Não só a riqueza de material novo de Pixinguinha parece inesgotável, mas também a figura do compositor, instrumentista e arranjador, que continua a ser alvo de novas pesquisas e descobertas. E é o caso do livro Proezas de Pixinguinha (Ed. Terra), de José Silas Xavier, que será lançado amanhã, às 19h, em Beirute da Asa Sul (109 Sul). A obra abrange o período que vai do nascimento de Pixinguinha, em 23 de abril de 1897, até sua morte, em 17 de fevereiro de 1973, sábado de carnaval.
Os múltiplos talentos de Pixinguinha como instrumentista, compositor e arranjador são trazidos à tona. Além de autor de Carinhoso, Ingênuo e Rosa, fez arranjos para músicas carnavalescas de grande sucesso, como Alalaô, de Nássara, e O dervalho vai cair, de Noel Rosa. Os amigos tiveram grande importância na vida de Pixinguinha, e Silas dedica muito espaço a Irineu Almeida, João Pernambuco e Hermínio Belo de Carvalho. O livro tem mais de 700 páginas e traz a discografia completa de Pixinguinha.
E, nesta entrevista, José Silas fala sobre como se formou e se desenvolveu o músico que se tornou uma referência essencial na música e na cultura brasileira. Confira os principais trechos:
Que novidades traz esta biografia de Pixinguinha?
Esta biografia de Pixinguinha traz muitas informações novas. Está definitivamente estabelecido que Pixinguinha nasceu em 23 de abril e não em 4 de maio. Acontece que o pai de Pixinguinha o registrou no cartório poucos dias após seu nascimento. Há um pedaço de papel confirmando que seu nascimento foi de fato em 23 de abril. Os demais aspectos dizem respeito às principais gravações de Pixinguinha, em discos que não existem mais. Trago todos os LPs em que Pixinguinha participou. Além disso, conto histórias de pessoas que foram importantes na vida de Pixinguinha. São os casos de Irineu de Almeida ou João Pernambuco, por exemplo, duas figuras fundamentais da música brasileira.
Qual foi o impacto da amizade com Irineu de Almeida na vida e na carreira de Pixinguinha?
Irineu de Almeida tocava ofcleide, instrumento que mais tarde foi substituído pelo saxofone. Irineu era o mestre das contracanções, e isso pode ter influenciado muito Pixinguinha. Ele se tornou um grande mestre dos contracantos. Irineu foi um dos principais instrumentistas das bandas musicais e viveu momentos difíceis no Rio de Janeiro, com toda a classe de músicos, quando começaram a sentir a concorrência do cinematógrafo.
Que previsão Irineu Almeida fez sobre Pixinguinha?
Irineu Almeida fez a gloriosa previsão de que Pixinguinha seria um grande músico. Em 1911, levou Pixinguinha para ser flautista de uma sociedade carnavalesca, as Filhas da Jardineiras.
O que foi fundamental para Pixinguinha se tornar um músico tão virtuoso e original?
Pixinguinha foi versátil em todas as atividades que participou. Foi o mais importante intérprete de flauta do Brasil. Recebeu a homenagem de Mário de Andrade. Pixinguinha foi muito importante não só como flautista, mas também como regente da Orquestra RCA Victor, em 1929. Antes já havia produzido coisas maravilhosas com os Batutas e depois com os Oito Batutas. Depois, aparece com o grupo Demônios do Céu, que foi extremamente importante na consolidação dos gêneros musicais brasileiros. Pixinguinha fez arranjos maravilhosos. Infelizmente a bebida o afetou muito, ele bebeu rapidamente uma garrafa de cachaça. Ele teve muitos problemas por causa da bebida.
(foto: arquivo pessoal)
Qual a importância do jazz e da música folclórica na formação de Pixinguinha?
Como diz um de seus biógrafos, Pixinguinha assimilou muitas coisas e refletiu em sua música. O folclore, o jazz, principalmente, foi de fundamental importância. Quando Carinhoso foi lançado, um jornalista escreveu que Pixinguinha fornecia os elementos básicos da música popular brasileira.
Qual a relevância de Pixinguinha como arranjador?
Independentemente de suas composições, você pode perceber que Pixinguinha foi um grande arranjador de músicas carnavalescas. Todos os compositores importantes das décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950 o convidaram para fazer arranjos. Desde Noel Rosa, com quem conviveu muito tempo, até Nássara e muitos outros.
Você consegue se lembrar dos arranjos das músicas de carnaval?
Em 1940, Pixinguinha fez um arranjo para Alalaô, grande clássico carnavalesco composto por Nássara. Aliás, Nássara fez um comunicado dizendo que a música tinha outro compositor, cujo nome não apareceu e era Pixinguinha. É só para avaliar sua relevância como arranjador. Ele também fez o arranjo de The Dew Is Falling, de Noel Rosa, que foi um sucesso fantástico em 1903.
E como Pixinguinha se desenvolveu como instrumentista?
No início, ainda criança, Pixinguinha tocava flauta de bambu. Depois, seu pai viu que ele tinha habilidade e comprou para ele uma flauta italiana, que, segundo Pixinguinha, custava 600 mil réis, hoje custaria cerca de R$ 5 mil reais. Patápio Silva tocava esta flauta. Há gravações maravilhosas do Pixinguinha na flauta. Além das gravações, há arranjos desde o início de 1920. Consegui um catálogo da Casa Vieira Machado de 1919, que lista diversas músicas que Pixinguinha havia escrito quando tinha 22 anos. Desde Mario de Andrade, Pixinguinha é considerada uma das maravilhas da flauta brasileira. Até que, em 1942, abandonou a flauta por motivos pouco claros, existem várias versões. Um deles seria por causa da concorrência. Na RCA Victor e na Odeon, a partir de 1929, Pixinguinha registrou em disco seu talento para a flauta, que até hoje é elogiado.
E como Pixinguinha passou da flauta para o saxofone?
Pixinguinha começou a tocar cavaquinho por causa de seu professor, que era músico de banda. Afinal, ele se tornou um flautista da mais alta qualidade. Depois que foi para a França, encontrou big bands, músicos americanos tocando saxofone e implementou o instrumento no Brasil. Compôs Carinhoso em 1927, dois anos antes de sua primeira gravação em 1929.
Qual a relevância de Pixinguinha para a história do choro?
Não se sabe se foi mais importante como compositor ou como flautista. Deixou lindas peças, como Sentimento ingênuo, afetuoso e oculto Isso é rosa. Como compositor foi fundamental, fixou e segurou o choro. Talvez o choro tivesse desaparecido sem ele. Com aquelas composições memoráveis, mostrou a importância do choro que, hoje, no Brasil, é difundido em inúmeros clubes, tendo Brasília como modelo, sob a liderança essencial do Reco do Bandolim.
Pixinguinha continua sendo referência e fonte de inspiração para as novas gerações de músicos?
Para os flautistas e os choros, sim. Mas a música brasileira passou por uma grande mudança nos últimos anos. Os sertanejos dominam o mercado musical. Apesar disso, os clubes de choro estão espalhados por todo o país. E todos esses clubes de choro tocam todas as composições do Pixinguinha. Eu diria que essa onda vai passar e teremos mais uma vez a música brasileira de qualidade na vanguarda.
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