Dori Caymmi carrega parte da história da música brasileira. Além do nome, o cantor e compositor herdou o talento de um dos principais compositores brasileiros, Dorival Caymmi. Inspirado na carreira e na experiência com o pai, Dori lançou, aos 80 anos, Prosa e papo, álbum de músicas inéditas que homenageia lembranças de uma vida inteira com Dorival.
Hoje, a cantora apresenta músicas inéditas e releituras de sucessos do poeta popular, no Clube do Choro, às 20h30. Dori se lembra de ter se inspirado pela arte de seu pai pela primeira vez quando era criança.
“De imediato o que me influenciou artisticamente foram as canções de praia, as canções do mar, que tinham como tema o pescador, Iemanjá. Quando eu era muito jovem, essa foi a primeira coisa que realmente me tocou musicalmente”, diz ela.
“As músicas de praia são as que mais gosto. Aliás, estou até escrevendo uma versão deles para deixar para o futuro, para dar continuidade ao seu legado”, revela. A herança musical de Dorival foi o que guiou Dori em seu caminho artístico.
A inspiração, porém, para Papo e prosa foi a vida familiar privada. “Dentro de casa ele sempre foi engraçado, brincalhão. Ele falou coisas interessantes, que se materializaram nesse álbum”, relata.
Frases ditas diariamente pelo baiano foram o ponto de partida do álbum —uma delas, por exemplo: “Entre por onde você saiu e finja que nunca me viu”, resultou em Chato, com ajuda do parceiro musical Paulo César Pinheiro.
Outra faixa que nasceu de uma das expressões utilizadas por Dorival foi Prosa e papo, baseada na expressão “Carrapicho é mato, carrapato é bicho”. “O que resta dele são as lembranças da nossa convivência, da alegria que ele trazia para casa com suas brincadeiras.
Ele e minha mãe sempre foram muito engraçados em casa”, lembra o músico. A ideia de um álbum inspirado nessas lembranças surgiu quando Dori percebeu quantas vezes ele mencionava o pai em conversas com amigos.
“Acho que a idade faz essas coisas conosco. Estou com 80 anos e essas lembranças do passado começam a aparecer”, afirma o músico. “Desde que sejam lembranças positivas e lindas, eu as cito e brinco com meus amigos. Falo muitas frases dele, algumas publicáveis, outras mais ou menos”, brinca. Além do compositor Paulo César, Dori contou com a ajuda de outro parceiro musical do álbum — o baixista Jorge Helder, responsável pela produção da obra.
“Nunca tive produtor nos álbuns que fiz. Normalmente eu, sozinho, penso no álbum, trabalho no repertório por dois ou três meses, escrevo o arranjo e, baseado no meu violão, já penso qual instrumentação será necessária, tudo isso. Então nunca fui muito acostumado com produtor”, explica a cantora. Adaptar-se ao compartilhamento do trabalho, porém, não foi fácil.
“Nos meus discos sempre fui muito pessoal, por isso, nesta interação com o Jorge, que é um músico excecional, ele naturalmente deu ideias e fez observações que, em geral, me fizeram reagir mal. Com todo o respeito que tenho por ele, tive alguma resistência. Até pedi muitas desculpas a ele depois, porque ele é um grande amigo, alguém de quem gosto muito e um músico excepcional”, admite Dori.
“Eu não fui muito delicado em um determinado momento quando começaram a aparecer muitas ideias, muitas coisas misturadas às minhas ideias. Mas o que importa é que, além de músico, ele é um grande produtor e o trabalho final ficou muito legal”, elogia. “No final das contas, sou grato pelo trabalho dele”, acrescenta o músico.
Cidade Maravilhosa
Definido por Dori como “um álbum otimista”, Prosa e papo é também uma homenagem à cidade natal do músico, o Rio de Janeiro.
“Paulo César Pinheiro e eu sempre nos referimos ao Rio, tocado pela violência e por esse lado triste que tomou conta da cidade. Uma cidade onde vivemos desde crianças, que foi maravilhosa e que se tornou violenta, quase impossível”, detalha. Carioca, filho de Dorival Caymmi, atualmente mora na serra do Rio de Janeiro, na tentativa de fugir do caos da capital.
“Nossa visão do Rio sempre foi muito triste. Tem uma letra que Paulo César escreveu, de uma música chamada Saudade, que diz: ‘Toda vez que o Rio é maltratado, chora pelo Corcovado, chora pela Guanabara, é mais um pecado. Dói sofrer em silêncio, dói no coração do Redentor’”, cita.
“Desta vez eu disse ao Paulinho que tínhamos que fazer algo para enaltecer o Rio, porque é uma cidade muito bonita e importante. É a nossa cidade, temos que falar bem dela”, argumenta o músico. A partir da ideia, Paulo César compôs Um carioca vive morrendo de amor, parceria entre Dori e a banda MPB4. “Foi aí que tentamos realmente enaltecer as qualidades do Rio e deixar de lado essa parte triste.
Gostaria que o Rio fosse mais seguro, mas é sempre problemático. Isso me deixa muito triste, mas dessa vez tentamos ser otimistas”, garante a cantora. Após 63 anos de carreira, Dori pretende permanecer na ativa enquanto puder. “Não sei a quem agradeço por ainda ter minha memória e minha criatividade”, ri.
“Estou nos 80 no segundo tempo de um jogo que dura 90 minutos. Espero que haja uma prorrogação e que eu continue com a cabeça boa para continuar compondo e fazendo meu trabalho”, espera.
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