Após registrar recentemente participações em duas produções de época, o ator Vandré Silveira faz reflexões nas quais compara os conflitos históricos descritos em narrativas ficcionais com situações sociais e políticas atuais. Embora apenas uma das obras audiovisuais esteja no ar, ambas reproduzem momentos presentes em tramas ambientadas no passado.
Na série Reisque está exibindo sua 11ª temporada, chamada A divisão, na Record TV, Vandré interpreta Josafá, um dos governadores que questionam o rei Roboão, de Israel, sucessor de Salomão, e passa a apoiar o rei Jeroboão neste reino dividido em dois extremos. Para o ator, a polarização política é o ponto comum entre aquela época e hoje.
“A história é cíclica e só se repete. Acabamos caindo na mesma situação. Ainda estamos lutando com essa questão de figuras que teoricamente deveriam defender os interesses da população, melhorando a qualidade de vida, mas o que temos visto é uma favorecendo interesses privados”, disse ele Correspondência.
Segundo Vandré, é preciso mudar o sistema e não as pessoas. “As peças de xadrez mudam, mas o jogo permanece o mesmo há séculos. O político, para implementar o que acredita ser transformação, precisa ceder. Somos românticos, idealizamos muito a política — eu mesmo não entendo nada — e ficamos reféns”, avaliou.
Fé que mata
O ator de 43 anos —que também participou da novela bíblica Jesus (2018) e trabalhou em global Vá com fé (2023) — também comentou sobre o fator religioso que impulsiona essas questões geopolíticas, como o que ainda hoje se vê em Israel, na sangrenta guerra contra os palestinos. “Independentemente do que te mova na luta, quando você mata, você perde a razão. Nada justifica a violência. É um horror o que vemos ao longo desses séculos, essas crueldades da humanidade cometidas pelas interpretações religiosas”, argumentou.
A segunda obra gravada por Vandré Silveira é a novela Dona Beja, que está sendo revisitado para a plataforma de streaming Max. Na produção, que ainda não tem data de estreia, ele interpreta Moacir, um dos dragões mineiros. Vandré não pode revelar detalhes dessa narrativa, mas deixa em aberto a ligação emocional entre um soldado forte, valente e viril e a personagem transexual Severina, interpretada pelo ator Pedro Fasanaro.
“De modo geral, Beja retrata a hipocrisia da época em que viveu, escandalizando a sociedade de Araxá com seu temperamento transgressor, e isso se reflete em toda a história que será contada na TV e já foi vista em 1986, na Manchete” , observou o ator, que é mineiro de Belo Horizonte e conhece bem o conservadorismo do estado que é retratado na obra audiovisual.
Falta de empatia
Questionado sobre a homofobia, Vandré, que atualmente mora no Rio de Janeiro, destacou que está muito assustado com o que tem visto nas redes sociais e cita como exemplo a recente transição de gênero da personalidade midiática Maya Massafera.
“Já fiquei muito assustado com o nível de crueldade, com a falta de empatia. Antigamente havia vergonha ou até o mínimo de consciência humana. O primitivo sempre esteve presente, mas havia um filtro. Não sei se é a democratização da informação nas redes sociais, mas o ódio nos deixa horrorizados”, afirmou.
Homem do período
Embora eu tenha estado recentemente em Vá com fé e fiz O dono da peçaEm 2019, ambos na Globo, Vandré Silveira realizou três produções de época. “Adoro esse tipo de trabalho. O figurino, a prosódia… digo que me sinto em casa, porque sou meio antiga. Gosto de retratar épocas, mas, mesmo sendo uma obra que retrata o passado, também gostaria de contextualizar um pouco, para se comunicar melhor com o público atual”, finalizou o mineiro.
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