvante em seu filme (The Florida Project, 2017), Sean ascendeu ao Festival de Cannes: ganhou a Palma de Ouro com Anora, três anos depois de concorrer com Red Rocket (no ano da vitória de Julia Ducournau, para Titane, em que a protagonista teve uma relação inusitada com um carro).
Vitorioso em Cannes em 2024, Sean Baker deixou para trás filmes de Coralie Fargeat (A Substância), Francis Ford Coppola, do francês Jacques Audiard (de Emilia Pérez), do indiano Payal Kapadia e dos consagrados Christophe Honoré e Yorgos Lanthimos, além do O brasileiro Karim Aïnouz (Motel Destino).
Candidato a ator coadjuvante, tanto no Spirit Independent Awards quanto no Globo de Ouro, o ator Yura Borisov interpreta Igor, em Anora. A repercussão da interpretação do ilustre capanga surpreendeu o ator, que disse ao The Wrap: “Eu absolutamente não sabia que isso iria acontecer enquanto estávamos filmando”. Yura esteve no thriller romântico Compartimento Nº 6, que, há três anos, concorreu ao Oscar de melhor filme internacional.
Segredos enterrados
Repleto de clima de intriga palaciana, um dos filmes mais esperados do ano — Conclave — chega hoje às telonas, com ampla certeza de estar entre os indicados ao Oscar. A expectativa, o constrangimento e a traição movem os passos de quem segue os rigores estabelecidos pelo cardeal Lawrence, personagem de Ralph Fiennes. A escolha de um novo Santo Padre demonstra que, sim, “o papado é um fardo pesado”.
Das exaltações de “homens bons” à queda de alguns candidatos ao cargo de papa, o espectador presencia racismo, pequenos e mesquinhos gestos e entra em contato com o termo simonia — a negociação de relíquias, cargos ou favores de natureza espiritual .
Alternam-se tensões e níveis de tolerância, na eleição feita “aos olhos de Deus”. No cenário do filme, os homens vestem vermelho e machismo, enquanto as mulheres adotam a resiliência, o azul e o branco. Os renomados John Lithgow, Stanley Tucci e Sergio Castellit se juntam ao expressivo Carlos Diehz, ator mexicano, e à estrela internacional Isabella Rossellini. Dirigido pelo alemão Edward Berger (Nothing New on the Front), o filme foi baseado no sucesso literário de Robert Harris. A expectativa é que o filme se destaque nas indicações ao Oscar, em breve. Roteiro adaptado, filme, direção e elenco devem aproveitar as indicações. (RD)
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